São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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TÊNIS

O herói e o reserva

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

É inevitável: confronto que define a Copa Davis tem sempre um herói. Não raro o herói começou a decisão no banco, pouco cotado, ou pelo menos um tanto longe dos holofotes.
O então pouco conhecido Nicolas Escude foi o herói no ano passado ao bater o número um do mundo, Lleyton Hewitt, e ganhar os pontos necessários para dar a "saladeira", como é conhecido o troféu da Copa Davis, à França.
Um ano antes, o jovem Juan Carlos Ferrero foi coroado "rei Juan Carlos" ao dar em casa, contra os fortes australianos, a saladeira para os súditos de Juan Carlos oficial, o monarca espanhol.
Mark Philippoussis, de um país que admirava Patrick Rafter e o próprio Hewitt, já foi carregado em triunfo; um jovem Pete Sampras, ainda não consagrado e com poucas entradas de calvície à época, já conquistou um título de Copa Davis em uma quadra de saibro pra lá de lenta. Até um Arnaud Boetsch virou herói nacional francês.
No fim de semana, a Copa Davis fez sua decisão com França e Rússia. E, nenhuma surpresa, a final elegeu, no quinto e último jogo do confronto, mais um jovem e novo herói.
(Na sexta-feira, Marat Safin venceu Paul-Henri Mathieu. Na sequência, Sebastien Grosjean derrotou Ievguêni Kafelnikov. No sábado, a dupla francesa colocou o país à frente; no domingo, Safin bateu Grosjean.)
Com a decisão empatada, cabia a Kafelnikov cumprir seu favoritismo, derrotar Mathieu, garantir a primeira saladeira para seu país e, herói, confirmar sua aposentadoria.
Quem entrou em quadra, porém, foi Mikhail Iouzhny. Que começou perdendo por 2 a 0 e, contra um tenista habilidoso e uma torcida fanática, virou, venceu após mais de quatro horas de jogo, selou o ponto decisivo e garantiu a saladeira aos russos.
O herói deste ano é bacana: tem meros 20 anos, é tímido, adorava Stefan Edberg quando criança e, na última vez em que a Rússia disputou um título, em 1995, era um simples garoto trabalhando como pegador de bola.
Em uma competição que, além dos heróis, coleciona estrelas brigando com compatriotas, sabotando times e ignorando a torcida, ganha brilho também o ausente no jogo decisivo, "Kalashnikov" Kafelnikov.
No primeiro jogo, 41 erros não-forçados e só 20 winners, 0 ace. No sábado, uma atuação pífia nas duplas, com a bola atirada em sua direção o tempo todo e a visível irritação de Safin, o seu parceiro.
Na noite de sábado, no hotel, a atitude louvável: Kafelnikov, 28 anos, cansado, em má fase, sem confiança, mas com o objetivo de sair campeão, "manda o ego para a Sibéria", como diria depois, e cede seu lugar a Iouzhny.
"Foi uma decisão difícil, mas tomada só pensando no melhor para o meu time. Às vezes é preciso colocar as ambições pessoais de lado. Estou orgulhoso do que fiz."
Ex-número um do mundo, dois Grand Slams, um ouro olímpico, US$ 22 milhões em prêmios. Em um circuito profissional em que sobra ego, ambições e mesquinharias, poucos tenistas fariam o que Kafelnikov fez.
Neste ano, o herói divide as manchetes com aquele que terminou no banco. No jornal "Kommersant", saiu assim: "Mikhail Iouzhny ganhou a Copa Davis por Ievguêni Kafelnikov".

Treino duro
Gustavo Kuerten e André Sá começaram a pré-temporada anteontem, em Camboriú, ao lado de Pedro Braga, Rodrigo Monte, Marcio Carlsson, Diego Toledo, Alexandre Bonatto e Bruno Rosa. Kuerten e Sá jogam em Auckland no início de janeiro e depois vão ao Aberto da Austrália, o primeiro Grand Slam da temporada.

Calendário definido
Fernando Meligeni e Flávio Saretta confirmaram que abrem a temporada em São Paulo, no challenger que começa em 30 de dezembro. Depois, atuam no Aberto da Austrália.

Jovens campeões
O Masters do Circuito Juvenil Banco do Brasil de Tênis definiu no fim de semana seus campeões: na categoria 12 anos, Rafael Camilo e Bruna Vieira; na 14 anos, Daniel Silva e Fernanda Hermenegildo; na categoria 16 anos, Gustavo Bertei e Bruna Paes.

E-mail reandaku@uol.com.br


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