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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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NATAÇÃO

Motivo de piadas na infância, Danilo Glasser integra a elite do Estado

Deficiente supera gozações para quebrar tabu em SP

Divulgação/Comitê Paraolímpico
Danilo Glasser, primeiro deficiente físico a nadar na elite em SP


GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A gozação dos amigos foi mais forte que a vontade de nadar. Cansado das piadas que escutava por causa da diferença no tamanho de suas pernas -a esquerda era 14 cm menor-, Danilo Blinda Glasser se afastou da piscinas.
Onze anos depois, em 1997, descobriu que poderia competir ao lado de portadores de problemas físicos. Voltou aos treinos, prosperou e ganhou títulos. Mas só agora conseguiu exorcizar os fantasmas que o atormentavam.
No último sábado, na piscina da Universidade Santa Cecília, em Santos, Glasser quebrou um longo tabu. Aos 26 anos, disputou o Paulista sênior e se tornou o primeiro deficiente a nadar ao lado de atletas olímpicos no Estadual -os torneios são organizados pela federação desde 1932.
Da baliza número seis, saltou para os 50 m livre. Na classificação, apareceu na 17ª e derradeira posição, com 27s03. E festejou.
"Antes de nadar, lembrei das brincadeiras que faziam comigo na infância e de todas as dificuldades que passei. Agora, provei do que os deficientes são capazes."
Glasser está em Mar del Plata, litoral da Argentina, onde se prepara para competir, a partir de sábado, no Parapan-Americano.
Sua cabeça, porém, está focada em outro evento, em outra façanha inédita que pretende lograr.
No dia 18, ele vai disputar o Brasileiro sênior, no Rio, novamente contra atletas olímpicos. Segundo a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, não há registros de atletas com deficiências semelhantes à de Glasser que tenham participado do evento.
Natural de Americana, interior de São Paulo, Glasser foi submetido a uma transfusão de sangue após o parto. Em uma das aplicações, a agulha da seringa afetou a cabeça do fêmur esquerdo e provocou uma infecção no local.
As medidas desiguais roubam-lhe preciosos segundos na piscina, mas o nadador chegou às competições de elite sem precisar de convites dos dirigentes.
Tanto para o Brasileiro como para o Paulista, Glasser alcançou o índice técnico exigido pelos organizadores -25s90. "Sei que não posso lutar por medalhas com os atletas olímpicos. Portanto, em 2004, o objetivo é chegar ao pódio na Paraolimpíada", disse.
Na verdade, chegar ao segundo pódio na competição. Em Sydney, na sua primeira participação, Glasser ficou com o bronze.
Seu principal adversário na modalidade é justamente a pessoa que mais o incentivou a invadir a seara dos competidores que não possuem deficiências.
Huot Benoit, recordista mundial paraolímpico dos 50 m livre (25s04), é habitué nos torneios de atletas olímpicos no Canadá, seu país. O brasileiro resolveu trilhar o mesmo caminho. Em Atenas, eles vão duelar pela designação de nadador mais rápido do planeta.
"Será uma prova bem disputada, mas, de certa forma, nós dois já somos vitoriosos."


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