São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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JUCA KFOURI

Incentivo ao esporte nacional


O Senado Federal está em vias de aprovar mais uma nova lei para inundar de dinheiro a festa dos cartolas


GRACILIANO RAMOS já dizia que a pernada é o grande esporte nacional. E é sem nenhuma alegria, até por saber que tem gente boa a favor, que aqui se descreverá por que a Lei de Incentivo ao Esporte, que está prestes a ser aprovada pelo Senado, não passa de mais um golpe, de mais uma rasteira da velha cartolagem que há décadas se encastelou no poder.
Não se discutirá aqui se o dinheiro arrecadado pelos inúmeros impostos que pagamos é bem ou mal aplicado, por ocioso.
Mas se procurará demonstrar que o quinhão que poderá ser desviado para a prática esportiva acabará nas mãos dos de sempre e será tão mal gasto como o proveniente da Lei Piva ou das estatais, dinheiro que irá para os "amadores" muito mais afeitos às mordomias do que ao desenvolvimento do esporte no país, que não lhes interessa.
Normalmente, para quem gosta de esporte, a lei teria mesmo que ser festejada.
Mas é incrível que quase ninguém se levante contra a falácia que foi aprovada na Câmara -para ser justo, com apenas uma voz discordante, a do deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).
Porque ao contrário do que disse o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, que a cada aprovação de mais dinheiro proclama a salvação da lavoura, o problema de nosso esporte não é de verba, é, antes de mais nada, de gestão e de transparência.
Pois não existe uma política para o esporte brasileiro e até hoje não se sabe que modelo seguir, o que queremos ser quando crescermos.
Ao mesmo tempo em que se reivindica por mais benesses do Estado, se exige que este permaneça afastado em nome da autonomia das entidades esportivas, verdadeira terra de ninguém e da impunidade generalizada.
Não é por falta do meu, do seu, do nosso pobre dinheirinho que o basquete brasileiro, por exemplo, se encontra na draga em que se encontra atualmente.
Basquete que, quase 50 anos atrás, com muito menos recursos, era bicampeão mundial.
Não foi por falta de dinheiro, também, que o tênis não soube se aproveitar da "onda Guga", quando milhares de jovens despertaram para sua prática. Foi por falta de competência e de vergonha na cara.
O que acontecerá não é difícil de prever. Os clubes de futebol, atores de escândalos sobre escândalos, imediatamente se verão novamente apaixonados pelos esportes olímpicos e tratarão de abocanhar a maior parte do butim.
Porque a Loteria Esportiva não bastou, os inúmeros Refis não bastaram, a Lei Piva não foi o bastante e a Timemania não será.
Estamos outra vez diante de uma formidável pernada, dessas de matar de estupor o grande, genial escritor alagoano.
Ele que em célebre relatório sobre sua gestão na prefeitura de Palmeira dos Índios, em 1928, escreveu que parte dos parcos recursos de sua administração foram literalmente enterrados no cemitério local: "No cemitério enterrei 189.000 - pagamento ao coveiro e conservação".
Melhor seria mesmo pagar coveiros do que aproveitadores.

MAIS ARGUMENTOS
E há mais. Há argumentos que demonstram pelo menos cinco falhas gritantes na lei.
Algo que pode ser lido em blogdojuca.blog.uol.com.br, em nota lá postada do GIFE -Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, organização que reúne os principais investidores sociais do país-, na madrugada do último sábado, enquanto aguardava a semifinal do Mundial com o nosso vôlei, brilhantemente bicampeão mundial.

blogdojuca@uol.com.br


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