São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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JOSÉ GERALDO COUTO

De Messi a Abramovich


Do show do Barcelona às lambanças da Fifa, futebol mostrou todas as suas caras


O FUTEBOL tem muitas faces, e algumas delas foram expostas ao mundo com rara nitidez ao longo da semana.
Começou segunda-feira com a cara mais bonita, a do encanto e da magia, na goleada do Barcelona sobre o Real Madrid. Foi uma das mais belas partidas que já vi, justificando todos os rótulos e clichês: banho, passeio, vareio, massacre, lavada, show.
O arrogante treinador do Real, José Mourinho, que se autointitula The Special, está atordoado até agora. Mais do que aplicar um "nó tático", o que o Barça fez foi desatar todos os nós e deixar o futebol fluir como dança, brincadeira, poesia.
Mas a alegria dos amantes da bola durou pouco. Nos dias seguintes, a cara mais feia do futebol começou a assomar.
Primeiro foi a informação, veiculada pela BBC, de que o presidente da CBF e do comitê organizador da Copa-14, Ricardo Teixeira, teria recebido propina no valor de US$ 9,5 milhões da falida empresa ISL entre 1992 e 1997. Assunto para a polícia, para a Justiça e para o incansável Juca Kfouri.
Depois veio a divulgação dos países escolhidos para sediar as Copas do Mundo de 2018 e 2022, Rússia e Qatar, respectivamente. A dupla escolha, como foi amplamente mostrado por este e por outros jornais, contrariou todos os critérios objetivos e sensatos, premiando o lobby e o marketing em detrimento da consistência das propostas.
Não deve ser casual que um dos arautos da candidatura russa seja o magnata Roman Abramovich, dono do Chelsea e morador da Inglaterra, acusado em seu país de desvio de bilhões de rublos em impostos e de graves irregularidades quando foi governador da província de Chukotka.
Para a Fifa e para as confederações de futebol pelo mundo afora, o único valor que parece contar é o do dinheiro. Deve ter sido isso o que pesou também na escolha do Qatar, país sem tradição no esporte e cuja população, se bobear, cabe inteira em Itaquera.
Com dinheiro a rodo, os catarenses (procurei no Houaiss) construirão lindos estádios, que depois ficarão entregues às areias do deserto, como monumentos à cupidez e à imbecilidade humanas.
Em meio a tudo isso, leio a pitoresca notícia de que o Santos vendeu 5% de Neymar a uma empresa de investimentos. Me pergunto a que fatia do rapaz corresponde isso: os dedos da mão direita? O rim esquerdo?
E pensar que a semana começou tão bem.

jgcouto@uol.com.br


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