São Paulo, segunda, 5 de janeiro de 1998.



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A proposta de Chico: Raí de quarto-zagueiro

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Coisas de poeta, diriam os pragmáticos de plantão.
Mas lá está na telinha o Chico Buarque, sentado num banco de praça de Paris, propondo ao Tostão, seu entrevistador, que se escale Raí de quarto-zagueiro, já que parece não haver mesmo um lugar para o craque do PSG/SP no meio-campo brasileiro.
Chico joga no meu time há muitos anos, desde quando cruzamos nossos caminhos, no compasso da música. Mas era a bola que pautava nossos papos. Traduzindo: Pelé nos encantava tanto quanto Noel, embora Chico tivesse predileção especial por Pagão e tentasse se desgrudar da imagem de herdeiro de Noel exaltando Ismael.
Não sei se contei esta historinha. Se contei, conto de novo.
Brasil e Hungria, pela Copa de 66. Éramos um grupo em torno do radinho rouco e fugidio que conseguimos montar na salinha do terceiro andar de um predinho antigo e dilacerado, onde funcionava a produção do Festival da Record, ao lado do teatro, ali na rua da Consolação, a uns cem metros do Bar das Putas, com o perdão da palavra.
No intervalo, trocamos, em bando, o radinho asmático pela hi-fi da casa do Chico, ali no Pacaembu. Uma casa grande, cercada de belo jardim, iluminado por um colar de globos brancos que percorriam o gramado com a graça que gostaríamos nossa bola rolasse pelos campos da Inglaterra. Mas que nada (isso não é Chico, é Jorge Ben): levávamos um passeio dos húngaros.
E Chico, cada vez mais mais calado, pálido, até que os húngaros decidiram a questão, com o terceiro gol. Chico levantou-se da cadeira e caminhou -diria quase flutuou- até o jardim. Parou e, de súbito, desferiu um petardo de direita na bola branca que se estilhaçou em cacos de vidro.
É, aquele time de 66 não dava samba mesmo.

Sávio estreou sábado no Real, que perdeu para o Betis. Entrou no final, sofreu duas faltas e mal tocou na bola. Sei não, mas desconfio que o Real fez um péssimo negócio ao trocá-lo por Zé Roberto e ainda de quebra o Rodrigo por um ano.

Na abertura da Taça São Paulo de Juniores, dois jogadores me chamaram a atenção: o meia Edu, do Corinthians, e o ponta Ariel, do Santos. Pra variar, dois canhotos.

Se o tricolor espera colher algum craque entre os meninos que ontem empataram com o Lousano Paulista, na estréia da Taça São Paulo, pode ir tirando o cavalinho da chuva. A não ser que a filial de São Roque tenha algum em estoque.

Técnico de futebol é mesmo uma espécie indecifrável. O da Roma, que ontem perdeu no Italiano para o Udinese, em casa, por exemplo.
Durante todo o primeiro tempo, Cafu e Paulo Sérgio, pela direita, infernizaram a vida do adversário. No segundo, ele sacou Paulo Sérgio.
Em contrapartida, seu meio-campo é de uma indigência alvar. O distinto, porém, prefere manter Vágner no banco e só colocá-lo em campo no finzinho dos jogos que seu time está perdendo.
Dá pra entender?


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas



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