São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2008

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ponto morto

Dacar se curva ao terror e cancela rali

Ameaça de grupo ligado à Al Qaeda faz organização desistir de evento, que teria sua 30ª largada hoje, e surpreende pilotos

É a primeira vez que um evento esportivo cede a ameaças de ataques terroristas, que já haviam ocorrido em anos anteriores


FABIO GRIJÓ
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ameaças de atentados terroristas cancelaram ontem o mais badalado rali do mundo. É a primeira vez que um grande evento esportivo internacional cedeu ao medo de ataques.
O Rali Dacar teria hoje sua 30ª largada, de Lisboa, com 570 equipes. O trecho mais longo da prova seria percorrido em nove dias pela Mauritânia, motivo principal do cancelamento.
Na véspera do Natal, quatro turistas franceses foram assassinados no país. Após o caso, o governo francês pressionou a organização com a informação, citada pela agência France Presse, de que grupos ligados à Al Qaeda planejavam atacar cidadãos do país na competição.
Apesar de o governo da Mauritânia dar garantia de segurança às cerca de 3.000 pessoas envolvidas no evento, a Amaury Sport Organisation, empresa francesa que organiza a prova, decidiu acatar os alertas.
Muitos pilotos receberam a notícia quando já haviam passado pela vistoria técnica dos veículos, ontem. Outros aguardavam na fila pela inspeção.
"Tenho medo de que isso abra precedente, de que os terroristas comecem a usar o esporte como trampolim para a mídia", disse Klever Kolberg, que disputou 20 edições do rali.
Grandes competições já foram alvo de atentados. Na Olimpíada de Munique-1972, 11 israelenses foram mortos em ação do grupo palestino Setembro Negro. Em Atlanta-1996, uma bomba matou duas pessoas e feriu 111 -segundo a investigação, por trás do atentado não havia grupo armado.
Desde o 11 de Setembro, o terrorismo é preocupação vital em eventos. A China prepara plano especial de segurança para sua Olimpíada, em agosto.
"Quando o sinistro nome da Al Qaeda é dito, você não pergunta detalhes. Foi suficiente ouvir meu governo dizer que o nível de perigo era máximo", afirmou Patrice Clerc, presidente da organizadora do rali.
A ameaça ao Dacar teria sido feita pelo Al Qaeda do Magreb Islâmico, antigo Grupo Salafista para a Pregação e o Combate. É a mesma organização que, em 2006, era suspeita de planejar atacar franceses no rali.
Os episódios, porém, guardam ao menos duas diferenças: ainda não havia vítimas e a França não era dirigida por Nicolas Sarkozy, que endureceu de forma significativa a posição do país em relação ao terror. Ontem, seu governo classificou o cancelamento como sábio.
Países africanos que estavam na rota do Dacar, porém, não ficaram satisfeitos. A principal preocupação de nações como Mauritânia e Senegal é o abalo do turismo. O Dacar aumentava a renda do setor hoteleiro, das empresas e dos artesãos. Mais: mostrava ao mundo suas imagens, que agora ficarão marcadas pelo terrorismo.
Os senegaleses estimam perda de cerca de US$ 3,5 milhões.
Os organizadores do rali e os corredores também terão prejuízo. Serão devolvidos mais de US$ 10 milhões só em inscrições. O seguro da prova deve arcar com parte dos gastos.


Com agências internacionais


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