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ponto morto
Dacar se curva ao terror e cancela rali
Ameaça de grupo ligado à Al Qaeda faz organização desistir de evento, que teria sua 30ª largada hoje, e surpreende pilotos
É a primeira vez que um evento esportivo cede a ameaças de ataques terroristas, que já haviam ocorrido em anos anteriores
FABIO GRIJÓ
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ameaças de atentados terroristas cancelaram ontem o
mais badalado rali do mundo. É
a primeira vez que um grande
evento esportivo internacional
cedeu ao medo de ataques.
O Rali Dacar teria hoje sua
30ª largada, de Lisboa, com 570
equipes. O trecho mais longo da
prova seria percorrido em nove
dias pela Mauritânia, motivo
principal do cancelamento.
Na véspera do Natal, quatro
turistas franceses foram assassinados no país. Após o caso, o
governo francês pressionou a
organização com a informação,
citada pela agência France
Presse, de que grupos ligados à
Al Qaeda planejavam atacar cidadãos do país na competição.
Apesar de o governo da Mauritânia dar garantia de segurança às cerca de 3.000 pessoas envolvidas no evento, a Amaury
Sport Organisation, empresa
francesa que organiza a prova,
decidiu acatar os alertas.
Muitos pilotos receberam a
notícia quando já haviam passado pela vistoria técnica dos
veículos, ontem. Outros aguardavam na fila pela inspeção.
"Tenho medo de que isso
abra precedente, de que os terroristas comecem a usar o esporte como trampolim para a
mídia", disse Klever Kolberg,
que disputou 20 edições do rali.
Grandes competições já foram alvo de atentados. Na
Olimpíada de Munique-1972,
11 israelenses foram mortos em
ação do grupo palestino Setembro Negro. Em Atlanta-1996,
uma bomba matou duas pessoas e feriu 111 -segundo a investigação, por trás do atentado
não havia grupo armado.
Desde o 11 de Setembro, o
terrorismo é preocupação vital
em eventos. A China prepara
plano especial de segurança para sua Olimpíada, em agosto.
"Quando o sinistro nome da
Al Qaeda é dito, você não pergunta detalhes. Foi suficiente
ouvir meu governo dizer que o
nível de perigo era máximo",
afirmou Patrice Clerc, presidente da organizadora do rali.
A ameaça ao Dacar teria sido
feita pelo Al Qaeda do Magreb
Islâmico, antigo Grupo Salafista para a Pregação e o Combate.
É a mesma organização que, em
2006, era suspeita de planejar
atacar franceses no rali.
Os episódios, porém, guardam ao menos duas diferenças:
ainda não havia vítimas e a
França não era dirigida por Nicolas Sarkozy, que endureceu
de forma significativa a posição
do país em relação ao terror.
Ontem, seu governo classificou
o cancelamento como sábio.
Países africanos que estavam
na rota do Dacar, porém, não ficaram satisfeitos. A principal
preocupação de nações como
Mauritânia e Senegal é o abalo
do turismo. O Dacar aumentava a renda do setor hoteleiro,
das empresas e dos artesãos.
Mais: mostrava ao mundo suas
imagens, que agora ficarão
marcadas pelo terrorismo.
Os senegaleses estimam perda de cerca de US$ 3,5 milhões.
Os organizadores do rali e os
corredores também terão prejuízo. Serão devolvidos mais de
US$ 10 milhões só em inscrições. O seguro da prova deve
arcar com parte dos gastos.
Com agências internacionais
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