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FUTEBOL
Inatingível
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Menos de 20 mil pessoas estiveram no Morumbi para
ver o jogão Palmeiras x Santos.
Tivesse acontecido no Campeonato Brasileiro, diriam que a culpa é dos pontos corridos...
As pessoas se afastam dos estádios por vários motivos: medo da
violência (que é ainda maior que
a violência real), desilusão com o
futebol em geral ou com seu time
em particular, falta de tempo, de
conforto ou de dinheiro.
O último item está em evidência
com os R$ 20,00 cobrados pelo ingresso mais barato no Paulista. O
cidadão pode não ter medo da
multidão, acompanhar os programas esportivos, botar a maior
fé em seu time e encarar a chuva
na "bancada" sem problemas,
mas simplesmente não ter 20
mangos (mais a condução) para
ver o jogo de perto. Pouco importa para ele que famílias, estudantes e maiores de 60 anos paguem
menos -ele continua sem condições de bancar o seu ingresso.
Os clubes parecem não se importar. O pay-per-view vendeu
bem no ano passado... Eles esquecem que o vínculo que se estabelece no estádio é muito mais forte; o
torcedor de sofá assiste à televisão
na sala enquanto o filho mais novo vê outro canal no quarto, ou
joga videogame. Juntos na arquibancada, eles compartilham
emoções boas e ruins, se identificam com a massa, gritam até perder a voz, abraçam quem nem conhecem. Na saída, se o resultado
for bom, vão querer comprar uma
faixa, um boné, uma bandeirinha. Ou uma camisa pirata, já
que a oficial custa meio salário
mínimo. Pela TV, comemoram
com o controle remoto...
No Rio de Janeiro, quase 60 mil
estiveram no Maracanã para o
espetacular Fla x Flu. De acordo
com o borderô divulgado pelo
Flamengo, só as arquibancadas
verdes e amarelas, vendidas a R$
10,00, receberam juntas 31.976
pagantes. O estádio oferecia ainda gerais a R$ 3,00 (3.058 ingressos vendidos), cadeiras comuns a
R$ 5,00 (12.627 vendidas) e, no
outro extremo, cadeiras especiais
a R$ 50,00. Tem para todo mundo. E o mítico Maraca, um pouco
como a praia, ainda pode receber
o torcedor de riso escancaradamente desdentado (ai, Brasil) e o
bacana endinheirado. Eles podem não pisar na mesma areia,
mas naquele horário tiveram o
mesmo destino e viveram as mesmas emoções. Melhor que nada...
O espetáculo é outro com a presença de tanta gente -são 2.700
torcedores para cada jogador em
campo, já pensou? É impossível
saber, mas lícito especular, se o jogo teria sido o mesmo com as arquibancadas vazias.
A diferença gritante de público
nos dois clássicos suscitou a discussão sobre o charme do futebol
carioca versus a falta de graça do
futebol paulista. Como comparar? Para o torcedor, o clássico do
seu time é mais emocionante que
qualquer outro. Mas o Flamengo
tem mais torcedores no Brasil todo, e nesse ponto, a TV e o rádio
fizeram a diferença. Mas o inatingível pela distância provoca uma
paixão diferente daquela que é
tornada inatingível por decisão
dos cartolas. Por favor, barateiem
os ingressos.
A parte que cabe
Os clubes pagam seguro do público, despesas com o quadro
móvel, arbitragem, INSS, taxa
da Suderj, confecção dos ingressos, manutenção das roletas e deixam 5% da renda bruta
com a federação. Quando eu
crescer, quero ser federação.
A parte que cabe?
Aliás, o Estatuto do Torcedor
diz que "a remuneração do árbitro e de seus auxiliares será de
responsabilidade da entidade
de administração do desporto
ou da liga organizadora do
evento esportivo". A federação
vai reembolsar os clubes?
Enigmas
Mancini deve estar se perguntando -o que falta fazer para
ser convocado como reserva na
seleção brasileira?
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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