São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ ROBERTO TORERO

Copo meio vazio


Sobre o sobe-e-desce do futebol nacional, há prós e contras, mas, olhando nossos dirigentes, vejo só uma saída

UM DIA DA CAÇA , outro do caçador. Um dia é de glória, o outro é de perdedor.
O futebol brasileiro é uma montanha-russa: num ano o time é campeão de seu estado, no ano seguinte está num estado lastimável.
Vejamos, por exemplo, o simpático Paranavaí, que, aos 61 anos de idade, venceu pela primeira vez o Campeonato Paranaense. Depois de uma final heróica em ida e volta, quando derrotou o Paraná em casa por 1 a 0 e empatou em 0 a 0 na casa do adversário, hoje o time está num modestíssimo 13º lugar. E, dos jogadores da heróica final do ano passado, nenhum estava em campo na derrota do último domingo para o Coritiba. Nem o técnico.
Em Minas, o atual campeão Atlético começou perdendo para o Democrata de Sete Lagoas e atualmente está na sétima colocação. É bem verdade que o campeonato ainda está no começo, mas, de qualquer forma, hoje o time estaria fora da próxima fase.
Outro Atlético, o Goianiense, no ano passado coroou uma trajetória de recuperação com o título estadual. O clube estava na segunda divisão em 2005, disputou a final da primeira em 2006 e foi campeão em 2007. Mas hoje está em quarto lugar num grupo de seis times. E apenas os dois melhores passam à fase seguinte. Uma queda e tanto. Em Santa Catarina, o verde Chapecoense, que foi campeão em 2007 em cima do Criciúma, agora, depois de seis rodadas, está apenas em sexto lugar. Como só o campeão deste primeiro turno se garante na final, parece que o bi está bem longe.
No Nordeste, três times caíram das alturas e foram parar nos quintos. O Coruripe, de Alagoas, que tinha uma história curta, mas vitoriosa (foi fundado em 2003 e é o atual bicampeão do Estado), está em quinto lugar em seu grupo de cinco times. O América, de Sergipe, depois de quebrar um jejum de 41 anos, e o Nacional, da Paraíba, depois de impedir o tri do Treze, estão em quinto lugar nos seus Estados (em ambos há dez participantes e só quatro passam para a próxima fase). E, por fim, em São Paulo, um caso grave. O Santos, bicampeão em 2007, está longe dos primeiros lugares. Pior: está na zona de rebaixamento, em 18º. O time perdeu atletas, o técnico foi para outras pastagens, o dinheiro da venda dos campeões de 2002 acabou e há brigas internas. Cenário nada animador.
Já do outro lado do Atlântico, a coisa é bem diferente. Nos quatro principais campeonatos latinos, Porto, Internazionale, Lyon e Real Madrid caminham para o bi.
Como disse ontem a Soninha, há os que vêem o copo meio cheio e os que vêem o copo meio vazio. Os da primeira turma podem dizer que esse sobe-e-desce é sinal do dinamismo do futebol brasileiro, onde craques surgem a toda hora e as equipes estão em constante modificação.
Por outro lado, os que vêem o copo meio vazio podem dizer que a inconstância é fruto de falta de planejamento e do nosso capitalismo ludopédico tacanho, que tenta vender seus atletas por qualquer trocado, alguns ainda sem barba por fazer.
Entre os que vêem o copo meio cheio e meio vazio, confesso que fico com os segundos. E, olhando nossos dirigentes, acho que a saída é beber o que há no copo.

torero@uol.com.br


Texto Anterior: Futebol: França usa vermelho contra Espanha
Próximo Texto: Leão chia contra opção latina para a crise do Santos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.