São Paulo, sábado, 05 de fevereiro de 2011

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JOSÉ GERALDO COUTO

O recado dos muros


O que a humilhação de Ronaldo tem a ver com a festa de Ronaldinho? Quase tudo


NO CORINTHIANS tudo é grande, intenso, retumbante. Inclusive os fracassos.
O de quarta-feira na Colômbia, diante do inexpressivo Tolima, só é comparável à derrota do Internacional para o Mazembe, do Congo, no Mundial de Clubes de 2010.
Para quem consegue deixar de lado por um momento a paixão clubística, há um lado bonito no desastre de Ibagué: o futebol é talvez o único esporte do mundo em que uma desigualdade tão flagrante entre duas equipes não determina de antemão o resultado de seu confronto.
O Corinthians, com seus astros internacionais, seus salários nababescos, seu marketing reluzente, perdeu de modo cabal e incontestável para o obscuro Tolima, cujos jogadores não ganham em um ano o que Ronaldo ganha numa semana.
"O Corinthians de Andres Sanchez é um sucesso de marketing e um fracasso futebolístico", escreveu Juca Kfouri de forma lapidar. A questão é: até quando se pode levar adiante uma campanha publicitária se o "produto" divulgado se mostra ruim? Em outras palavras: será que o valor propagandístico de Ronaldo e seus companheiros não se abala a cada revés, não despenca a cada vexame?
É sempre bom lembrar a célebre e sábia frase atribuída a Abraham Lincoln: "Pode-se enganar a todos por algum tempo. Pode-se enganar a alguns por todo o tempo. Mas não se pode enganar a todos todo o tempo".
Em contraste com a humilhação alvinegra, a noite de quarta-feira foi de festa para o Flamengo. De festa até demais, eu diria. Parecia uma final de campeonato, mas era só a estreia de Ronaldinho, contra o limitado Nova Iguaçu.
Se no Corinthians tudo é intenso, no Flamengo tudo é inflado. A simples passagem da faixa de capitão, de Léo Moura para Ronaldinho, virou um espetáculo, uma solenidade apoteótica.
Claro que o futebol vive também desses momentos simbólicos, desses ritos renovados. Claro que a torcida flamenguista tem todo o direito de se extasiar com seu novo ídolo. Foi bonita a festa, pá.
Mas sabemos por experiência que essa carga exacerbada de entusiasmo e esperança tende a se transmutar no seu contrário, isto é, em rancor e sentimento vingativo, quando o desempenho não corresponde ao esperado. Basta observar o que os revoltados corintianos escreveram sobre Ronaldo nos muros do Parque São Jorge.
A mão que afaga, já dizia o poeta, é a mesma que apedreja.

jgcouto@uol.com.br


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