São Paulo, quinta, 5 de março de 1998

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Zico poderá atuar como capitão honorário

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Nem Paulo Autuori, nem Gílson Nunes. O Zagallo do Zagallo atende pelo nome de Zico. Com essa decisão inesperada, a CBF consegue, pelo menos momentaneamente, paralisar seus críticos.
Como contestar Zico, talvez o atleta mais querido e carismático do futebol brasileiro pós-Pelé?
Jogador de talento extraordinário, profissional exemplar, homem íntegro e equilibrado, Zico tem um crédito tão grande junto à opinião pública que foi talvez o único personagem a participar do governo Collor e sair incólume da experiência.
Dificilmente, portanto, alguém criticará a escolha da CBF. A pergunta que fica no ar é: o galinho de Quintino vai fazer exatamente o quê na seleção? Escalar o time? Servir de pára-choque entre Zagallo e os jogadores? Entrar aos 45min do segundo tempo para bater uma falta?
Já que a primeira e a terceira alternativas parecem impossíveis, é mais provável que ocorra a segunda. Zico seria, nesse caso, uma espécie de capitão do time, só que fora do campo.
Desse ponto de vista, a escolha do ex-craque é quase um ovo de Colombo.
Que outro nome combina ao mesmo tempo experiência (jogou três Copas do Mundo), autoridade moral e proximidade com os jogadores?
Embora tenha sido também técnico, secretário nacional de Esportes e empresário, a marca deixada por Zico dentro das quatro linhas é suficientemente recente para que ele ainda seja visto mais como jogador do que qualquer outra coisa pela torcida, pela imprensa e pelos próprios atletas. Sua presença pode impor uma certa seriedade a um grupo marcado, em sua grande maioria, pela imaturidade, quando não pela "máscara" ou pela estupidez pura e simples.
Além disso, Zico, com sua lucidez e sua flexibilidade, pode servir de contraponto à teimosia de Zagallo.
Se nada disso der certo, pode-se recorrer à terceira alternativa citada e escalá-lo para entrar em campo e resolver a parada (desde que não seja para bater um pênalti contra a França, claro).

A goleada de 5 a 0 imposta pelo Vitória ao Flamengo, em jogo disputado na terça-feira, não deve ter tido nenhuma influência sobre a decisão da CBF, evidentemente.
Mas não há dúvida de que Paulo Autuori (até ontem cotado para ser auxiliar técnico da seleção) saiu da derrota chamuscado.
O vexame do Flamengo dá o que pensar. Por um lado, confirma a tese levantada aqui por Alberto Helena Jr. de que o rubro-negro só constituiu grandes times quando formou-os com pratas da casa e não com estrelas compradas no balcão internacional.
Por outro lado, o Flamengo de Autuori é uma espécie de réplica, em escala menor, do Brasil de Zagallo: está cheio de estrelas, mas não consegue funcionar como um time.
Aliás, nos últimos quatro anos, só um clube brasileiro conciliou com sucesso elencos estelares e padrão sólido de jogo: o Palmeiras (já que o Grêmio, outro vencedor, não tinha assim tantos astros). Ponto para a gestão Parmalat.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve às quintas


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