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Zico poderá atuar como capitão honorário
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Nem Paulo Autuori, nem Gílson Nunes. O Zagallo do Zagallo atende pelo nome de Zico. Com essa decisão inesperada, a CBF consegue, pelo menos momentaneamente, paralisar seus críticos.
Como contestar Zico, talvez
o atleta mais querido e carismático do futebol brasileiro
pós-Pelé?
Jogador de talento extraordinário, profissional exemplar,
homem íntegro e equilibrado,
Zico tem um crédito tão grande junto à opinião pública que
foi talvez o único personagem
a participar do governo Collor
e sair incólume da experiência.
Dificilmente, portanto, alguém criticará a escolha da
CBF. A pergunta que fica no ar
é: o galinho de Quintino vai
fazer exatamente o quê na seleção? Escalar o time? Servir de
pára-choque entre Zagallo e os
jogadores? Entrar aos 45min
do segundo tempo para bater
uma falta?
Já que a primeira e a terceira
alternativas parecem impossíveis, é mais provável que ocorra a segunda. Zico seria, nesse
caso, uma espécie de capitão
do time, só que fora do campo.
Desse ponto de vista, a escolha do ex-craque é quase um
ovo de Colombo.
Que outro nome combina ao
mesmo tempo experiência (jogou três Copas do Mundo), autoridade moral e proximidade
com os jogadores?
Embora tenha sido também
técnico, secretário nacional de
Esportes e empresário, a marca
deixada por Zico dentro das
quatro linhas é suficientemente recente para que ele ainda
seja visto mais como jogador
do que qualquer outra coisa
pela torcida, pela imprensa e
pelos próprios atletas. Sua presença pode impor uma certa
seriedade a um grupo marcado, em sua grande maioria, pela imaturidade, quando não
pela "máscara" ou pela estupidez pura e simples.
Além disso, Zico, com sua lucidez e sua flexibilidade, pode
servir de contraponto à teimosia de Zagallo.
Se nada disso der certo, pode-se recorrer à terceira alternativa citada e escalá-lo para
entrar em campo e resolver a
parada (desde que não seja
para bater um pênalti contra a
França, claro).
A goleada de 5 a 0 imposta
pelo Vitória ao Flamengo, em
jogo disputado na terça-feira,
não deve ter tido nenhuma influência sobre a decisão da
CBF, evidentemente.
Mas não há dúvida de que
Paulo Autuori (até ontem cotado para ser auxiliar técnico
da seleção) saiu da derrota
chamuscado.
O vexame do Flamengo dá o
que pensar. Por um lado, confirma a tese levantada aqui
por Alberto Helena Jr. de que o
rubro-negro só constituiu
grandes times quando formou-os com pratas da casa e
não com estrelas compradas
no balcão internacional.
Por outro lado, o Flamengo
de Autuori é uma espécie de
réplica, em escala menor, do
Brasil de Zagallo: está cheio de
estrelas, mas não consegue
funcionar como um time.
Aliás, nos últimos quatro
anos, só um clube brasileiro
conciliou com sucesso elencos
estelares e padrão sólido de jogo: o Palmeiras (já que o Grêmio, outro vencedor, não tinha
assim tantos astros). Ponto para a gestão Parmalat.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve às quintas
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