São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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FUTEBOL

Nível de testosterona, responsável pelo aumento da força muscular, cresce em atletas que atuam em seus estádios

Hormônio ajuda time da casa, diz estudo

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Além do apoio da torcida, a "masculinidade" pode ser um fator adicional para explicar a tendência de as equipes que atuam em casa vencerem seus jogos.
Sandy Wolfson e Nick Neave, pesquisadores da Universidade de Northumbria, na Inglaterra, mostraram, em um estudo apresentado em março deste ano na Conferência Anual da Sociedade Britânica de Psicologia, que o nível de testosterona (hormônio masculino) dos atletas sofre alterações antes de partidas dentro de casa. Em jogos realizados fora, o índice é bem inferior.
A testosterona, responsável pelo desenvolvimento sexual do homem, também promove o crescimento e a dureza dos ossos, além de aumentar a força muscular.
Os pesquisadores coletaram amostras da saliva de jogadores ingleses sub-19 antes de realizarem seus treinamentos e na véspera de partidas disputadas em casa e fora e contra adversários fortes ou rivais mais fracos.
Os índices mais elevados foram encontrados antes de jogos importantes dentro de casa -16,67 nanogramas por decilitro. O nanograma é a bilionésima parte do grama. Os níveis mais baixos apareceram nas amostras coletadas na véspera de partidas contra rivais fracos e fora de casa -8,33, a metade da outra medida.
"Nós acreditamos que esses índices têm grande impacto sobre o rendimento da equipe em jogos dentro de casa", disse Wolfson à Folha. "Porém outros fatores, como pressão da torcida e a familiaridade com o campo, além da viagem e interrupção da rotina do time adversário, contribuem para esse efeito", completou.
Para eles, com esses dados nas mãos, o desafio para os treinadores é conseguir dar motivação a seus elencos em jogos fora de casa ou contra adversários mais fracos.
A teoria de Wolfson e Neave pode ser exemplificada no desempenho dos times que disputam os cinco principais campeonatos nacionais de futebol na Europa -Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália.
A maior vantagem territorial pertence às equipes alemãs, que obtiveram 52,2% de vitórias jogando em seus estádios. Mesmo nos países em que o fator campo tem um peso menor há uma nítida vantagem para times que fazem partidas em seus domínios.
No Campeonato Inglês, no qual as equipes registram o maior índice de derrotas em seu território -30,5%-, o aproveitamento em casa é de 42,6%.
Ao atuar em seu campo, os jogadores sentem como se estivessem lutando por seu espaço. Esse sentimento tende a se intensificar quando o time pega seus adversários mais tradicionais.
"Sabemos que a testosterona está ligada à dominação e à agressividade nos animais. Nós estamos tentando mostrar a relação desse resultado com a territorialidade. A idéia é que, se você está jogando em casa, está defendendo seu próprio território", afirmou Neave.
Segundo o estudo, noticiado pela revista britânica "New Scientist", o jogador que atua na posição de goleiro é o que apresenta níveis mais altos de alteração da testosterona em jogos em casa e contra rivais poderosos.
"O goleiro representa o último obstáculo ao adversário. Consequentemente, é quem sofre a maior ameaça em seu território, isto é, tomar o gol. Mas estudamos apenas alguns goleiros. Devemos encontrar mais dados sobre isso", afirmou Wolfson.
Na comparação com as outras posições, mais uma vez, o goleiro é um dos que mais sofrem.
"Encontramos variações pequenas entre atletas de diversas posições. Os goleiros tendem a ter os níveis mais baixos de testosterona nos treinamentos, mas os mais altos nos jogos em casa. Os atacantes possuem os índices mais altos, em média, em todas as situações", afirmou Wolfson.
Apesar da tendência orgânica comprovada para um melhor desempenho dos jogadores em partidas realizadas dentro de casa, os psicólogos advertem que o excesso de produção do hormônio masculino também pode ter efeito maléfico nos atletas.
"Teoricamente, se o nível de testosterona chegar a um índice muito elevado, o jogador estará excessivamente ativado. Com isso, pode cometer seguidas faltas e responder de maneira agressiva a uma provocação do atleta adversário ou à uma decisão do árbitro", contou Wolfson.


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