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República do Fenerbahce
Ex-palmeirense Alex, ídolo na Turquia, diz que rivalidade entre os clubes grandes vai além
da fronteira do futebol
MARCOS FLAMÍNIO PERES
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
Eleito por quatro vezes o
melhor jogador da Turquia, o
meia do Fenerbahce Alexsandro de Souza, 32, o Alex,
não consegue andar tranquilo pelas ruas de Istambul.
"Mesmo torcedores de outros clubes pedem para eu tomar chá com eles", conta.
Uma das maiores rivalidades da Europa, o clássico Fenerbahce x Galatasaray para
não só o país, diz, mas as comunidades de turcos na Alemanha, França, Inglaterra.
Ídolo no Palmeiras e no
Cruzeiro, Alex, que está há
seis anos no Fenerbahce e recebeu a Folha no luxuoso
centro de treinamento do
clube, a 60 km da capital, explica como a questão religiosa interfere nos treinos.
Diz também que Dunga foi
coerente em não convocar
Neymar e Ganso, do Santos.
Ataca o regime de concentração. "Não funciona tão bem
assim como os treinadores
imaginam", dispara.
E fala do Palmeiras, com
quem ganhou a Libertadores
de 1999 e que está mergulhado em uma crise. "O problema lá é de administração."
Folha - O que acha do esquema tático da seleção?
Alex - A posição do Dunga
é em cima do que jogou e de
como vê o futebol. O auxiliar
dele era um jogador defensivo [Jorginho]. Tinha o apoio
como uma grande característica, mas a primeira coisa
que um lateral pensa é estar
na primeira linha de quatro
da defesa. Se você me perguntar: você gosta? Não, não
gosto porque sou meia.
O que pensa da exclusão de
Ronaldinho, Neymar, Ganso?
Dunga tinha um grupo
montado, construído por ele
desde que assumiu. Ele manteve a coerência daquilo que
deve ter falado a seus atletas
nesses quatro anos.
E o Adriano?
Não foi o Dunga que não o
levou, foi o Adriano que se retirou pela queda que teve em
campo e que foi causada por
seu comportamento fora de
campo. Mas acho que o Dunga deve ter esperado por ele
até o último minuto.
Esse comportamento displicente é mais comum do que
parece no futebol?
Não vejo como displicência, vejo como o modo de viver de cada um. Já joguei com
jogadores para quem a gente
pedia: "Vai para a noite, porque você não está rendendo". Não condeno essa situação. O que condeno é o seguinte: tem horário a cumprir? Então o jogador tem que
estar lá no horário marcado.
Você suporta concentrações?
Não. Detesto concentração
desde que tinha 18 anos.
Acho uma coisa inútil, mas
necessária. Mas o que acho
inútil é se trancar dentro de
um hotel, um resort, por 15
dias para fazer o mesmo tipo
de treinamento, o mesmo tipo de coisa para jogar dali,
sei lá, a 15 dias.
O que acha do Santos?
Um baita time, montado
meio sem querer, ninguém
investiu nesses moleques.
Como você, que foi ídolo no
Palmeiras, avalia a situação
atual do clube?
Sinto tristeza porque o Palmeiras é muito grande. E
creio que, com uma administração diferente, o clube pode ter melhores momentos.
O problema é administrativo?
Converso com gente de
dentro [do clube] e há muita
dificuldade [vinda] de dentro. Isso se reflete no campo.
Qual é a diferença entre ser
ídolo no Brasil e na Turquia?
Aqui a coisa é maior.
Você consegue sair à rua?
Sim, mas já saio sabendo
que vou precisar de muita paciência. É diferente do Brasil.
Torcedores dos rivais pedem
para tirar foto comigo.
A rivalidade é muito grande?
Nunca vi igual. Toma o
país. Mesmo os turcos que
moram na Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, nesse
dia param para ver o jogo entre Fenerbahce e Galatasaray. Também há a rivalidade
continental, porque o Galatasaray fica na parte europeia
de Istambul e, nós, na asiática. Chamam o lado de cá de
República do Fenerbahce. E
são cem anos em cima.
A questão religiosa te impressiona?
Hoje, não mais. Mas, no
início, era absurdo.
De seus colegas de clube, tem
algum que seja...
Tem fanático! Tem jogador
que faz as cinco orações do
dia, que pede para o treinador mudar o horário do treino porque precisa rezar.
O jornalista MARCOS FLAMÍNIO PERES
viajou a convite do governo da Turquia
FOLHA.COM Leia a íntegra da
entrevista com Alex
folha.com/es745645
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