São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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Do terrão à seleção

Garotas que tentam se firmar no futebol encaram falta de apoio e amadorismo até na seleção

Gabo Morales - 29.mai.11/Folhapress
Lorena (à dir.), 20, joga em peneira para o time feminino do Santos

LUCAS REIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Domingo, 9h da manhã. Dezenas de meninas entre 18 e 20 anos se aglomeram no portão do CT Meninos da Vila, em Santos.
Ser jogador de futebol no Brasil é difícil. Jogadora, então, é uma batalha diária.
No país que tem o esporte como a esperança de muitos garotos pobres, as dificuldades encontradas pelas meninas jogadoras para vencer em um universo machista ainda são muito grandes.
Falta de estrutura e profissionalismo, campeonatos desinteressantes ao público em geral, pouco investimento e visibilidade moldam o futebol feminino no Brasil.
E, mesmo assim, a quantidade de meninas, adolescentes e jovens, que buscam a sorte nos gramados do país só faz aumentar.
A Folha acompanhou uma peneira no Santos, conversou com atletas, clubes e até com o técnico da seleção brasileira, Kleiton Lima, sobre esse vestibular feminino.
No Santos, 146 meninas se inscreveram. Destas, apenas 17 eram da própria cidade. E 25, de outros Estados. E somente "duas ou três" seriam selecionadas para treinar no clube em fase de experiência.
"O que acontece é uma loucura. As meninas que jogam futebol no Brasil são lutadoras, batalhadoras. Elas nos procuram, buscam o espaço delas", disse Modesto Roma, supervisor do futebol feminino do Bangu, que tem cinco atletas na pré-lista das convocadas para o Mundial da Alemanha, que começa no fim deste mês.
A loucura se chama falta de profissionalismo.
Mesmo em clubes como o Santos, grande vitrine no país, o futebol feminino ainda é uma modalidade amadora. Pouquíssimos clubes podem pagar salários para suas atletas -e, quando o fazem, muitas vezes trata-se apenas de ajuda de custo.
Não há um Campeonato Brasileiro. A Copa do Brasil quase não tem visibilidade, e os Estaduais são famosos pela desigualdade -é comum ver placares como 15 a 0.
Alguns times femininos são administrados por municípios, como a Ferroviária, que é mantida pela Fundesport, ligada à Prefeitura de Araraquara (273 km a noroeste de São Paulo).
"As próprias meninas indicam outras garotas", disse Danilo dos Santos, diretor da equipe feminina que custa cerca de R$ 25 mil mensais à fundação, para se manter.
Há muitas incertezas também. O Flamengo, por exemplo, anunciou com muita pompa seu time feminino. Poucos meses depois, esqueceu-se de inscrever a equipe no Estadual do Rio.
Com tantas dificuldades, sem campeonatos fortes e até mesmo agentes, onde encontrar novos talentos?
"A gente fica de olho até na rua, nas praias, quadras, ou seja, em qualquer lugar onde existe um grupo de meninas jogando bola", diz o treinador Kleiton Lima.
E nem sua seleção, favorita ao título do Mundial na Alemanha e que tem Marta, a melhor do mundo, escapa de respingos mambembes.
Duas jogadoras pré-convocadas, Renata e Formiga, estão sem clube. Elas podem ser campeãs na Europa, ganhar o mundo, mas têm o presente e o futuro incertos.


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