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"Eles merecem"
Königstein, uma das cidades que abrigaram o Brasil durante a Copa, acusa a seleção
de Parreira de arrogância e vibra com a eliminação da equipe pelos franceses nas quartas-de-final
FÁBIO VICTOR
RICARDO PERRONE
ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN
Nassim Popal está revoltado,
não pára de falar. Dono de um
restaurante francês na Limburger Strasse, a rua onde se concentra o lazer de Königstein,
chama os repórteres ao primeiro andar da casa. Mostra um telão novo em folha e pragueja.
"Vêem? Gastei 2.500 [R$
7.000 nele] certo de que isso
aqui lotaria por causa do Brasil.
Não veio ninguém. E tudo pelo
jeito com que nos trataram."
A ira do comerciante é hoje
um sentimento generalizado
na cidade que abrigou a seleção
brasileira por duas semanas
antes e logo no início do Mundial. Königstein foi onde o time
passou mais tempo na Alemanha. Era de se imaginar que
seus moradores estivessem
tristes com a eliminação dos
pentacampeões. Mas, ao contrário, eles soltaram foguetes.
"Eu e quase todos daqui estamos contentes porque o Brasil
perdeu. Eles mereceram, foram arrogantes, não deram
atenção para quem os recebeu
com tanto carinho", reclama
Petra Lauterwald, dona de uma
banca de revistas a 200 metros
do hotel em que se hospedou a
equipe dirigida por Carlos Alberto Parreira.
Durante o período, o filho
dela, Sebastian, de 10 anos, não
conseguiu ver um único jogador brasileiro nem teve chance
de pegar um autógrafo que fosse. Segundo os moradores, milhares de fãs tiveram a mesma
frustração, porque a equipe ficou isolada num resort e todos
os treinos que fizeram em Königstein foram fechados ao público. "O que custava ter organizado num dia uma sessão de
autógrafos?", questiona Petra.
"Tanta falta de atenção para
jogar o futebolzinho que jogaram, sem coração, sem brigar.
A apatia do time só fez aumentar o sentimento de desforra
que tivemos quando a França
ganhou. Fiquei muito, muito
feliz", declara Popal.
A garçonete Agapi Tsingirdakli, que trabalha no bar Bahia,
lembra da reação dos clientes
no sábado passado. "As mesas
estavam lotadas, e todos festejaram a derrota do Brasil. Gritavam que o time havia sido arrogante com a cidade e que tinha jogado sem fome, achando
que ainda era o melhor do
mundo", conta ela.
A população local também se
queixa de que jogadores da seleção de Parreira foram jantar
em Bad Homburg, uma cidade
vizinha, ou dançar em boates
de Frankfurt, a 25 km de distância dali, em vez de prestigiar
a anfitriã Königstein.
Os mais exaltados propagam
como certeza histórias de que
quase diariamente um carro
com prostitutas chegava ao hotel da seleção, o que, obviamente, a direção do estabelecimento se recusa a comentar.
Embora sejam evidente minoria, há aqueles que isentam a
seleção de culpa pela decepcionante passagem pela cidade.
Caso de Thomas Schwenk,
dono de uma papelaria que
também vende roupas. "Concordo que eles ficaram muito
reclusos, mas seria ingênuo
imaginar que os teríamos desfilando por aí. Eles vieram trabalhar. É verdade que, quando vi
o Ronaldo se arrastando em
campo, pensei: que tipo de trabalho fizeram?", diverte-se ele.
Schwenk avalia que a culpa
maior foi da empresa contratada pela Prefeitura de Königstein para organizar um festival
durante o período. "Tinha tudo
para ser o nosso grande acontecimento em anos, mas a agência fez um péssimo trabalho. A
praça onde acontecia tudo ficou vazia e deprimente, parecia
a baía de Guantánamo", compara o comerciante alemão.
Ele próprio encomendou
400 camisas e agasalhos com as
cores do Brasil e o nome da cidade. Vendeu no máximo 40. O
resto ficou lá, encalhado.
Já Nassim Popal, o do restaurante francês, diz ter tido
um prejuízo equivalente a R$
50 mil no período. "Preparamos comidas e bebidas especiais do Brasil, emprestei minha cozinha para uma brasileira fazer feijoada, tudo foi bem
planejado. Além da má educação da seleção, nos prejudicou
o fato de a prefeitura ter bloqueado as entradas da cidade.
Foi um fiasco completo."
Comerciantes de Königstein
calculam ter sofrido uma queda de 50% nas receitas durante
a passagem da equipe brasileira, entre 4 e 17 de julho. Eram
aguardadas 10 mil pessoas por
dia no período e, segundo estimativa de lojistas, o número
não chegou a mil.
O bureau de turismo da cidade disse ainda não ter dados
oficiais. A prefeitura, que investiu o equivalente a R$ 1,5
milhão para receber a seleção,
estava fechada ontem à tarde.
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