São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Governo "nacionaliza" área VIP na Venezuela

Convidados dos governadores ocuparam cadeiras que já tinham sido vendidas

Pelo menos 650 ingressos de patrocinadores foram "clonados", e donos tiveram de ser realocados em jogo do Brasil na Copa América

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MÉRIDA

Dois governos estaduais de aliados do presidente venezuelano, Hugo Chávez, "nacionalizaram" parte das áreas VIPs durante jogos da Copa América, segundo relatos obtidos pela Folha. No jogo entre Brasil e México, no dia 27 passado, o governo de Bolívar emitiu por conta própria mais de 600 ingressos da área mais nobre.
Em ambos os estádios, convidados dos governadores chavistas ocuparam cadeiras VIPs numeradas que haviam sido adquiridas para patrocinadores do torneio, entre os quais as empresas LG e Mastercard.
Segundo a reportagem apurou, foram 1.100 ingressos, a um custo de R$ 160 cada um.
Na estréia do Brasil, em Puerto Ordaz, cerca de 650 ingressos em mãos de patrocinadores foram "clonados" pelo governo estadual, administrado pelo chavista Francisco Rangel Gómez. Os VIPs foram realocados em várias partes menos nobres do estádio.
Problema semelhante ocorreu anteontem à noite em Mérida, durante o empate sem gols entre Venezuela e Uruguai. Cerca de 500 torcedores VIPs, convidados de patrocinadores, tiveram de ser deslocados porque suas cadeiras haviam sido ocupadas por convidados do governador do Estado, o chavista Florencio Porras.
Aparentemente, os estádios estão recebendo mais público do que a sua capacidade. Em três jogos assistidos pela reportagem, parte das escadas estavam ocupadas por torcedores sentados, contrariando normas internacionais de segurança.
Procurado pela Folha, o governo de Bolívar admitiu que produziu os ingressos por conta própria, mas culpou a Delujo Promociones, encarregada de comercializar os ingressos, de ter praticado sobrevenda.
"Comprovou-se que a empresa vendeu ao governo entradas já vendidas", disse David Medina, chefe de imprensa do Estado de Bolívar para a Copa América venezuelana.
Segundo Medina, o governo estadual comprou e redistribuiu a "convidados" 10 mil dos 40.600 ingressos de Brasil x México, realizado no estádio Cachamay. Ou seja, 24% do total colocado à venda foi adquirido com dinheiro público.
Sobre os ingressos distribuídos pelo governo, Medina disse que foi a solução encontrada quando se descobriu que, em parte, cadeiras adquiridas pelo governo e por um grupo de 350 turistas mexicanos haviam sido vendidas duas vezes.
"[As entradas do governo] foram usadas para as pessoas que tinham os ingressos na zona VIP mas não tinham as cadeiras na zona VIP", explicou.
Segundo Medina, o problema foi resolvido realocando parte dos torcedores em áreas que, segundo ele, o Estado tinha o direito de comercializar.
O porta-voz disse ainda que o governo de Bolívar deverá processar a empresa Delujo pelos problemas ocorridos em Puerto Ordaz, os quais, segundo ele, incluíram a venda de cadeiras numeradas inexistentes.
A empresa tem sido bastante criticada por falha na distribuição de ingressos pela internet. Na semana passada, o governo colocou aviões da Força Aérea para agilizar o trabalho.
Durante o dia de ontem, a reportagem ligou diversas vezes ao celular do presidente da Delujo, Luis Muchacho, mas ele não atendeu às chamadas.
A reportagem procurou o chefe da imprensa da Copa América em Mérida, Williams Belandria, mas ele não tinha informações sobre o problema e orientou a busca por outro porta-voz, Pedro Quintera, que não foi localizado.


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