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Governo "nacionaliza" área VIP na Venezuela
Convidados dos governadores ocuparam cadeiras que já tinham sido vendidas
Pelo menos 650 ingressos de patrocinadores foram "clonados", e donos tiveram de ser realocados em jogo do Brasil na Copa América
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MÉRIDA
Dois governos estaduais de
aliados do presidente venezuelano, Hugo Chávez, "nacionalizaram" parte das áreas VIPs
durante jogos da Copa América, segundo relatos obtidos pela
Folha. No jogo entre Brasil e
México, no dia 27 passado, o
governo de Bolívar emitiu por
conta própria mais de 600 ingressos da área mais nobre.
Em ambos os estádios, convidados dos governadores chavistas ocuparam cadeiras VIPs
numeradas que haviam sido
adquiridas para patrocinadores do torneio, entre os quais as
empresas LG e Mastercard.
Segundo a reportagem apurou, foram 1.100 ingressos, a
um custo de R$ 160 cada um.
Na estréia do Brasil, em
Puerto Ordaz, cerca de 650 ingressos em mãos de patrocinadores foram "clonados" pelo
governo estadual, administrado pelo chavista Francisco
Rangel Gómez. Os VIPs foram
realocados em várias partes
menos nobres do estádio.
Problema semelhante ocorreu anteontem à noite em Mérida, durante o empate sem
gols entre Venezuela e Uruguai. Cerca de 500 torcedores
VIPs, convidados de patrocinadores, tiveram de ser deslocados porque suas cadeiras haviam sido ocupadas por convidados do governador do Estado, o chavista Florencio Porras.
Aparentemente, os estádios
estão recebendo mais público
do que a sua capacidade. Em
três jogos assistidos pela reportagem, parte das escadas estavam ocupadas por torcedores
sentados, contrariando normas
internacionais de segurança.
Procurado pela Folha, o governo de Bolívar admitiu que
produziu os ingressos por conta própria, mas culpou a Delujo
Promociones, encarregada de
comercializar os ingressos, de
ter praticado sobrevenda.
"Comprovou-se que a empresa vendeu ao governo entradas já vendidas", disse David
Medina, chefe de imprensa do
Estado de Bolívar para a Copa
América venezuelana.
Segundo Medina, o governo
estadual comprou e redistribuiu a "convidados" 10 mil dos
40.600 ingressos de Brasil x
México, realizado no estádio
Cachamay. Ou seja, 24% do total colocado à venda foi adquirido com dinheiro público.
Sobre os ingressos distribuídos pelo governo, Medina disse
que foi a solução encontrada
quando se descobriu que, em
parte, cadeiras adquiridas pelo
governo e por um grupo de 350
turistas mexicanos haviam sido vendidas duas vezes.
"[As entradas do governo] foram usadas para as pessoas que
tinham os ingressos na zona
VIP mas não tinham as cadeiras na zona VIP", explicou.
Segundo Medina, o problema foi resolvido realocando
parte dos torcedores em áreas
que, segundo ele, o Estado tinha o direito de comercializar.
O porta-voz disse ainda que o
governo de Bolívar deverá processar a empresa Delujo pelos
problemas ocorridos em Puerto Ordaz, os quais, segundo ele,
incluíram a venda de cadeiras
numeradas inexistentes.
A empresa tem sido bastante
criticada por falha na distribuição de ingressos pela internet.
Na semana passada, o governo
colocou aviões da Força Aérea
para agilizar o trabalho.
Durante o dia de ontem, a reportagem ligou diversas vezes
ao celular do presidente da Delujo, Luis Muchacho, mas ele
não atendeu às chamadas.
A reportagem procurou o
chefe da imprensa da Copa
América em Mérida, Williams
Belandria, mas ele não tinha
informações sobre o problema
e orientou a busca por outro
porta-voz, Pedro Quintera, que
não foi localizado.
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