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Brasil é outro, diz Beckenbauer
Para ícone da Alemanha, brasileiros "deixaram de jogar de uma maneira que encantava"
EDUARDO ARRUDA
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO
Franz Beckenbauer chega
apressado a mais uma de
suas reuniões como membro
do Comitê Executivo da Fifa,
em Johannesburgo. No curto
caminho entre a entrada e a
sala de reuniões, é parado
várias vezes. Todos querem
ouvir sua opinião.
Fala com empolgação da
seleção de seu país, a sensação da Copa-2010. "Apresenta um futebol-arte." E fala
mal do time brasileiro, que já
foi embora para casa.
Antes de adentrar para
o encontro dos cartolões,
conversa com a Folha. "O
que aconteceu com o Brasil?", ouve o Kaiser.
O bicampeão mundial de
1974, como jogador, e de
1990, como treinador, dá um
sorriso, balança os braços e
responde: "Bem, eu acho que
o Brasil deixou de jogar como
sempre jogou, de uma maneira que encantava. Talvez
esse tenha sido o motivo de
não ter ido adiante".
As palavras do ex-capitão
alemão não fazem coro ao
discurso dos chamados "comentaristas de resultado".
Na véspera de enfrentar a
Holanda, ele já havia comentado sobre os perigos de os
brasileiros serem surpreendidos pelos adversários.
"Eles não foram testados.
Será interessante ver como o
Brasil reagirá se sair atrás no
placar", afirmou na ocasião.
Beckenbauer jamais gostou da equipe comandada
por Dunga. Sempre a considerou "defensiva" demais.
Num discurso muito parecido com o de outra lenda do
futebol, o holandês Johan
Cruyff, o alemão declarou no
ano passado que "este não é
o futebol brasileiro" e que o
Brasil a que está acostumado
é o de "Pelé e Carlos Alberto".
A declaração causou reação na comissão técnica brasileira. No sorteio para os
grupos da Copa-10, em dezembro do ano passado,
Dunga e Jorginho foram tirar
satisfação com Beckenbauer.
Na ocasião, o então auxiliar de Dunga falou, em alemão, de maneira até grosseira sobre os comentários do
Kaiser a respeito da seleção
brasileira. Dunga também se
queixou com ele, mas de maneira mais educada.
Beckenbauer, depois, reclamou da forma como foi
tratado por Jorginho.
A diferença entre eles viria
da época em que ambos trabalharam juntos no Bayern
de Munique, onde o Kaiser é
simplesmente venerado.
De lá, aliás, saíram alguns
jogadores que encantam
Beckenbauer na seleção alemã de hoje, como o meia
Schweinsteiger. "Essa seleção surpreendeu a todos,
não só à Alemanha, pela maneira bonita como vem jogando. Posso dizer que causou surpresa ao mundo."
Segundo ele, essa é melhor geração do futebol alemão desde a que ganhou a
Copa de 1990, na Itália.
"Aquele time tinha jogadores fantásticos, como Matthäus e Brehme. Por isso, ganhou aquele Mundial", analisou o Kaiser. "Essa seleção
também tem tudo para fazer
história na Copa", finalizou.
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