São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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Brasil é outro, diz Beckenbauer

Para ícone da Alemanha, brasileiros "deixaram de jogar de uma maneira que encantava"

EDUARDO ARRUDA
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A JOHANNESBURGO

Franz Beckenbauer chega apressado a mais uma de suas reuniões como membro do Comitê Executivo da Fifa, em Johannesburgo. No curto caminho entre a entrada e a sala de reuniões, é parado várias vezes. Todos querem ouvir sua opinião.
Fala com empolgação da seleção de seu país, a sensação da Copa-2010. "Apresenta um futebol-arte." E fala mal do time brasileiro, que já foi embora para casa.
Antes de adentrar para o encontro dos cartolões, conversa com a Folha. "O que aconteceu com o Brasil?", ouve o Kaiser.
O bicampeão mundial de 1974, como jogador, e de 1990, como treinador, dá um sorriso, balança os braços e responde: "Bem, eu acho que o Brasil deixou de jogar como sempre jogou, de uma maneira que encantava. Talvez esse tenha sido o motivo de não ter ido adiante".
As palavras do ex-capitão alemão não fazem coro ao discurso dos chamados "comentaristas de resultado".
Na véspera de enfrentar a Holanda, ele já havia comentado sobre os perigos de os brasileiros serem surpreendidos pelos adversários.
"Eles não foram testados. Será interessante ver como o Brasil reagirá se sair atrás no placar", afirmou na ocasião.
Beckenbauer jamais gostou da equipe comandada por Dunga. Sempre a considerou "defensiva" demais. Num discurso muito parecido com o de outra lenda do futebol, o holandês Johan Cruyff, o alemão declarou no ano passado que "este não é o futebol brasileiro" e que o Brasil a que está acostumado é o de "Pelé e Carlos Alberto".
A declaração causou reação na comissão técnica brasileira. No sorteio para os grupos da Copa-10, em dezembro do ano passado, Dunga e Jorginho foram tirar satisfação com Beckenbauer.
Na ocasião, o então auxiliar de Dunga falou, em alemão, de maneira até grosseira sobre os comentários do Kaiser a respeito da seleção brasileira. Dunga também se queixou com ele, mas de maneira mais educada.
Beckenbauer, depois, reclamou da forma como foi tratado por Jorginho.
A diferença entre eles viria da época em que ambos trabalharam juntos no Bayern de Munique, onde o Kaiser é simplesmente venerado.
De lá, aliás, saíram alguns jogadores que encantam Beckenbauer na seleção alemã de hoje, como o meia Schweinsteiger. "Essa seleção surpreendeu a todos, não só à Alemanha, pela maneira bonita como vem jogando. Posso dizer que causou surpresa ao mundo."
Segundo ele, essa é melhor geração do futebol alemão desde a que ganhou a Copa de 1990, na Itália.
"Aquele time tinha jogadores fantásticos, como Matthäus e Brehme. Por isso, ganhou aquele Mundial", analisou o Kaiser. "Essa seleção também tem tudo para fazer história na Copa", finalizou.


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