São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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UM MUNDO QUE TORCE

Mania de grandeza

Eliminada na primeira fase, a Eslovênia, menor país do Mundial, orgulha-se da campanha de sua seleção

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A LIUBLIANA

Um mantra: "Dois milhões de habitantes. Somos apenas dois milhões de habitantes".
Puxe o tema futebol com um esloveno, e provavelmente esta será a resposta.
Ontem, não falhou. Todos com quem a Folha conversou citaram a população do país, seguida do mesmo adendo: "Éramos a menor nação na Copa do Mundo".
Mais do que a busca por uma justificativa, um grandioso orgulho. E que faz dos locais, entre os eliminados na primeira fase, os mais sinceros defensores do lema "o importante é participar".
Liubliana, a capital eslovena, foi a 23ª parada da série "Um Mundo Que Torce". A viagem chega agora a 113.958 km, ou nove voltas na Terra. Já foram 35 voos por 25 companhias aéreas.
Segundo dados do governo, a Eslovênia tem 2,05 milhões de habitantes. A marca de 2 milhões foi batida em 1991 e, após leve queda, de novo em 2005. Os motivos: a chegada de estrangeiros para trabalhar no país e o aumento da expectativa de vida.
Em termos populacionais, depois da Eslovênia, o menor país na Copa é o Uruguai: 3,3 milhões de pessoas.
"Ainda estamos aprendendo. Participar da Copa já foi uma grande vitória. Até porque, para conseguirmos a vaga, vencemos a Rússia. Você sabe qual é a população da Rússia?", indaga o engenheiro Matjaz Jenko, 45.
A Rússia tem 142 milhões de habitantes, 69 vezes mais. E foi derrotada pelos eslovenos na repescagem para a Copa, em novembro de 2009.
A obsessão populacional continua. "Quinhentas mil pessoas assistiram aos jogos pela TV! É muita coisa, é 25% do país", afirma Jenko.
O estudante Gregor Rogac, 22, que passeava ontem pelo centro de Liubliana com a camisa da seleção, também citou, claro, os números. Mas destacou a evolução do time.
A Eslovênia se separou da antiga Iugoslávia em 1991 e, no ano seguinte, a seleção fez sua estreia. Em 2002, foi à Copa pela primeira vez: eliminada com três derrotas.
Desta vez, por pouco não passou às oitavas de final. Venceu a Argélia, empatou com os EUA e perdeu por 1 a 0 para os ingleses.
Não fosse um gol americano contra os argelinos já nos acréscimos da última partida, os eslovenos teriam avançado. "Foi azar. E foi também má intenção do juiz no jogo contra os Estados Unidos.
Se tivesse aplicado a regra, não teriam sobrado cinco americanos em campo", diz Marinko Bojan, 55, que ontem vendia flâmulas da seleção em feira de antiguidades às margens do Ljubljanica, rio que atravessa a cidade.
Bojan acompanhará com atenção os próximos jogos. Antes da Copa, apostou 10 no título do Uruguai.
"Fui realista. Estamos todos orgulhosos com a Eslovênia, mas eu sabia que não teria chances. Decidi apostar no segundo menor país. Ficarei rico", brinca, emendando não ter ideia de quanto ganhará se acertar em cheio.
Mas veio de um taxista o mais espontâneo e significativo exemplo da vaidade dos nanicos da Copa após a participação na África do Sul.
Após ouvir a resposta sobre a nacionalidade do repórter, abriu sorriso e lançou, num inglês carregando nos "erres": "Brazil? Very bad play football. Not good". À réplica sobre a eliminação da Eslovênia, encerrou: "But Slovenia, small country!".


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