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UM MUNDO QUE TORCE
Mania de grandeza
Eliminada na primeira fase, a Eslovênia, menor país do Mundial, orgulha-se da campanha de sua seleção
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A LIUBLIANA
Um mantra: "Dois milhões
de habitantes. Somos apenas
dois milhões de habitantes".
Puxe o tema futebol com
um esloveno, e provavelmente esta será a resposta.
Ontem, não falhou. Todos
com quem a Folha conversou citaram a população do
país, seguida do mesmo
adendo: "Éramos a menor
nação na Copa do Mundo".
Mais do que a busca por
uma justificativa, um grandioso orgulho. E que faz dos
locais, entre os eliminados
na primeira fase, os mais sinceros defensores do lema "o
importante é participar".
Liubliana, a capital eslovena, foi a 23ª parada da série
"Um Mundo Que Torce". A
viagem chega agora a 113.958
km, ou nove voltas na Terra.
Já foram 35 voos por 25 companhias aéreas.
Segundo dados do governo, a Eslovênia tem 2,05 milhões de habitantes. A marca
de 2 milhões foi batida em
1991 e, após leve queda, de
novo em 2005. Os motivos: a
chegada de estrangeiros para
trabalhar no país e o aumento da expectativa de vida.
Em termos populacionais,
depois da Eslovênia, o menor
país na Copa é o Uruguai: 3,3
milhões de pessoas.
"Ainda estamos aprendendo. Participar da Copa já
foi uma grande vitória. Até
porque, para conseguirmos a
vaga, vencemos a Rússia. Você sabe qual é a população da
Rússia?", indaga o engenheiro Matjaz Jenko, 45.
A Rússia tem 142 milhões
de habitantes, 69 vezes mais.
E foi derrotada pelos eslovenos na repescagem para a
Copa, em novembro de 2009.
A obsessão populacional
continua. "Quinhentas mil
pessoas assistiram aos jogos
pela TV! É muita coisa, é 25%
do país", afirma Jenko.
O estudante Gregor Rogac,
22, que passeava ontem pelo
centro de Liubliana com a camisa da seleção, também citou, claro, os números. Mas
destacou a evolução do time.
A Eslovênia se separou da
antiga Iugoslávia em 1991 e,
no ano seguinte, a seleção fez
sua estreia. Em 2002, foi à Copa pela primeira vez: eliminada com três derrotas.
Desta vez, por pouco não
passou às oitavas de final.
Venceu a Argélia, empatou
com os EUA e perdeu por 1 a 0
para os ingleses.
Não fosse um gol americano contra os argelinos já nos
acréscimos da última partida, os eslovenos teriam avançado. "Foi azar. E foi também
má intenção do juiz no jogo
contra os Estados Unidos.
Se tivesse aplicado a regra,
não teriam sobrado cinco
americanos em campo", diz
Marinko Bojan, 55, que ontem vendia flâmulas da seleção em feira de antiguidades
às margens do Ljubljanica,
rio que atravessa a cidade.
Bojan acompanhará com
atenção os próximos jogos.
Antes da Copa, apostou 10
no título do Uruguai.
"Fui realista. Estamos todos orgulhosos com a Eslovênia, mas eu sabia que não teria chances. Decidi apostar
no segundo menor país. Ficarei rico", brinca, emendando
não ter ideia de quanto ganhará se acertar em cheio.
Mas veio de um taxista o
mais espontâneo e significativo exemplo da vaidade dos
nanicos da Copa após a participação na África do Sul.
Após ouvir a resposta sobre a nacionalidade do repórter, abriu sorriso e lançou,
num inglês carregando nos
"erres": "Brazil? Very bad
play football. Not good". À
réplica sobre a eliminação da
Eslovênia, encerrou: "But
Slovenia, small country!".
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