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Por títulos, homens entendem cavalos
Ginetes declaram que, para montar bem, precisam conhecer a índole dos animais e ensiná-los a enfrentar seus medos
Tratadores e cavaleiros estudam comportamento dos bichos para aprender
o que suas "máquinas" precisam para render mais
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tigela de comida cheia, buracos no chão, orelha caída, um
treino em silêncio, tudo são sinais para José Francisco do
Nascimento perceber que seus
amigos têm problemas.
A sensibilidade de Tamburete, 55, como é conhecido, é fruto de 33 anos de trabalho diário
com cavalos. Relação essencial
para o sucesso dos animais na
pista, com o dono às costas.
"Se você não souber se comunicar com o animal, o que ele
quer, for amigo dele, não terá o
melhor nas competições", diz o
tratador dos cavalos da família
Marinho, em ação no Concurso
de Saltos Athina Onassis, que
termina hoje, em São Paulo.
Segundo os cavaleiros, 70%
do desempenho nos concursos
é mérito do cavalo. Um bom
animal pode obter resultados
expressivos com um ginete mediano; um ginete genial não saltará nada sem um bom animal.
Parte dos treinos desses atletas é básica, com princípios
clássicos da equitação. O restante é o dedo do cavaleiro. Para dar certo, cumplicidade homem-animal é essencial.
"Se ele tem medo de algo,
tem de ensiná-lo que aquilo
não causará problemas. Fazê-lo enfrentar várias vezes até se
acostumar. E tem de ser firme,
porque eles sentem se você está
inseguro", diz Nelson Pessoa.
Um dos mais experientes ginetes do país, o pai de Rodrigo
Pessoa diz que cavalos têm dias
bons e ruins, como seres humanos, e podem, sim, "amarelar".
"Alguns sentem o nervosismo. Ele pode saltar superbem
em casa, mas é impossível dominá-lo na prova. Você tem de
ensiná-lo a segurar o estresse."
Baloubet du Rouet "amarelou" em Sydney-2000? Os atletas dizem que não. Só sentiu o
esforço exacerbado. "Baloubet
é um guerreiro. Nossa ligação é
muito forte", declara Nelson.
Ontem, com Rufus, seu filho
não teve bom resultado na prova principal do Athina Onassis.
Alguns cavalos têm a evolução dos treinos retardada pelo
medo. Se a montaria se impressiona com obstáculos, disputará muito mais provas para se
acostumar. A altura das barreiras também cresce aos poucos.
Para evitar sustos por causa
do barulho, muitos competem
com esponjas no ouvido.
"Há cavalos que também são
mais lerdos para aprender. Conhecer essa índole é fundamental", diz César Almeida,
ouro por equipes no Pan. O cavaleiro já teve problemas com
uma montaria. De cara, foi ao
chão duas vezes. "Era excelente, mas nosso santo não bateu."
Fortes sinais de problemas
com os cavalos aparecem na
alimentação. Se come pouco, liga-se o sinal de alerta. Mas dali
também que saem soluções.
"Se o animal é agitado, a gente evita vitamina. Se está caído,
dá uma comida mais forte", diz
Tamburete. Para entender os
cavalos, é preciso tempo e paciência. Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, só conhece
Picolien há dois meses e já se
prepara para apuros. Ontem,
com ela, foi o melhor do país na
disputa. "Essa integração demora um ano. Mas tenho esperanças para Pequim-2008."
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