São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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Por títulos, homens entendem cavalos

Ginetes declaram que, para montar bem, precisam conhecer a índole dos animais e ensiná-los a enfrentar seus medos

Tratadores e cavaleiros estudam comportamento dos bichos para aprender o que suas "máquinas" precisam para render mais

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tigela de comida cheia, buracos no chão, orelha caída, um treino em silêncio, tudo são sinais para José Francisco do Nascimento perceber que seus amigos têm problemas.
A sensibilidade de Tamburete, 55, como é conhecido, é fruto de 33 anos de trabalho diário com cavalos. Relação essencial para o sucesso dos animais na pista, com o dono às costas.
"Se você não souber se comunicar com o animal, o que ele quer, for amigo dele, não terá o melhor nas competições", diz o tratador dos cavalos da família Marinho, em ação no Concurso de Saltos Athina Onassis, que termina hoje, em São Paulo.
Segundo os cavaleiros, 70% do desempenho nos concursos é mérito do cavalo. Um bom animal pode obter resultados expressivos com um ginete mediano; um ginete genial não saltará nada sem um bom animal.
Parte dos treinos desses atletas é básica, com princípios clássicos da equitação. O restante é o dedo do cavaleiro. Para dar certo, cumplicidade homem-animal é essencial.
"Se ele tem medo de algo, tem de ensiná-lo que aquilo não causará problemas. Fazê-lo enfrentar várias vezes até se acostumar. E tem de ser firme, porque eles sentem se você está inseguro", diz Nelson Pessoa.
Um dos mais experientes ginetes do país, o pai de Rodrigo Pessoa diz que cavalos têm dias bons e ruins, como seres humanos, e podem, sim, "amarelar".
"Alguns sentem o nervosismo. Ele pode saltar superbem em casa, mas é impossível dominá-lo na prova. Você tem de ensiná-lo a segurar o estresse."
Baloubet du Rouet "amarelou" em Sydney-2000? Os atletas dizem que não. Só sentiu o esforço exacerbado. "Baloubet é um guerreiro. Nossa ligação é muito forte", declara Nelson.
Ontem, com Rufus, seu filho não teve bom resultado na prova principal do Athina Onassis.
Alguns cavalos têm a evolução dos treinos retardada pelo medo. Se a montaria se impressiona com obstáculos, disputará muito mais provas para se acostumar. A altura das barreiras também cresce aos poucos.
Para evitar sustos por causa do barulho, muitos competem com esponjas no ouvido.
"Há cavalos que também são mais lerdos para aprender. Conhecer essa índole é fundamental", diz César Almeida, ouro por equipes no Pan. O cavaleiro já teve problemas com uma montaria. De cara, foi ao chão duas vezes. "Era excelente, mas nosso santo não bateu."
Fortes sinais de problemas com os cavalos aparecem na alimentação. Se come pouco, liga-se o sinal de alerta. Mas dali também que saem soluções.
"Se o animal é agitado, a gente evita vitamina. Se está caído, dá uma comida mais forte", diz Tamburete. Para entender os cavalos, é preciso tempo e paciência. Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, só conhece Picolien há dois meses e já se prepara para apuros. Ontem, com ela, foi o melhor do país na disputa. "Essa integração demora um ano. Mas tenho esperanças para Pequim-2008."


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