São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE

Pivô perde 34 kg para deslanchar na carreira

Com 1,91 m e 107 kg, Graziane joga sua primeira Olimpíada

Atleta de 25 anos, que iria só ajudar nos treinos, foi inscrita em cima da hora na vaga de Érika, que atua nos EUA e não se recuperou de fratura


ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Última atleta brasileira inscrita para Pequim-2008, a pivô Graziane, da seleção feminina de basquete, precisou emagrecer 34 kg para se consolidar na carreira e, aos 25 anos, disputar sua primeira Olimpíada.
"Valeu o sacrifício", diz a jogadora, 1,91 m e atuais 107 kg, nascida e criada em Itaquera (zona leste de São Paulo). O curioso é que, pelo guia de mídia do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), ela pesa 80 kg.
Grazi, como é chamada pelas companheiras, virou olímpica no momento derradeiro, praticamente com o cronômetro zerado, quando já tinha sua passagem de volta para o Brasil.
"Eu andava um pouco triste. Iria voltar para casa após os amistosos na Austrália. Viajei informada pelo técnico de que as 12 jogadoras estavam definidas. Mesmo assim, topei a viagem para ajudar nos treinos. Na hora em que recebi a notícia de que ficaria no grupo, foi um choque de alegria", diz Grazi.
Ela ocupou o lugar de Érika, pivô do Atlanta, time da WNBA (liga dos EUA), que se juntaria à seleção em Pequim, mas não se recuperou a tempo, após sofrer uma fratura na perna direita.
A inscrição de Grazi foi providenciada imediatamente, já que ela estava com a seleção. A Fiba (Federação Internacional de Basquete) e o Bocog (comitê organizador dos Jogos) ratificaram a inscrição. Dessa forma, Grazi foi a última atleta brasileira inscrita na Olimpíada.
O técnico Paulo Bassul ficou sem uma jogadora-chave no seu esquema tático, mas reveste o enfoque de tom positivo para abordar o desfalque. "Não perdemos a Érika, ganhamos a Grazi", diz, lembrando o esforço e a colaboração da substituta, que, mesmo sabendo que não integraria o time, ajudava na preparação da seleção.
De família humilde -não tinha condição financeira de pagar passagem de ônibus para ir treinar no ínico da carreira-, Grazi hoje tem casa própria: "Com escritura no meu nome".
A mãe, Sônia, ganhou condições de deixar o trabalho de doméstica e para cuidar de um problema nas pernas. Ela é que ajudava a filha com os parcos recursos. Apoiava, mas não ia vê-la jogar nas equipes por que passou, como Guaru, Bauru, Campinas, Jundiaí e São Caetano. Na verdade, ninguém na família, nem a irmã mais velha, entusiasmou-se pelo esporte.
Jogando futebol na rua, aos 11 anos, sua altura chamou a atenção do professor de um amigo, que a chamou para uma escola de basquete. Após um ano, ela encestava em Guarulhos. Dez anos depois, mesmo assustada com a idéia, aceitou convite para jogar em Faenza, na Itália. Lá atuou quatro anos -dois ao lado de Adrianinha, hoje também na seleção, que foi sua grande incentivadora.
Recentemente, topou outro desafio, o de jogar na Hungria, pelo Pécs. Agora, além do italiano, que domina, sua preocupação é aprender inglês, embora tenha só uma certeza: "O basquete é tudo. Completei o segundo grau. Interrompi porque o basquete disparou, e aproveito a chance".
(EDGARD ALVES)



Texto Anterior: Iraque: Atletas do país chegam à China após imbróglio
Próximo Texto: Jogo-treino: Seleção vence as espanholas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.