São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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FUTEBOL

No cafofo e no campo

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Depois de duas semanas de férias volto às páginas esportivas. O pouco que pude ver das últimas rodadas apenas reforçou a convicção de que o nível geral continua muito fraquinho.
Estamos cada vez mais sendo solicitados pela TV (que não deixa de ter sua responsabilidade nessa história) a nos contentarmos com times apenas "certinhos" ou "arrumadinhos". Aquele ali até que defende bem, aquele lá bem que mantém o padrão, aquele acolá tem seus lampejos...
Haja resignação!
 
Encontro na Folha mais um sinal de que a cartolagem brasileira quanto mais muda mais fica parecida com a mesma coisa.
Quando da mais recente eleição para a Federação Paulista de Futebol, na função de diretor de redação e colunista do diário "Lance!", fui processado pelo então presidente Eduardo José Farah por ter comparado, com humor e ironia, a FPF a um "cafofo".
O termo estava em voga por conta de um desses "reality shows" da TV. Designava uma espécie de esconderijo onde aconteciam coisas bastante presumíveis, mas não exatamente às claras.
O motivo da crítica foi a maneira apressada e não muito transparente com que se conduziu o processo eleitoral na FPF. A ação de Farah acabou rechaçada pela Justiça, mas, ao que parece, os problemas continuam, apesar das renovadas promessas de transparência do novo presidente.
Agora está na berlinda a licitação para placas publicitárias no Paulista de 2005. É por essas e outras que pessoas sérias e dispostas a trabalhar pelo futebol no país se sentem cada vez mais desestimuladas -algumas definitivamente desencantadas quanto às perspectivas de mudança qualitativa nos atuais padrões de gestão.
 
A decisão da CBF de limitar o mercado de transferência de jogadores para o exterior a datas definidas só disciplina o êxodo, que se tornou incontrolável. Ninguém é insano a ponto de achar que o Brasil tem condições de evitar que as grandes estrelas migrem para o rico futebol europeu. Não há dúvida, porém, de que o futebol brasileiro poderia reunir condições bem melhores para segurar parte de seus valores por mais tempo e obter negociações mais vantajosas quando fosse o caso.
Triunfa, porém, o conformismo pragmático: não tem jeito, é isso mesmo, vamos torcer para aparecer craques mais jovens. Quem sabe um dia ficaremos felizes em ver criancinhas batendo bola com talento por alguns meses antes de embarcar para a Rússia, a Turquia ou sabe-se lá onde.
 
Amanhã, Santos e Corinthians entram em campo. A rivalidade e o futebol mais desenvolto do Santos prometem algum interesse. O Corinthians tem a motivação de tentar quebrar o jejum contra o rival, que luta para reconquistar a liderança. Alberto, ex-Santos, no Corinthians, pode criar alguma expectativa. Veremos.

Romário
Chego atrasado nos comentários sobre o anúncio da despedida de Romário e o lugar do craque entre as grandes estrelas do futebol. Romarista desde sempre, considero o craque criado pelo Vasco um dos maiores jogadores de todos os tempos. Como bem observou Tostão em sua coluna, o fato de que tenha alongado sua carreira além do necessário e se tornado, por isso mesmo, um atacante mais estático na área, poderá embaçar a visão de um jogador que foi extremamente rápido, criativo e fulminante, dono de uma técnica refinadíssima, ousada e belíssima de jogar futebol. Fez coisas incríveis na Europa antes de ser conduzido pelos braços do povo à seleção de 94 e ser o fator decisivo da conquista. É um verdadeiro gênio da raça. Cracaço de bola.

E-mail mag@folhasp.com.br


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