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FUTEBOL
No cafofo e no campo
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Depois de duas semanas de
férias volto às páginas esportivas. O pouco que pude ver das
últimas rodadas apenas reforçou
a convicção de que o nível geral
continua muito fraquinho.
Estamos cada vez mais sendo
solicitados pela TV (que não deixa de ter sua responsabilidade
nessa história) a nos contentarmos com times apenas "certinhos" ou "arrumadinhos". Aquele ali até que defende bem, aquele
lá bem que mantém o padrão,
aquele acolá tem seus lampejos...
Haja resignação!
Encontro na Folha mais um sinal de que a cartolagem brasileira quanto mais muda mais fica
parecida com a mesma coisa.
Quando da mais recente eleição
para a Federação Paulista de Futebol, na função de diretor de redação e colunista do diário "Lance!", fui processado pelo então
presidente Eduardo José Farah
por ter comparado, com humor e
ironia, a FPF a um "cafofo".
O termo estava em voga por
conta de um desses "reality
shows" da TV. Designava uma espécie de esconderijo onde aconteciam coisas bastante presumíveis,
mas não exatamente às claras.
O motivo da crítica foi a maneira apressada e não muito transparente com que se conduziu o
processo eleitoral na FPF. A ação
de Farah acabou rechaçada pela
Justiça, mas, ao que parece, os
problemas continuam, apesar das
renovadas promessas de transparência do novo presidente.
Agora está na berlinda a licitação para placas publicitárias no
Paulista de 2005. É por essas e outras que pessoas sérias e dispostas
a trabalhar pelo futebol no país se
sentem cada vez mais desestimuladas -algumas definitivamente
desencantadas quanto às perspectivas de mudança qualitativa
nos atuais padrões de gestão.
A decisão da CBF de limitar o
mercado de transferência de jogadores para o exterior a datas definidas só disciplina o êxodo, que se
tornou incontrolável. Ninguém é
insano a ponto de achar que o
Brasil tem condições de evitar que
as grandes estrelas migrem para o
rico futebol europeu. Não há dúvida, porém, de que o futebol brasileiro poderia reunir condições
bem melhores para segurar parte
de seus valores por mais tempo e
obter negociações mais vantajosas quando fosse o caso.
Triunfa, porém, o conformismo
pragmático: não tem jeito, é isso
mesmo, vamos torcer para aparecer craques mais jovens. Quem
sabe um dia ficaremos felizes em
ver criancinhas batendo bola com
talento por alguns meses antes de
embarcar para a Rússia, a Turquia ou sabe-se lá onde.
Amanhã, Santos e Corinthians
entram em campo. A rivalidade e
o futebol mais desenvolto do Santos prometem algum interesse. O
Corinthians tem a motivação de
tentar quebrar o jejum contra o
rival, que luta para reconquistar
a liderança. Alberto, ex-Santos,
no Corinthians, pode criar alguma expectativa. Veremos.
Romário
Chego atrasado nos comentários sobre o anúncio da despedida de Romário e o lugar do
craque entre as grandes estrelas
do futebol. Romarista desde
sempre, considero o craque
criado pelo Vasco um dos
maiores jogadores de todos os
tempos. Como bem observou
Tostão em sua coluna, o fato de
que tenha alongado sua carreira além do necessário e se tornado, por isso mesmo, um atacante mais estático na área, poderá embaçar a visão de um jogador que foi extremamente rápido, criativo e fulminante, dono de uma técnica refinadíssima, ousada e belíssima de jogar
futebol. Fez coisas incríveis na
Europa antes de ser conduzido
pelos braços do povo à seleção
de 94 e ser o fator decisivo da
conquista. É um verdadeiro gênio da raça. Cracaço de bola.
E-mail mag@folhasp.com.br
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