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XICO SÁ
Divina comédia ludopédica
O Brasileiro segue como um
certame com muita graça,
especialmente onde os
grandes flertam com o demo
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, agora é o São Paulo nos
céus e a briga de foice no escuro dos terráqueos. Vai faltar vaga no
purgatório para tantos pecadores, e
só nos resta botar mais lenha nas
chamas do inferno do rebaixamento. Tudo que respira conspira a favor
do tricolor, diria o samurai-polaco,
amigo figadal de Curitiba. Além de
fazer a sua parte, os outros também
entregaram a rapadura. Agora é
dançar a polca do diabo russo.
Um campeonato mais fácil do que
empurrar bêbado em ladeira, mesmo que tenha sucumbido ontem
(escrevo ainda ao lusco-fusco da
véspera) diante do vermelho e o negro no Maraca, ali onde o espírito de
Obdulio Varela fez morada, ali onde
nada mais é impossível depois do fatídico 16 de julho de 1950.
Um certame, porém, com muita
graça, principalmente na zona em
que os grandes flertam com o demo.
Repare que o técnico Leão, com toda
a sua pompa e juba, está de novo, como aconteceu no Corinthians, na
peleja para não cair em Minas. Pena
que esteja à frente do Atlético, que
jamais merece descer do seu poleiro
de glórias e testosteronas legítimas.
Amigo Paulo Jacinto, meu velho
Feijão de cinemas tantos, você sabia
que o galo é o único animal do mundo que canta depois que goza? Pois
é, nesta lição da natureza está a força
do alvinegro de Dadá Maravilha.
Porque o homem normal goza e entristece, acalma, entedia, no máximo faz carinho de leve na nega antes
de fumar o king-size do desprezo.
Não por acaso o América, o diabo
rubro potiguar da Barreira do Inferno, já espera os outros três bons
companheiros.
Segundo as últimas profecias de
Edgar, o corvo mal-assombrado
aqui de casa, pelo menos um alvinegro terá como destino a Segundona.
Ah, corvo picareta, assim também
fica fácil pisar nos astros distraídos e
tecer augúrios de quinta. Ora, os alvinegros são maioria na elite: Figueirense, Corinthians, o louvado
Atlético, Santos, Vasco da Gama.
O agourento bípede que voou da
estante empoeirada para a minha
pobre vida em branco e preto adverte: ""Sabes do que estou falando, seu
cronista de quinta!". Daí aponta o
Galo, o Timão e o Figueira entre os
que vivem perigosamente. Catastrófico, faz coro com o Neto, seu comentarista preferido: ""Tem coisas
que só acontecem com o Botafogo".
O corvo não descarta um desastre
com o seu time do peito. Que sai de
candidato ao título ao enxofre do inferno. ""Vade retro", grasna o bípede.
Na única coluna de jornal do mundo em que os bichos ainda falam, os
periquitos em festa nas Perdizes e
na Vila Madalena pedem um direito
de resposta urgente: ""Poxa, você
nunca fala do Palmeiras, outro dia
quase cagamos na sua cabeça quando subia a Luminárias em direção à
taberna dos escribas, mas tudo bem.
Respeitamos, porque você estava
com a cria da sua costela, musa clorofilada e palestrina de nascença".
É, amigo, a divina comédia ludopédica nunca esteve tão cheia de
graça. Tanto que o provocador Marco Aurélio Cunha -o futebol carece
dessa buena onda- já tem até desculpa para uma derrota domingo: a
queda do Corinthians prejudica o
futebol paulistano. Entrou pela perna do pato, saiu pela perna do pinto,
quem quiser que conte outra, que eu
já ganhei o leite dos meninos!
xico.folha@uol.com.br
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