São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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XICO SÁ

Divina comédia ludopédica

O Brasileiro segue como um certame com muita graça, especialmente onde os grandes flertam com o demo

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, agora é o São Paulo nos céus e a briga de foice no escuro dos terráqueos. Vai faltar vaga no purgatório para tantos pecadores, e só nos resta botar mais lenha nas chamas do inferno do rebaixamento. Tudo que respira conspira a favor do tricolor, diria o samurai-polaco, amigo figadal de Curitiba. Além de fazer a sua parte, os outros também entregaram a rapadura. Agora é dançar a polca do diabo russo.
Um campeonato mais fácil do que empurrar bêbado em ladeira, mesmo que tenha sucumbido ontem (escrevo ainda ao lusco-fusco da véspera) diante do vermelho e o negro no Maraca, ali onde o espírito de Obdulio Varela fez morada, ali onde nada mais é impossível depois do fatídico 16 de julho de 1950.
Um certame, porém, com muita graça, principalmente na zona em que os grandes flertam com o demo.
Repare que o técnico Leão, com toda a sua pompa e juba, está de novo, como aconteceu no Corinthians, na peleja para não cair em Minas. Pena que esteja à frente do Atlético, que jamais merece descer do seu poleiro de glórias e testosteronas legítimas.
Amigo Paulo Jacinto, meu velho Feijão de cinemas tantos, você sabia que o galo é o único animal do mundo que canta depois que goza? Pois é, nesta lição da natureza está a força do alvinegro de Dadá Maravilha.
Porque o homem normal goza e entristece, acalma, entedia, no máximo faz carinho de leve na nega antes de fumar o king-size do desprezo.
Não por acaso o América, o diabo rubro potiguar da Barreira do Inferno, já espera os outros três bons companheiros.
Segundo as últimas profecias de Edgar, o corvo mal-assombrado aqui de casa, pelo menos um alvinegro terá como destino a Segundona.
Ah, corvo picareta, assim também fica fácil pisar nos astros distraídos e tecer augúrios de quinta. Ora, os alvinegros são maioria na elite: Figueirense, Corinthians, o louvado Atlético, Santos, Vasco da Gama.
O agourento bípede que voou da estante empoeirada para a minha pobre vida em branco e preto adverte: ""Sabes do que estou falando, seu cronista de quinta!". Daí aponta o Galo, o Timão e o Figueira entre os que vivem perigosamente. Catastrófico, faz coro com o Neto, seu comentarista preferido: ""Tem coisas que só acontecem com o Botafogo".
O corvo não descarta um desastre com o seu time do peito. Que sai de candidato ao título ao enxofre do inferno. ""Vade retro", grasna o bípede.
Na única coluna de jornal do mundo em que os bichos ainda falam, os periquitos em festa nas Perdizes e na Vila Madalena pedem um direito de resposta urgente: ""Poxa, você nunca fala do Palmeiras, outro dia quase cagamos na sua cabeça quando subia a Luminárias em direção à taberna dos escribas, mas tudo bem.
Respeitamos, porque você estava com a cria da sua costela, musa clorofilada e palestrina de nascença".
É, amigo, a divina comédia ludopédica nunca esteve tão cheia de graça. Tanto que o provocador Marco Aurélio Cunha -o futebol carece dessa buena onda- já tem até desculpa para uma derrota domingo: a queda do Corinthians prejudica o futebol paulistano. Entrou pela perna do pato, saiu pela perna do pinto, quem quiser que conte outra, que eu já ganhei o leite dos meninos!


xico.folha@uol.com.br

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