São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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Ótima para MSI, parceria corintiana pára na Justiça

Oposição tenta liminar para impedir reunião que vai passar à empresa fundada em paraíso fiscal o controle de uma receita que supera o investimento prometido

PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians para oficializar a parceria do Corinthians com a MSI, marcada para hoje, corre o risco de nem acontecer. O acordo colocará nas mãos da empresa receitas bem maiores do que o investimento previsto.
Conselheiros contrários ao acordo tentam conseguir uma liminar na Justiça para impedir que o encontro aconteça.
Para impedir que a diretoria tome providência contra a medida judicial, os opositores não divulgam detalhes de sua estratégia.
Uma das idéias é alegar que a votação não pode acontecer porque foram convocados conselheiros que recebem dinheiro para trabalhar pelo clube. O estatuto corintiano diz que eles não podem tomar decisões que interfiram nas finanças corintianas.
Um grupo, liderado pelo ex-presidente Waldemar Pires, reuniu-se ontem para discutir como convencer mais conselheiros a votarem contra. A aprovação já é dada como certa até por alguns deles, já que o presidente Dualib costuma vencer as disputas no conselho, recheado de integrantes indicados por ele.
Um dos principais argumentos é que o valor oferecido pela Media Sports Investments é pequeno.
E, pelos principais pontos do contrato, o grupo liderado pelo iraniano Kia Joorabchian realmente vai pagar ao clube nos próximos dez anos menos do que as receitas previstas no período.
São US$ 35 milhões (R$ 98,7 milhões). Dessa quantia, US$ 20 milhões serão dados imediatamente para o pagamento de dívidas. Em seguida, outros US$ 15 milhões serão investidos em contratações. Mais R$ 200 mil mensais (R$ 24 milhões em dez anos) irão para a parte social. O grupo de Kia também bancará a folha de pagamento do futebol e irá custear o departamento amador.
Em troca, a empresa fica com todas as receitas do clube. Os lucros serão divididos: 51% para o parceiro, 49% para o Corinthians.
Segundo dados oficiais do próprio clube, que estão em balanço publicado no "Diário Oficial", o Corinthians teve receitas em 2003, ano marcado pela crise, de R$ 44,6 milhões com seu departamento de futebol profissional. Tirando a receita obtida com a negociação de atletas, são R$ 38,4 milhões com o faturamento de direitos de TV, patrocínios, bilheteria e licenciamentos.
Vai ser muito difícil esse valor diminuir nos próximos anos. Assim, é certo que o Corinthians vai gerar, só com esses itens, ao menos R$ 384 milhões em dez anos.
A MSI vai injetar bem menos dinheiro. Com pagamento de dívidas, contratações, salários e dinheiro para o departamento social, a empresa deve desembolsar R$ 242,7 milhões, ou, a grosso modo, R$ 141,3 milhões a menos do que as receitas básicas.
"Só com nossos patrocinadores podemos conseguir o valor que a empresa vai nos dar pelo acordo. Não precisamos dessa parceria. Além do mais, não sabemos de onde vem o dinheiro", disse Pires.
Para defender a parceria, o conselheiro Andrés Sanchez, ex-vice do clube e que participou da administração do futebol neste ano, subestima as receitas corintianas.
"Gastamos de US$ 12 milhões a 14 milhões com o futebol por ano. As receitas são de US$ 8 milhões anuais. Então, o contrato é bom", diz o conselheiro. Porém o balanço do clube no último ano mostra números diferentes. Segundo o documento, a receita do futebol em 2003 foi de US$ 15,7 milhões.
As contas de Sanchez contrariam também a diretoria, que diz que o futebol não é deficitário.
Além de discordar dos valores, os opositores afirmam que o clube será usado para lavar dinheiro. "Mesmo que o dinheiro passe pelo Banco Central, o clube pode ter de devolvê-lo, se no futuro o país de origem descobrir que ele resultou de ações ilegais. Quem aprovou a parceria pode ser responsabilizado criminalmente", disse o conselheiro Romeu Tuma Júnior.
"Nossos advogados garantem que, se o dinheiro entrar legalmente, não corremos riscos", rebateu Sanchez. A reunião acontece às 20h. Às 19h, o Conselho de Orientação Fiscal se reúne para ver o contrato e dar seu parecer.


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