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Ótima para MSI, parceria corintiana pára na Justiça
Oposição tenta liminar para impedir reunião que vai passar à empresa fundada em paraíso fiscal o controle de uma receita que supera o investimento prometido
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians para oficializar a parceria do Corinthians
com a MSI, marcada para hoje,
corre o risco de nem acontecer. O
acordo colocará nas mãos da empresa receitas bem maiores do
que o investimento previsto.
Conselheiros contrários ao
acordo tentam conseguir uma liminar na Justiça para impedir que
o encontro aconteça.
Para impedir que a diretoria tome providência contra a medida
judicial, os opositores não divulgam detalhes de sua estratégia.
Uma das idéias é alegar que a
votação não pode acontecer porque foram convocados conselheiros que recebem dinheiro para
trabalhar pelo clube. O estatuto
corintiano diz que eles não podem tomar decisões que interfiram nas finanças corintianas.
Um grupo, liderado pelo ex-presidente Waldemar Pires, reuniu-se ontem para discutir como
convencer mais conselheiros a
votarem contra. A aprovação já é
dada como certa até por alguns
deles, já que o presidente Dualib
costuma vencer as disputas no
conselho, recheado de integrantes
indicados por ele.
Um dos principais argumentos
é que o valor oferecido pela Media
Sports Investments é pequeno.
E, pelos principais pontos do
contrato, o grupo liderado pelo
iraniano Kia Joorabchian realmente vai pagar ao clube nos próximos dez anos menos do que as
receitas previstas no período.
São US$ 35 milhões (R$ 98,7 milhões). Dessa quantia, US$ 20 milhões serão dados imediatamente
para o pagamento de dívidas. Em
seguida, outros US$ 15 milhões
serão investidos em contratações.
Mais R$ 200 mil mensais (R$ 24
milhões em dez anos) irão para a
parte social. O grupo de Kia também bancará a folha de pagamento do futebol e irá custear o departamento amador.
Em troca, a empresa fica com
todas as receitas do clube. Os lucros serão divididos: 51% para o
parceiro, 49% para o Corinthians.
Segundo dados oficiais do próprio clube, que estão em balanço
publicado no "Diário Oficial", o
Corinthians teve receitas em 2003,
ano marcado pela crise, de R$
44,6 milhões com seu departamento de futebol profissional. Tirando a receita obtida com a negociação de atletas, são R$ 38,4
milhões com o faturamento de direitos de TV, patrocínios, bilheteria e licenciamentos.
Vai ser muito difícil esse valor
diminuir nos próximos anos. Assim, é certo que o Corinthians vai
gerar, só com esses itens, ao menos R$ 384 milhões em dez anos.
A MSI vai injetar bem menos dinheiro. Com pagamento de dívidas, contratações, salários e dinheiro para o departamento social, a empresa deve desembolsar
R$ 242,7 milhões, ou, a grosso
modo, R$ 141,3 milhões a menos
do que as receitas básicas.
"Só com nossos patrocinadores
podemos conseguir o valor que a
empresa vai nos dar pelo acordo.
Não precisamos dessa parceria.
Além do mais, não sabemos de
onde vem o dinheiro", disse Pires.
Para defender a parceria, o conselheiro Andrés Sanchez, ex-vice
do clube e que participou da administração do futebol neste ano,
subestima as receitas corintianas.
"Gastamos de US$ 12 milhões a
14 milhões com o futebol por ano.
As receitas são de US$ 8 milhões
anuais. Então, o contrato é bom",
diz o conselheiro. Porém o balanço do clube no último ano mostra
números diferentes. Segundo o
documento, a receita do futebol
em 2003 foi de US$ 15,7 milhões.
As contas de Sanchez contrariam também a diretoria, que diz
que o futebol não é deficitário.
Além de discordar dos valores,
os opositores afirmam que o clube será usado para lavar dinheiro.
"Mesmo que o dinheiro passe pelo Banco Central, o clube pode ter
de devolvê-lo, se no futuro o país
de origem descobrir que ele resultou de ações ilegais. Quem aprovou a parceria pode ser responsabilizado criminalmente", disse o
conselheiro Romeu Tuma Júnior.
"Nossos advogados garantem
que, se o dinheiro entrar legalmente, não corremos riscos", rebateu Sanchez. A reunião acontece às 20h. Às 19h, o Conselho de
Orientação Fiscal se reúne para
ver o contrato e dar seu parecer.
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