São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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JUCA KFOURI

Saudade do verdadeiro Palmeiras


O colunista e diretor de cinema responde a esta coluna e faz uma ode àquele Palmeiras que mataram


UGO GIORGETTI está aqui.
O que segue abaixo é a carta em que responde ao que escrevi. Uma ode ao verdadeiro Palmeiras.
Transcrevo-a integralmente, mas faço duas observações: nem fiz nenhum reparo à coluna dele que motivou a minha nem apontei quaisquer equívocos.
Limitei-me a tentar mostrar a outra face da mesma moeda, porque, afinal, o que seria do Corinthians se não existisse o Palmeiras?
"Caro amigo: Não é a primeira vez que, ao ler sua coluna, sou surpreendido pela minha presença nela. E sempre apareço descrito da maneira mais simpática e amiga.
Essa última, apesar dos reparos, não foi exceção. E você tem razão ao apontar meus equívocos. Mas talvez o principal você tenha deixado de mencionar por pura generosidade: não sou cronista esportivo, na acepção da palavra, com as qualidades necessárias.
Meu caro Juca, sou só um torcedor, que alguém bondosamente supôs que pudesse escrever num jornal importante e eu, por pura irresponsabilidade, aceitei. E para piorar sou torcedor do Palmeiras, como você bem sabe. Típico. Ou pelo menos como éramos, tempos atrás.
Para esse palmeirense a vitória só nunca bastou, o que importava era o consenso geral, irrestrito, reconhecido por todos, eu digo todos, que o Palmeiras tinha um grande time. Nunca fomos de feitos épicos, nunca nos interessou jogadores de fibra e raça. Nunca viramos resultados. Mas éramos arrogantemente muito, muito bons e temidos. E exigíamos isso dos nossos ídolos. Não fibra, não suor de camisa, mas classe.
Tivemos a coragem de trazer Jair Rosa Pinto quando a torcida do Flamengo tinha acabado de queimar publicamente sua camisa, exatamente por falta de luta e garra. E assim seguimos diferentes. Nossos ídolos foram Chinesinho, o único que correu na briga de 1959 contra o Uruguai, Ademir, que tinha todas as virtudes, menos garra, Djalminha, o que batia pênaltis quase entediado. Isso é o Palmeiras.
Não queremos ganhar sempre: sabemos que é impossível. Só queremos continuar diferentes, uma minoria, um time que ousou perder uma Libertadores porque seu lateral-direito se viu no direito de aplicar um chapéu dentro da área -perdeu a bola e o título. Mas a torcida esperava exatamente essa atitude do grande Djalma Santos. Preferimos perder um título do que o prazer do chapéu ou de qualquer outro símbolo da nossa classe. É assim que somos, ou assim que éramos. Vi, em pleno Parque Antarctica, o Palmeiras ganhando por 4 a 1 -um 4 a 1!-, o Rivaldo errar um passe e receber sonora reprimenda! Eu tinha um certo orgulho disso. Por isso não me reconheço nisso que está aí agora.
Não me importa nem um pouco perder para o Corinthians. Mas todas as vezes que perdemos obrigamos o Corinthians a jogar muita bola. É só esse nosso desejo. Eu estava lá nos famosos 4 a 3, sensacionais. Aquele Palmeiras era tão bom que obrigou o Corinthians a jogar mais do que sabia para ganhar. E ganhou e ninguém ficou insatisfeito. Outra coisa foi esse último, onde o Corinthians não foi obrigado a jogar nada para ganhar. Isso não é o Palmeiras...
É por isso, meu caro, que eu inventei esse garoto, que não existe. No apartamento acima do meu moram duas irmãs simpáticas e inofensivas que, acho, jamais puseram os pés num estádio. Agora, quem passa todo dia diante da placa Palaia Administradora Imobiliária sou eu. Daí resolvi inventar história do garoto para fustigar um pouco o administrador... de imóveis. Devia ter escrito domingo isso que eu escrevi agora pra você. Mas isso só escrevo para amigos que gosto e respeito.
Um forte abraço. Ser citado na sua coluna é um privilégio raro. Ugo."

blogdojuca@uol.com.br


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