São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2011

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FOCO

'Maradona negro', 9 clubes aos 19, quer encerrar vida nômade

DE SÃO PAULO

"Ele é um cara para dentro. Não é triste, mas é fechado. A vida bateu demais nele. Foi muita pancada e sofrimento."
É dessa forma que Wanilton César Silva, o Cesinha, define Maycon Ferreira da Cruz, 19, seu quase filho adotivo.
Chamado de "Maradona Negro" e com potencial comparado ao de Neymar nos tempos da base, Nikão pode receber hoje a primeira chance entre os titulares do Bahia.
O meia-atacante, que treinou na equipe principal durante a semana e disputa vaga com Magno para o jogo de hoje, está há pouco mais de cinco meses no clube. Parece pouco, mas não para ele.
Apesar de muito jovem, acumula nove clubes na carreira. Começou no Mirassol e já defendeu Palmeiras, Santos, Atlético-MG e Vitória.
Também passou por CSKA, da Rússia, PSV, da Holanda, e um time da Arábia Saudita. Só não ficou porque seu estafe não quis dar "um jeitinho" para que o menino que nem havia completado 13 anos pudesse se transferir definitivamente para o exterior.
"Foi bom para pegar experiência de vida. Mas isso [essa troca de times] me prejudicou. Os meninos da minha idade que jogam estão faz tempo no mesmo time", diz.
Mas, para Cesinha, que descobriu Nikão aos oito anos em um campinho de terra em Montes Claros (MG), o fato de o "filho" ainda não ter explodido no futebol tem outra explicação: as dificuldades que a vida lhe impôs. "Ele perdeu o foco por dois, três anos. Queria largar tudo. Envolveu-se com bebidas e mulheres."
O jogador nunca viu o pai. Na infância, perdeu a mãe. A avó, que o criou, morreu há três anos. E o irmão a que era mais apegado, envolvido com tráfico de drogas e assaltos, morreu no ano passado.
Foi acolhido por seu empresário, Carlos Alberto, e por Cesinha como filho postiço.
Morou com o primeiro nos quatro anos em que viveu em Mirassol. O segundo foi acionado quando a carreira do menino, em um quadro de depressão, ameaçava desabar.
"Quando cheguei ao Santos, ele estava uns 5 kg acima do peso e não tinha vontade para nada", lembra Cesinha, que desde então vive com o meia e não desgruda dele.
Restabelecido das crises, ganhou um irmão (um dos gêmeos dados por sua mãe após o parto o procurou) e quer que 2011 acabe logo para voltar ao Atlético-MG, detentor dos seus direitos. Aí, planeja encerrar a vida nômade. (RR)


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