UOL


São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Clubes sugerem que atleta ganhe por produtividade


Cartolas querem incluir em futura legislação que os salários de jogadores tenham valores variáveis, proporcionais ao desempenho do time, mas sem prejuízo às multas rescisórias


JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se depender dos cartolas, os atletas agora vão ter que passar a jogar melhor para ganhar mais.
É que os dirigentes querem enviar emenda ao Estatuto do Desporto, texto cujo projeto tramita na Câmara dos Deputados e vai unificar a legislação esportiva brasileira, para permitir aos clubes pagarem uma parte do salário dos jogadores fixa e outra variável.
"Acho justo o jogador receber por produtividade", disse Alberto Dualib, presidente do Corinthians. "Se o time vai mal, é desclassificado. Natural que todos ganhem menos. Se for campeão ou conseguir vaga na Libertadores, aí pode sim ganhar mais."
Só que o que Dualib e os principais dirigentes do Clube dos 13, entidade que reúne 20 dos maiores times brasileiros, querem é poder incluir o valor variável na multa que os clubes receberiam caso o atleta seja negociado.
Desde 2001, quando o passe foi extinto, os clubes são indenizados em caso de transferência de jogadores de acordo com o tempo de contrato que faltava cumprir e o salário que recebiam. Quanto mais tempo faltasse e quanto maior o salário, maior a multa contratual, que poderia atingir até 200 vezes o salário anual.
"Se pudermos incluir na multa o valor variável [do salário], ótimo. A multa fica maior, e não precisamos gastar tanto se o jogador e o time não renderem o esperado", comentou Dualib no "Fórum do Futebol", evento da Fundação Getúlio Vargas que teve apoio do Clube dos 13 e da Federação Paulista de Futebol.
Durante o evento, Antônio Carlos Kfouri Aidar, professor da FGV, apresentou estudo sobre o futebol brasileiro em que criticou a fixação do valor da cláusula penal, em caso de transferência de jogadores, com base na remuneração anual.
Na mesma linha de Dualib, ele lembrou que "muitas empresas optam pelo pagamento de salários variáveis, cujos valores são maiores nas vacas gordas e menores nas magras". "Para os clubes de futebol esse tipo de remuneração seria vital", afirmou.
Além da questão do salário variável, o Clube dos 13 já havia sugerido que o estatuto limitasse em 6% a comissão dos empresários, que seriam impedidos de representar mais de três atletas por clube e não poderiam firmar contrato com menores de 18 anos. Havia proposto também que o direito de arena, que repassa aos jogadores 20% sobre os contratos de TV de seus times, fosse extinto.
Os sindicatos dos atletas profissionais de São Paulo e do Rio já se manifestaram contrários à extinção do direito de arena, mas ficaram de estudar a proposta do salário variável.
"Ganhar por produtividade é um conceito interessante, mas acho bom lembrar que se existe jogador que ganha muito e rende menos do que o esperado a culpa não é do atleta. Se os clubes pagam muito foi porque eles quiseram assim, ninguém os forçou a nada", declarou o ex-jogador Sócrates, um dos presentes ao seminário em São Paulo.
Em seguida, ele complementou: "Só sou contra se a produtividade avaliada for a do atleta individualmente, isso não existe. O clube pode pagar por desempenho, mas tem de levar em conta o desempenho do time como um todo, os resultados do grupo, não de um jogador. Futebol é coletivo."
Outro pedido dos clubes ao governo é a renegociação das dívidas com a Receita Federal. "Precisamos de um Refis especial para os clubes de futebol", disse Mustafá Contursi, presidente do Palmeiras. "O clube só pode entrar no programa [de refinanciamento das dívidas] se tiver condições de pagar os impostos atuais, os devidos neste ano, e a maioria deles não tem", argumentou.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Frases
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.