São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009 |
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JOSÉ GERALDO COUTO Da África ao Maracanã
TUDO INDICA que o Brasil não terá moleza na primeira fase da Copa do Mundo. Se a Coreia do Norte está destinada a ser o saco de pancadas do nosso grupo, Portugal e Costa do Marfim deverão ser pedras consideráveis na chuteira da seleção canarinho. Na fase seguinte, supondo que passemos pela primeira, o adversário no mata-mata deverá ser a Espanha ou o Chile. Na primeira hipótese, pedreira. Na segunda, obstáculo de respeito. E vamos que vamos. Mas os grupos da França, da Holanda e da Alemanha me parecem bem mais difíceis. Baba mesmo só a Espanha pegou. O que me chamou mais a atenção na hollywoodiana cerimônia de sorteio dos grupos, transmitida na íntegra pela TV Bandeirantes, foi a avalanche de clichês e estereótipos da África. Futebol jogado por animais selvagens, gente que trabalha dançando, coral de Soweto cantando "Pata Pata"... Como bem observou o colega Leonardo Cruz, imagine o que vem por aí em 2014. Desta vez fez bem a Globo, que transmitiu a coisa quando começou de fato o sorteio, e deu show de competência e agilidade. Espírito de porco Está tudo pronto para a festa do Flamengo, amanhã no Maracanã. Só faltou (se é que faltou) combinar com os jogadores do Grêmio. O fato é que, dada a considerável vantagem rubro-negra na tabela, a Rede Globo tem se sentido à vontade para comemorar o título por antecipação, como se se tratasse de uma vitória de todos os brasileiros, quiçá de toda a espécie humana. É verdade que há poucas coisas mais belas no mundo do que o Maracanã lotado, pulsando com a energia da massa flamenguista. Mas essa unanimidade forjada, essa euforia compulsória, que parece ter contagiado até o corvo Edgar do Xico Sá, desperta em mim os sentimentos mais antissociais. Contra o espírito de manada, às vezes cai bem um pouco de espírito de porco (sem alusão ao Palmeiras). Claro que tenho um respeito quase religioso pelo manto rubro -negro. Claro que admiro Adriano, Petkovic e sobretudo Andrade. Mas o demônio do jornalismo vem me cochichar ao ouvido o segredo mais antigo dessa malsinada profissão, o de que a boa notícia é, na verdade, a notícia ruim. Ou seja, se o time da Gávea vencer, fazendo a alegria de sua imensa nação de torcedores, as manchetes do dia seguinte dirão: "Flamengo confirma favoritismo e conquista seu sexto título nacional". Quer coisa mais previsível e aborrecida do que essa? Só comparável às fotos da volta olímpica, do papel picado, das bandeiras desfraldadas. Já a derrota flamenguista traria a seiva da surpresa e abriria novas possibilidades dramáticas e estéticas. Outras cores em festa, contrapostas à imagem abatida dos que já se viam com a mão na taça. Pensando bem, um tremendo clichê também, mas bem menos esperado. Duas outras partidas deste domingo serão eletrizantes, pois para seus participantes tudo estará em jogo: Botafogo x Palmeiras, contrapondo um time ameaçado de degola e um aspirante à taça, e Coritiba x Fluminense, jogo da morte entre dois que tentam fugir do abismo. jgcouto@uol.com.br Texto Anterior: Grêmio afasta dupla de zaga titular Próximo Texto: Pressionado, governo "segura" licitação Índice |
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