São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2009

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bola cheia

Dono da Traffic agora defende esporte do país

Ministro põe J.Hawilla, parceiro do Palmeiras, no Conselho Nacional de Esporte

Ministério admite que nomeação pode gerar polêmica, mas diz que reforça "democracia" do órgão, já que ele reúne pessoas de diversos setores


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
GIULIANA BIANCCONI
DA REPORTAGEM LOCAL

No final do ano em que se consolidou como uma das pessoas mais influentes do futebol brasileiro, J. Hawilla, o dono da Traffic, parceira do Palmeiras, foi nomeado conselheiro do Ministério do Esporte.
No dia 19 de dezembro, o "Diário Oficial" da União publicou portaria do ministro Orlando Silva Jr. transformando o empresário, que também despejou milhões em outros clubes, em membro do CNE (Conselho Nacional de Esporte).
O órgão, diretamente ligado ao ministério, reúne gente de várias classes e entidades. Hawilla entrou como um dos seis "representantes do desporto nacional". A indicação desse sexteto é de responsabilidade exclusiva do ministro.
O grupo abriga 22 integrantes e tem entre seus deveres propor prioridades para a aplicação dos recursos do ministério, expedir diretrizes para o controle antidoping, emitir pareceres e recomendações sobre questões desportivas nacionais e aprovar mudanças nos códigos de Justiça Desportiva.
E o que o parceiro do Palmeiras, que construiu um império com placas de publicidade nos estádios e comandando meios de comunicação, tem a ver com essas questões do esporte?
"Pode ser uma indicação polêmica, mas todo conselho tem que ser democrático. Precisa ter representantes da iniciativa privada, do empresariado, do setor não público", afirmou Wadson Nathaniel Ribeiro, que ocupa interinamente o cargo de ministro do Esporte durante as férias de Silva Jr.
Polêmica a indicação já causou. Membros do STJD e do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo viram com estranheza a nomeação de um empresário para um órgão ligado ao governo federal.
O proprietário da Traffic entra no lugar de José Carlos Brunoro, ex-técnico de vôlei, que trabalhou na parceria Palmeiras/Parmalat e hoje é diretor do clube de futebol do Pão de Açúcar e dono de uma empresa de consultoria esportiva.
Ao saber pela reportagem sobre a indicação de Hawilla, Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato dos atletas paulistas, ficou surpreso e afirmou: "O ministro está se perdendo".
"Não acho que o Conselho [Nacional de Esporte] precise de empresários ligados a negócios esportivos. Precisa de gente que entenda de esporte", completou Martorelli.
A indicação do empresário acontece no momento em que o STJD e parlamentares estudam medidas para conter avanços de empresas que agem em diversos clubes do país.
Além do Palmeiras, Corinthians, Fluminense, São Paulo e Vitória estão entre as equipes que têm jogadores da Traffic. A empresa também controla o Ituano e o Desportivo Brasil.
Como todos em seu meio, Hawilla terá amplo terreno para atuar na Copa de 2014, que será discutida pelo conselho.
Procurado pela Folha, o empresário falou por meio de sua assessoria de imprensa que estava no aeroporto e não poderia dar entrevista. Só confirmou que foi convidado pelo ministro e disse que não tomou posse porque não pôde ir ao DF no dia. Prometeu comparecer ao primeiro encontro do ano.
A nova ligação entre o ministério e Hawilla, amigo de longa data de Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, é bem ao gosto da diretoria do Palmeiras, que já se orgulhava de ser próxima do governador José Serra, palmeirense, e de Marco Polo Del Nero, presidente da FPF e conselheiro do clube.
O ministro do Esporte também nomeou a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, o ex-árbitro José de Assis Aragão, que vai para o segundo mandato seguido, e Alberto dos Santos Puga Barbosa, que entra no lugar de Eduardo de Rose, especialista em controle de dopagem.
Duas vagas sob a batuta de Silva Jr. estão abertas. Ele fez os convites e espera respostas.


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