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OLIMPÍADA
Apesar do aumento de investimento privado, preparação para Sydney-2000 é dependente do Estado
Dinheiro público ainda banca a conta
LUÍS CURRO
JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local
Lei Pelé, Vasco da Gama e privatizações de estatais.
Esses três fatores são os responsáveis por uma mudança significativa na chamada "conta olímpica" brasileira, ou seja, o montante
de dinheiro que o país investe na
preparação e participação dos
atletas nos Jogos Olímpicos.
A Folha fez um levantamento
dos investimentos para Atlanta-96 e, agora, para Sydney-2000
-este de forma preliminar, já
que ainda faltam sete meses e nove dias para a Olimpíada (15 de
setembro a 1º de outubro).
A principal constatação, comprovada percentualmente, é o aumento do dinheiro privado e a diminuição do dinheiro público.
Em Atlanta-96, a conta olímpica
foi de US$ 18,82 milhões. Desse
montante, 17,45 milhões (93%)
vieram dos cofres públicos -ou
de estatais- e US$ 1,37 milhão
(7%), da iniciativa privada.
Para Sydney-2000, a conta olímpica está estimada até agora em
US$ 28,3 milhões.
O dinheiro do governo federal e
de empresas estatais ainda será
dominante (16,2 milhões -57%
do total), mas há aumento significativo do de empresas privadas
(12,1 milhões -43% do total).
Os valores em reais foram convertidos em dólar (comercial),
para evitar distorções. Em 1996, a
paridade era de US$ 1,00 para R$
1,00. Agora, com a desvalorização
e maior variação diária, tem sido
de, aproximadamente, US$ 1,00
para R$ 1,80 -na última sexta-feira, fechou a R$ 1,77.
O investimento privado cresceu
marcantes 783% de Atlanta-96
para Sydney-2000 (passou de US$
1,37 milhão para US$ 12,1 milhão), e o público diminuiu 7%
(foi de US$ 17,45 milhões para
US$ 16,2 milhões).
Nesta semana, mais uma empresa anunciou seu patrocínio: a
Intelig, concorrente na telefonia
da agora privatizada Embratel,
anunciou contrato com o COB de
US$ 833 mil até dezembro.
A lei e os clubes
O motivo da explosão da participação de empresas foi, em primeiro lugar, a estimativa de que
serão arrecadados US$ 5,6 milhões do Poupa Ganha, resultado
de um convênio entre o telebingo,
que atua em 14 Estados brasileiros, e o COB (Comitê Olímpico
Brasileiro) firmado em outubro
do ano passado.
Isso só foi possível após a aprovação da Lei Pelé, no início de
1998. A lei obriga os bingos a repassarem determinado percentual do que faturarem para o fomento do esporte. No caso do
COB, o acertado foi o repasse de
7% do dinheiro do Poupa Ganha.
Há quem julgue correto incluir
essa parcela na conta pública, pois
foi o governo que criou o mecanismo para que os bingos contribuíssem com o esporte. Mas, na
prática, obrigada ou não, é a empresa privada Poupa Ganha que
desvia parte do que arrecada para
utilização do COB.
Em segundo lugar, alguns clubes, fortificados financeiramente
por parcerias com firmas estrangeiras (bancos e empresas de
marketing), estão iniciando aplicações esportivas fora do futebol.
O caso mais notório é o do Vasco, que tem o Bank of America
(EUA) como parceiro.
Para este ano, o clube carioca
planeja investir US$ 8,6 milhões
nos esportes olímpicos.
Neste momento, segundo sua
assessoria de comunicação, o
Vasco conta com 13 atletas (o nadador Gustavo Borges, o velejador Robert Scheidt e a dupla de
vôlei de praia Shelda e Adriana
Behar estão entre eles) classificados para a Olimpíada, em seis
modalidades -que consomem
cerca de US$ 2,8 milhões.
Esse valor deve aumentar quando o clube carioca fechar sua delegação para Sydney -nesta semana, por exemplo, anunciou a contratação do cavaleiro Rodrigo
Pessoa, nome que certamente integrará a equipe de hipismo.
Parceiro da ISL, gigante suíça de
marketing, o Flamengo, com dois
atletas classificados, ambos na natação, investirá US$ 500 mil.
"Fico muito feliz com isso. Se
todo clube de futebol fizer o que
Vasco e Flamengo fazem, será ótimo", disse à Folha Carlos Arthur
Nuzman, presidente do COB, para, em seguida, emendar seu mais
recente jargão: "O céu é o limite
em termos de patrocínio para o
esporte brasileiro".
Outros clubes que já têm atletas
olímpicos, como Pinheiros e Fluminense, entram só com infra-estrutura para treinamentos.
A equipe Funilense, de São Caetano (Grande São Paulo), que
conta com a nata do atletismo nacional (Claudinei Quirino é o
principal nome), também ajuda
financeiramente os atletas.
As privatizações
O governo federal, por meio do
Indesp (Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto), órgão vinculado ao Ministério dos
Esportes, mais do que dobrou sua
participação na conta olímpica
(US$ 2,8 milhões em 1996, US$ 6,1
milhões agora, ainda sujeitos a
aprovação orçamentária), mas
não foi suficiente para repetir o
investimento público.
A redução acaba sendo efeito de
privatizações do próprio governo.
Nos Jogos de Atlanta-96, havia
apoio de Embratel -para o COB
e para o judô- e Telebrás -para
o atletismo-, em um total de
US$ 6,5 milhões. As duas companhias foram privatizadas em 1998
e não mais soltam verbas para o
COB ou confederações.
O dinheiro de empresas estatais
continua vindo de Banco do Brasil (vôlei), Caixa Econômica Federal (basquete) e Correios (esportes aquáticos), em valores similares aos de quatro anos atrás.
O COB saiu perdendo, pois seu
atual patrocinador estatal, a Petrobras (US$ 1,7 milhão), oferece
bem menos do que a Embratel
fornecia (US$ 4 milhões).
Das principais modalidades, a
única que fechou com um grupo
privado foi o atletismo, que, na semana retrasada, assinou por cinco anos com a Globo Esportes.
Poder de preparação
Na avaliação feita das duas
Olimpíadas, houve ainda a divisão dos investimentos diretos (explícitos para os Jogos) e os indiretos (dinheiro que as grandes federações recebem de patrocinadores para bancar o desenvolvimento -torneios, viagens etc.- de
seus respectivos esportes).
Para a Olimpíada de Sydney, em
comparação com a de Atlanta, os
investimentos diretos aumentaram 122% (de US$ 8,42 milhões
para US$ 18,7 milhões), e os indiretos caíram 8% (de US$ 10,4 milhões para US$ 9,6 milhões), o que
amplia o poder de preparação dos
atletas, mesmo com o COB ressaltando que parte do que recebe é
usada na manutenção da entidade -isso já ocorria em Atlanta.
Não entrou na conta olímpica o
futebol masculino, que é um caso
à parte por a CBF (Confederação
Brasileira de Futebol) se manter
há vários anos com dinheiro privado de patrocinador próprio-
Coca-Cola, quatro anos atrás
(US$ 17,8 milhões), e agora também a Nike (US$ 20 milhões).
O COB, por exemplo, não tem
despesas com a equipe sub-23
que está disputando o Pré-Olímpico, em Londrina (PR), e que obteve, anteontem, sua classificação
para Sydney. Amistosos do time
também ficaram, e posteriormente ficarão, a cargo da CBF.
Nos Jogos, o COB oferecerá instalações na Vila Olímpica, e a
equipe de Wanderley Luxemburgo lá ficará se assim desejar.
Outro valor colocado à parte da
conta, por ser dinheiro que vem
de fora do país, é o do Programa
Solidariedade Olímpica.
Um total de US$ 86,4 mil, diz o
COB, será repassado até setembro
a três confederações brasileiras
(boxe, canoagem e ginástica) pelo
Comitê Olímpico Internacional,
com a finalidade de ajudar na formação e treinamento de atletas.
Com o investimento em Atlanta-96, o Brasil obteve um total de
15 medalhas (três de ouro, três de
prata e nove de bronze).
Eis a divisão por esportes: atletismo (um bronze), basquete
(uma prata, feminino), futebol
(um bronze, masculino), hipismo
(um bronze), iatismo (dois ouros
e um bronze), judô (dois bronzes), natação (uma prata e dois
bronzes), vôlei (um bronze), vôlei
de praia (um ouro e uma prata).
Para Sydney-2000, o aumento
total no investimento, até agora, é
de 50%. Se o percentual for transferido para o número de medalhas, pode-se esperar do Brasil 22
ou 23 pódios nesta Olimpíada.
Mas, por enquanto, o COB se
recusa a fazer uma estimativa dos
resultados que podem vir a ser
obtidos nos próximos Jogos.
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