São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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OLIMPÍADA
Apesar do aumento de investimento privado, preparação para Sydney-2000 é dependente do Estado
Dinheiro público ainda banca a conta

LUÍS CURRO
JOSÉ ALAN DIAS

da Reportagem Local

Lei Pelé, Vasco da Gama e privatizações de estatais.
Esses três fatores são os responsáveis por uma mudança significativa na chamada "conta olímpica" brasileira, ou seja, o montante de dinheiro que o país investe na preparação e participação dos atletas nos Jogos Olímpicos.
A Folha fez um levantamento dos investimentos para Atlanta-96 e, agora, para Sydney-2000 -este de forma preliminar, já que ainda faltam sete meses e nove dias para a Olimpíada (15 de setembro a 1º de outubro).
A principal constatação, comprovada percentualmente, é o aumento do dinheiro privado e a diminuição do dinheiro público.
Em Atlanta-96, a conta olímpica foi de US$ 18,82 milhões. Desse montante, 17,45 milhões (93%) vieram dos cofres públicos -ou de estatais- e US$ 1,37 milhão (7%), da iniciativa privada.
Para Sydney-2000, a conta olímpica está estimada até agora em US$ 28,3 milhões.
O dinheiro do governo federal e de empresas estatais ainda será dominante (16,2 milhões -57% do total), mas há aumento significativo do de empresas privadas (12,1 milhões -43% do total).
Os valores em reais foram convertidos em dólar (comercial), para evitar distorções. Em 1996, a paridade era de US$ 1,00 para R$ 1,00. Agora, com a desvalorização e maior variação diária, tem sido de, aproximadamente, US$ 1,00 para R$ 1,80 -na última sexta-feira, fechou a R$ 1,77.
O investimento privado cresceu marcantes 783% de Atlanta-96 para Sydney-2000 (passou de US$ 1,37 milhão para US$ 12,1 milhão), e o público diminuiu 7% (foi de US$ 17,45 milhões para US$ 16,2 milhões).
Nesta semana, mais uma empresa anunciou seu patrocínio: a Intelig, concorrente na telefonia da agora privatizada Embratel, anunciou contrato com o COB de US$ 833 mil até dezembro.

A lei e os clubes
O motivo da explosão da participação de empresas foi, em primeiro lugar, a estimativa de que serão arrecadados US$ 5,6 milhões do Poupa Ganha, resultado de um convênio entre o telebingo, que atua em 14 Estados brasileiros, e o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) firmado em outubro do ano passado.
Isso só foi possível após a aprovação da Lei Pelé, no início de 1998. A lei obriga os bingos a repassarem determinado percentual do que faturarem para o fomento do esporte. No caso do COB, o acertado foi o repasse de 7% do dinheiro do Poupa Ganha.
Há quem julgue correto incluir essa parcela na conta pública, pois foi o governo que criou o mecanismo para que os bingos contribuíssem com o esporte. Mas, na prática, obrigada ou não, é a empresa privada Poupa Ganha que desvia parte do que arrecada para utilização do COB.
Em segundo lugar, alguns clubes, fortificados financeiramente por parcerias com firmas estrangeiras (bancos e empresas de marketing), estão iniciando aplicações esportivas fora do futebol.
O caso mais notório é o do Vasco, que tem o Bank of America (EUA) como parceiro.
Para este ano, o clube carioca planeja investir US$ 8,6 milhões nos esportes olímpicos.
Neste momento, segundo sua assessoria de comunicação, o Vasco conta com 13 atletas (o nadador Gustavo Borges, o velejador Robert Scheidt e a dupla de vôlei de praia Shelda e Adriana Behar estão entre eles) classificados para a Olimpíada, em seis modalidades -que consomem cerca de US$ 2,8 milhões.
Esse valor deve aumentar quando o clube carioca fechar sua delegação para Sydney -nesta semana, por exemplo, anunciou a contratação do cavaleiro Rodrigo Pessoa, nome que certamente integrará a equipe de hipismo.
Parceiro da ISL, gigante suíça de marketing, o Flamengo, com dois atletas classificados, ambos na natação, investirá US$ 500 mil.
"Fico muito feliz com isso. Se todo clube de futebol fizer o que Vasco e Flamengo fazem, será ótimo", disse à Folha Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, para, em seguida, emendar seu mais recente jargão: "O céu é o limite em termos de patrocínio para o esporte brasileiro".
Outros clubes que já têm atletas olímpicos, como Pinheiros e Fluminense, entram só com infra-estrutura para treinamentos.
A equipe Funilense, de São Caetano (Grande São Paulo), que conta com a nata do atletismo nacional (Claudinei Quirino é o principal nome), também ajuda financeiramente os atletas.

As privatizações
O governo federal, por meio do Indesp (Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto), órgão vinculado ao Ministério dos Esportes, mais do que dobrou sua participação na conta olímpica (US$ 2,8 milhões em 1996, US$ 6,1 milhões agora, ainda sujeitos a aprovação orçamentária), mas não foi suficiente para repetir o investimento público.
A redução acaba sendo efeito de privatizações do próprio governo.
Nos Jogos de Atlanta-96, havia apoio de Embratel -para o COB e para o judô- e Telebrás -para o atletismo-, em um total de US$ 6,5 milhões. As duas companhias foram privatizadas em 1998 e não mais soltam verbas para o COB ou confederações.
O dinheiro de empresas estatais continua vindo de Banco do Brasil (vôlei), Caixa Econômica Federal (basquete) e Correios (esportes aquáticos), em valores similares aos de quatro anos atrás.
O COB saiu perdendo, pois seu atual patrocinador estatal, a Petrobras (US$ 1,7 milhão), oferece bem menos do que a Embratel fornecia (US$ 4 milhões).
Das principais modalidades, a única que fechou com um grupo privado foi o atletismo, que, na semana retrasada, assinou por cinco anos com a Globo Esportes.

Poder de preparação
Na avaliação feita das duas Olimpíadas, houve ainda a divisão dos investimentos diretos (explícitos para os Jogos) e os indiretos (dinheiro que as grandes federações recebem de patrocinadores para bancar o desenvolvimento -torneios, viagens etc.- de seus respectivos esportes).
Para a Olimpíada de Sydney, em comparação com a de Atlanta, os investimentos diretos aumentaram 122% (de US$ 8,42 milhões para US$ 18,7 milhões), e os indiretos caíram 8% (de US$ 10,4 milhões para US$ 9,6 milhões), o que amplia o poder de preparação dos atletas, mesmo com o COB ressaltando que parte do que recebe é usada na manutenção da entidade -isso já ocorria em Atlanta.
Não entrou na conta olímpica o futebol masculino, que é um caso à parte por a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) se manter há vários anos com dinheiro privado de patrocinador próprio- Coca-Cola, quatro anos atrás (US$ 17,8 milhões), e agora também a Nike (US$ 20 milhões).
O COB, por exemplo, não tem despesas com a equipe sub-23 que está disputando o Pré-Olímpico, em Londrina (PR), e que obteve, anteontem, sua classificação para Sydney. Amistosos do time também ficaram, e posteriormente ficarão, a cargo da CBF.
Nos Jogos, o COB oferecerá instalações na Vila Olímpica, e a equipe de Wanderley Luxemburgo lá ficará se assim desejar.
Outro valor colocado à parte da conta, por ser dinheiro que vem de fora do país, é o do Programa Solidariedade Olímpica.
Um total de US$ 86,4 mil, diz o COB, será repassado até setembro a três confederações brasileiras (boxe, canoagem e ginástica) pelo Comitê Olímpico Internacional, com a finalidade de ajudar na formação e treinamento de atletas.
Com o investimento em Atlanta-96, o Brasil obteve um total de 15 medalhas (três de ouro, três de prata e nove de bronze).
Eis a divisão por esportes: atletismo (um bronze), basquete (uma prata, feminino), futebol (um bronze, masculino), hipismo (um bronze), iatismo (dois ouros e um bronze), judô (dois bronzes), natação (uma prata e dois bronzes), vôlei (um bronze), vôlei de praia (um ouro e uma prata).
Para Sydney-2000, o aumento total no investimento, até agora, é de 50%. Se o percentual for transferido para o número de medalhas, pode-se esperar do Brasil 22 ou 23 pódios nesta Olimpíada.
Mas, por enquanto, o COB se recusa a fazer uma estimativa dos resultados que podem vir a ser obtidos nos próximos Jogos.


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