Valorizados na Europa, atletas com idade olímpica ficam na reserva "por falta de treino" no amistoso contra a Irlanda

Transações envolvendo os jogadores sub-23 movimentaram R$ 191 milhões, contra R$ 115 milhões de "veteranos"

Eduardo Knapp/Folha Imagem

O meia Diego, único jogador sub-23 que deve ser titular pelo Brasil hoje, contra a Irlanda, e o atacante Robinho fazem alongamento em treinamento da seleção

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A DUBLIN

O rico mercado europeu valoriza os garotos, mas esse não será o caso de Dunga no primeiro jogo da seleção brasileira no ano, hoje, às 17h45 (de Brasília), com a Irlanda, em Dublin.
O treinador levou 22 jogadores para a partida, metade com idade para disputar a Olimpíada e a outra metade com mais de 23 anos, o limite para estar em Pequim no mês de agosto.
Só que no time que começa a partida, o único olímpico será o meia Diego, que só foi chamado depois do corte de Kaká.
"Não temos tempo para treinar, então é melhor escalar quem já tem experiência na seleção", justificou Dunga, que promete dar oportunidades aos mais jovens na etapa final.
A geração sub-23 brasileira que está na Irlanda rendeu negócios milionários recentemente. Contabilizadas as últimas negociações envolvendo cada um na Europa, clubes gastaram quase 75 milhões, ou cerca de R$ 191 milhões. A turma convocada por Dunga acima dos 23 anos gerou negócios mais modestos -cerca de 45 milhões (R$ 115 milhões).
Mesmo se Ronaldinho, Kaká e Alexandre Pato estivessem presentes, a conta das negociações na Europa ainda seria vencida pelos novatos por cerca de 10 milhões.
Alguns dos garotos chamados por Dunga estão cheios de prestígio na Europa. Anderson, 19, que custou quase R$ 40 milhões ao Manchester, é quase sempre titular no clube inglês.
Até priorizar os atletas que atuam no Brasil em detrimento dos que estão na Europa, o que raramente faz, Dunga vai realizar no amistoso de hoje.
Na lateral esquerda, o são-paulino Richarlyson, 25, que nunca antes havia sido convocado, vai ser o titular. Marcelo, 19, há quase dois anos no Real Madrid e que já jogou na seleção sob o comando de Dunga, fica na reserva.
"O Richarlyson já jogou na zaga e tem facilidade no jogo aéreo. Como a Irlanda tem essa característica, ele é uma boa opção", afirmou o treinador.
"Não tenho idade olímpica, mas tenho que representar bem os jogadores que estão no Brasil", disse o atleta do time do Morumbi, elogiado também por Dunga por atuar em diferentes posições.
Ao dividir o elenco entre olímpicos e "veteranos", Dunga levou para a Irlanda os Jogos de Pequim. A Olimpíada tornou-se assunto quase único.
Nas discussões, a possível recusa dos clubes europeus de cederem atletas -os Jogos acontecem em agosto, quando alguns nacionais do continente já terão começado e outros estarão na pré-temporada.
O primeiro a falar isso foi Anderson. Segundo ele, vai ser difícil convencer Alex Ferguson, o técnico do Manchester. Robinho, que junto com Kaká e Juan é favorito para ocupar uma das três vagas para atletas acima dos 23 anos, também prevê dificuldades.
"A CBF e o Real é que precisam se acertar, mas já tive problemas na Copa América", disse o atacante, referindo-se ao imbróglio entre o clube e a confederação, que atrasou sua apresentação para o torneio no Peru no ano passado. Dunga prefere adiar a polêmica. "A CBF sempre segue o que a Fifa determina, e ela é que vai definir isso", disse o treinador.
Sobrou, então, pouco tempo para discussões envolvendo a partida em si. Luis Fabiano aposta na parceria que vai formar com Robinho. "Tem tudo para dar certo, a gente se completa", disse o artilheiro do Campeonato Espanhol com média superior a um gol por jogo nesta temporada.
Depois do amistoso de hoje, a seleção volta a campo em março, para amistoso em Londres contra a Suécia. Em junho, o time disputa dois jogos pelas eliminatórias.
A equipe olímpica se reúne no final de julho para treinar antes da Olimpíada.