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ATLETISMO
Num caso que pode abrir jurisprudência, queniano leva Iaaf e Wada à Justiça por exame que não foi confirmado
Corredor quer dinheiro por doping errado
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2003, Bernard Lagat, 30, era
apontado como um dos favoritos
ao título mundial nos 1.500 m.
Um obstáculo nas pistas, no entanto, abortou seu projeto.
O queniano teve um teste positivo para eritropoietina, uma das
drogas mais combatidas pelo antidoping. Suspenso preventivamente, foi impedido de participar
do Mundial de Paris-03, viu lançarem suspeitas sobre seus resultados e teve a carreira manchada.
Dois meses depois, o caso foi resolvido. A amostra B, testada pelo
laboratório do Instituto de Bioquímica, de Colônia (Alemanha),
não comprovou o resultado inicial, e Lagat acabou inocentado.
"O que aconteceu foi muito
frustrante para mim. Perdi a
chance de provar, em 2003, que
estava em ótima forma e que seria
capaz de ganhar uma medalha,
talvez até a de ouro", disse à Folha
o queniano, vice-campeão olímpico em Atenas, no ano seguinte.
Insatisfeito com o resultado do
caso -a Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) nem sequer se desculpou
pelo ocorrido-, decidiu ir à Justiça. Agora, pleiteia indenização
de 500 mil (R$ 1,27 milhão) referente aos danos a sua imagem e
ao que deixou de lucrar enquanto
esteve afastado das pistas. Os réus
do processo são a Iaaf e a Wada
(Agência Mundial Antidoping).
"Eu me senti atingido. Após a
divulgação do teste, houve cobertura muito negativa da imprensa.
Mas sabia que era inocente e não
havia tomado drogas", diz ele.
A corte de Colônia negou o pedido em novembro. Lagat entrou
com recurso. O caso permanece
nos tribunais. Se vencer, abrirá jurisprudência. É o primeiro atleta
de prestígio que processa a Wada
por erro em testes desde a adoção
do Código Mundial Antidoping.
"Isso também é uma questão financeira. Sou atleta profissional,
cujo meio de vida depende de
competir", defende o queniano,
que não sabe estimar o que deixou de arrecadar naqueles meses.
"Não sei quanto perdi, porque
não corri. Considerando o meu
nível, foi quantia considerável."
Lagat foi o único a ameaçar a
primazia nos 1.500 m de Hicham
El Guerrouj, considerado o melhor atleta da história da prova.
Em 2001, o queniano fez o tempo
de 3min26s34, o terceiro mais baixo de todos os tempos -os outras dois são do marroquino.
No período em que esteve impedido de ir à pista, Lagat não
atuou nas provas da Liga de Ouro,
conjunto dos seis principais GPs
do calendário, que divide US$ 1
milhão (R$ 2,1 milhões) entre os
campeões de todas as etapas.
Apesar do prejuízo, tanto Iaaf
quanto Wada estranharam o processo. Istvan Gyulai, secretário-geral da entidade que comanda o
atletismo, disse estar "surpreso".
"Não entendo por que fazemos
parte desse litígio", diz ele.
O húngaro afirma, em defesa da
Iaaf, que o responsável pela divulgação do resultado antes da contraprova foi Alf Kimani, médico-chefe da federação queniana, que
foi quem suspendeu o atleta.
Já Elizabeth Hunter, diretora de
comunicações da Wada, vai por
outra linha de argumentação. Para ela, as leis foram seguidas.
"As regras pedem que a amostra
B confirme a A. Nesse caso, isso
não ocorreu. Por conseqüência, o
atleta não foi considerado culpado e não foi punido", relata Hunter, que não quis comentar a ausência de Lagat no Mundial-03.
"Esse caso está sub judice e, como regra geral, a Wada não comenta problemas pendentes. Peço que você nos procure quando
tudo for finalizado", afirmou ela.
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