São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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ATLETISMO

Num caso que pode abrir jurisprudência, queniano leva Iaaf e Wada à Justiça por exame que não foi confirmado

Corredor quer dinheiro por doping errado

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2003, Bernard Lagat, 30, era apontado como um dos favoritos ao título mundial nos 1.500 m. Um obstáculo nas pistas, no entanto, abortou seu projeto.
O queniano teve um teste positivo para eritropoietina, uma das drogas mais combatidas pelo antidoping. Suspenso preventivamente, foi impedido de participar do Mundial de Paris-03, viu lançarem suspeitas sobre seus resultados e teve a carreira manchada.
Dois meses depois, o caso foi resolvido. A amostra B, testada pelo laboratório do Instituto de Bioquímica, de Colônia (Alemanha), não comprovou o resultado inicial, e Lagat acabou inocentado.
"O que aconteceu foi muito frustrante para mim. Perdi a chance de provar, em 2003, que estava em ótima forma e que seria capaz de ganhar uma medalha, talvez até a de ouro", disse à Folha o queniano, vice-campeão olímpico em Atenas, no ano seguinte.
Insatisfeito com o resultado do caso -a Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) nem sequer se desculpou pelo ocorrido-, decidiu ir à Justiça. Agora, pleiteia indenização de 500 mil (R$ 1,27 milhão) referente aos danos a sua imagem e ao que deixou de lucrar enquanto esteve afastado das pistas. Os réus do processo são a Iaaf e a Wada (Agência Mundial Antidoping).
"Eu me senti atingido. Após a divulgação do teste, houve cobertura muito negativa da imprensa. Mas sabia que era inocente e não havia tomado drogas", diz ele.
A corte de Colônia negou o pedido em novembro. Lagat entrou com recurso. O caso permanece nos tribunais. Se vencer, abrirá jurisprudência. É o primeiro atleta de prestígio que processa a Wada por erro em testes desde a adoção do Código Mundial Antidoping.
"Isso também é uma questão financeira. Sou atleta profissional, cujo meio de vida depende de competir", defende o queniano, que não sabe estimar o que deixou de arrecadar naqueles meses.
"Não sei quanto perdi, porque não corri. Considerando o meu nível, foi quantia considerável."
Lagat foi o único a ameaçar a primazia nos 1.500 m de Hicham El Guerrouj, considerado o melhor atleta da história da prova. Em 2001, o queniano fez o tempo de 3min26s34, o terceiro mais baixo de todos os tempos -os outras dois são do marroquino.
No período em que esteve impedido de ir à pista, Lagat não atuou nas provas da Liga de Ouro, conjunto dos seis principais GPs do calendário, que divide US$ 1 milhão (R$ 2,1 milhões) entre os campeões de todas as etapas.
Apesar do prejuízo, tanto Iaaf quanto Wada estranharam o processo. Istvan Gyulai, secretário-geral da entidade que comanda o atletismo, disse estar "surpreso".
"Não entendo por que fazemos parte desse litígio", diz ele.
O húngaro afirma, em defesa da Iaaf, que o responsável pela divulgação do resultado antes da contraprova foi Alf Kimani, médico-chefe da federação queniana, que foi quem suspendeu o atleta.
Já Elizabeth Hunter, diretora de comunicações da Wada, vai por outra linha de argumentação. Para ela, as leis foram seguidas.
"As regras pedem que a amostra B confirme a A. Nesse caso, isso não ocorreu. Por conseqüência, o atleta não foi considerado culpado e não foi punido", relata Hunter, que não quis comentar a ausência de Lagat no Mundial-03.
"Esse caso está sub judice e, como regra geral, a Wada não comenta problemas pendentes. Peço que você nos procure quando tudo for finalizado", afirmou ela.


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