São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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SONINHA

Na hora-do-vamo-vê


Um jogo não deve condenar ou consagrar ninguém. Mas se a qualidade aparece, por que não aplaudi-la?

NO FUNDO , foi por pouco. Se Edmundo errasse a bela conclusão depois da matada no peito aos 17min de primeiro tempo, quem sabe quando o Palmeiras teria outra chance como aquela?
Se Jean fizesse ali uma defesa milagrosa, teria o Corinthians feito um gol no contra-ataque? Se Gustavo acertasse o cabeceio no começo do segundo tempo, qual seria o placar final do clássico no Morumbi?
Dez centímetros para cá ou para lá seriam capazes de modificar quilômetros de análises nos dias seguintes. Com um resultado que não fosse a vitória do Palmeiras, Caio Júnior teria sua competência questionada ("Não é técnico para clube grande"), Edmundo receberia o diagnóstico de vários peritos do INSS decretando sua aposentadoria por invalidez, Valdivia seria denunciado como farsa e a nova diretoria seria alvo de descrédito e condenação sumária.
Um chute torto, um pouco de azar aqui e sorte ali, e pronto.
Mas Edmundo não errou aquele chute nem o outro, o do terceiro gol.
Então sou eu que me arrisco em conclusões "definitivas", a partir das conclusões espetaculares dele: (ainda) é um grande jogador. No contato do pé com a bola, revela o quanto um gosta da outra. A familiaridade e intimidade. Parece bobo e chavão, mas ele não tem medo e sabe o que fazer com a bola. Simples assim. Sabe como ela vem, como chega, a que altura, aonde quer que ela vá. Além de pensar isso tudo, e saber quase sem pensar, faz o que pretende.
Talvez demore semanas para fazer um jogo como esse; talvez eu me pegue praguejando contra ele na próxima partida. Mas Edmundo sabe jogar, e isso faz toda a diferença do mundo na hora-do-vamos-ver.
No segundo tempo, não foram poucos os palmeirenses que pediram sua substituição, pelo cansaço evidente. Não era implicância. Mas queriam que Edmundo corresse, se apresentasse na defesa, fizesse força para buscar bolas distantes. Ele podia mostrar essa disposição para a torcida, ganhar umas e perder outras, mas preferiu correr menos e poupar energia. Deu certo...
Valdivia também cansou. Mas, na descrição perfeita de Luis Ferrari e Paulo Galdieri, tinha a bola colada no pé como se fosse com velcro.
Aporrinhou, apanhou, levou a melhor inúmeras vezes e participou decisivamente dos gols. Do lado de lá, lamentavelmente, foi repreendido. Leão se disse "preocupado" com seu "exagero" e "excessos". "Ele pode ter problemas no futuro"; pode ocorrer "algo mais grave". Que absurdo. Não tem nada mais covarde do que uma ameaça travestida de aviso "de amigo".
O elenco do Corinthians não é excelente, mas o time não é um horror. Leão perdeu peças importantes, mas comete erros contra os quais não há quem resista. Desmontar o meio-campo ou as laterais por mais atacantes tem incrível potencial desorganizador. Mais ainda se os treinos forem sempre como o descrito na Folha outro dia, com muito pouco ensaio de situações de jogo.
Se o Corinthians tivesse empatado ou vencido, o time ganharia moral, mas não teria provado que está no caminho certo. E o Palmeiras, está? Os sinais são alentadores.
A atual gestão, muito mais descolada de Mustafá Contursi do que antes, tem dado mostras de seriedade e boa disposição. (Um exemplo menos simbólico do que parece: a adoção de urnas eletrônicas na última eleição. Os conselheiros não poderão mais dizer, constrangidos, "sabe como é, eu tive de depositar 3 ou 4 votos na urna, é assim que funciona"). Não é perfeita nem será; não deverá ser poupada de críticas só porque elas alimentariam a oposição. Mas tem merecido boa vontade. Caio Júnior também não é infalível, nem o elenco é o melhor do mundo, mas o 3 x 0 foi uma gostosa saudação à nova fase.

soninha.folha@uol.com.br


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