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SONINHA
Na hora-do-vamo-vê
Um jogo não deve condenar ou consagrar ninguém.
Mas se a qualidade aparece, por que não aplaudi-la?
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NO FUNDO , foi por pouco.
Se Edmundo errasse a bela
conclusão depois da matada
no peito aos 17min de primeiro tempo, quem sabe quando o Palmeiras
teria outra chance como aquela?
Se Jean fizesse ali uma defesa milagrosa, teria o Corinthians feito um
gol no contra-ataque? Se Gustavo
acertasse o cabeceio no começo do
segundo tempo, qual seria o placar
final do clássico no Morumbi?
Dez centímetros para cá ou para lá
seriam capazes de modificar quilômetros de análises nos dias seguintes. Com um resultado que não fosse
a vitória do Palmeiras, Caio Júnior
teria sua competência questionada
("Não é técnico para clube grande"),
Edmundo receberia o diagnóstico
de vários peritos do INSS decretando sua aposentadoria por invalidez,
Valdivia seria denunciado como farsa e a nova diretoria seria alvo de
descrédito e condenação sumária.
Um chute torto, um pouco de azar
aqui e sorte ali, e pronto.
Mas Edmundo não errou aquele
chute nem o outro, o do terceiro gol.
Então sou eu que me arrisco em
conclusões "definitivas", a partir das
conclusões espetaculares dele: (ainda) é um grande jogador. No contato
do pé com a bola, revela o quanto um
gosta da outra. A familiaridade e intimidade. Parece bobo e chavão, mas
ele não tem medo e sabe o que fazer
com a bola. Simples assim. Sabe como ela vem, como chega, a que altura, aonde quer que ela vá. Além de
pensar isso tudo, e saber quase sem
pensar, faz o que pretende.
Talvez demore semanas para fazer um jogo como esse; talvez eu me
pegue praguejando contra ele na
próxima partida. Mas Edmundo sabe jogar, e isso faz toda a diferença
do mundo na hora-do-vamos-ver.
No segundo tempo, não foram
poucos os palmeirenses que pediram sua substituição, pelo cansaço
evidente. Não era implicância. Mas
queriam que Edmundo corresse, se
apresentasse na defesa, fizesse força
para buscar bolas distantes. Ele podia mostrar essa disposição para a
torcida, ganhar umas e perder outras, mas preferiu correr menos e
poupar energia. Deu certo...
Valdivia também cansou. Mas, na
descrição perfeita de Luis Ferrari e
Paulo Galdieri, tinha a bola colada
no pé como se fosse com velcro.
Aporrinhou, apanhou, levou a melhor inúmeras vezes e participou decisivamente dos gols.
Do lado de lá, lamentavelmente,
foi repreendido. Leão se disse "preocupado" com seu "exagero" e "excessos". "Ele pode ter problemas no
futuro"; pode ocorrer "algo mais
grave". Que absurdo. Não tem nada
mais covarde do que uma ameaça
travestida de aviso "de amigo".
O elenco do Corinthians não é excelente, mas o time não é um horror.
Leão perdeu peças importantes,
mas comete erros contra os quais
não há quem resista. Desmontar o
meio-campo ou as laterais por mais
atacantes tem incrível potencial desorganizador. Mais ainda se os treinos forem sempre como o descrito
na Folha outro dia, com muito
pouco ensaio de situações de jogo.
Se o Corinthians tivesse empatado ou vencido, o time ganharia moral, mas não teria provado que está
no caminho certo. E o Palmeiras,
está? Os sinais são alentadores.
A atual gestão, muito mais descolada de Mustafá Contursi do que
antes, tem dado mostras de seriedade e boa disposição. (Um exemplo menos simbólico do que parece: a adoção de urnas eletrônicas
na última eleição. Os conselheiros
não poderão mais dizer, constrangidos, "sabe como é, eu tive de depositar 3 ou 4 votos na urna, é assim que funciona"). Não é perfeita
nem será; não deverá ser poupada
de críticas só porque elas alimentariam a oposição. Mas tem merecido boa vontade. Caio Júnior também não é infalível, nem o elenco é
o melhor do mundo, mas o 3 x 0 foi
uma gostosa saudação à nova fase.
soninha.folha@uol.com.br
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