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"Meu jeito de ser incomoda muito", diz Richarlyson
São-paulino admite não ter feito boas atuações em 2008 e fala que sua ida para seleção é "tapa na cara de muita gente"
Para jogador, que atribui má fase na temporada por ser obrigado a se adaptar à lateral esquerda, mundo
do futebol é homofóbico
EDUARDO ARRUDA
MÁRVIO DOS ANJOS
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Curinga desde que surgiu no
cenário nacional, melhor volante no Brasileiro de 2008, lateral-esquerdo por decreto de
Dunga e vaiado pela torcida na
última semana. A carreira de
Richarlyson, 25, é polêmica.
À Folha ele classifica o futebol como homofóbico, admite
que não está jogando bem no
São Paulo para ir à seleção, mas
diz que sua convocação é "um
tapa na cara de muita gente".
FOLHA - Você acha que não repete
as atuações da temporada passada
porque foi para a lateral?
RICHARLYSON - Eu já tinha jogado na lateral, mas é sempre necessário um período de readaptação. E, com o esquema que o
São Paulo tem jogado, tenho
que reaprender a marcar. É
bem diferente de jogar com três
zagueiros e ter liberdade como
ala para subir.
FOLHA - Mas o Dunga diz que você
na seleção é lateral-esquerdo, depois que jogou apenas algumas partidas na posição. Quer dizer que você ainda está se adaptando?
RICHARLYSON - Eu cheguei à seleção por tudo o que conquistei
no ano passado. Mas, neste ano,
fui para a lateral esquerda por
uma decisão do Muricy Ramalho. E sei que na lateral eu tenho mais chances, porque a vaga está aberta. No meio, o Dunga já sabe quem chamar.
FOLHA - Em suma: você acha que
tem jogado na lateral esquerda um
futebol de seleção?
RICHARLYSON - Eu sei que o futebol que estou jogando não é de
seleção. Mas, na seleção, acho
que tenho jogado o suficiente
para estar lá. Joguei duas partidas, o time ganhou e não tomou
gols. Mas me diga: quem é que
está jogando bem hoje no São
Paulo? Ninguém.
FOLHA - Você acha que as críticas
que tem recebido da torcida são reflexo da declaração de José Cyrillo Jr.
[ele se referiu ao jogador como homossexual]?
RICHARLYSON - A gente sabe que
o futebol é homofóbico. É difícil aceitar um homossexual. Eu
já falei que não sou. Mas é lógico que tem torcedor do São
Paulo que nunca ia aceitar. Não
me importo com aquela pequena parte da torcida que me hostiliza. Sei que a maior parte dos
torcedores não é assim.
FOLHA - Em algum momento, por
ser do jeito que você é, alguém o
pressionou a mudar de atitude?
RICHARLYSON - Não, ao contrário. Em 2003, no Fortaleza, o
Márcio Araújo, meu técnico lá,
me dizia para continuar do jeito que sou, autêntico. Eu sei
que meu jeito incomoda muitas
pessoas. Eu ter chegado à seleção foi um tapa na cara de muita gente. Existem especulações
de que o Dunga convoca por indicação de empresários ou treinadores. Por tudo o que passei
na minha carreira, sei que cheguei lá só pelo meu futebol.
FOLHA - Você já foi cantado por algum jogador?
RICHARLYSON - Não. Se levasse,
acharia uma brincadeira de
mau gosto.
FOLHA - Esse não é um pensamento homofóbico?
RICHARLYSON - Não. Se o cara
tem tesão em mim, é problema
dele. O tesão é dele.
FOLHA - Você toparia conversar
com a torcida a respeito das críticas?
RICHARLYSON - Eu não tenho nada para falar com eles, a minha
resposta é dentro de campo.
Por outro lado, as crianças me
adoram. Elas me param nos
shoppings, pedem autógrafos,
assim como as senhoras.
FOLHA - É feliz no São Paulo?
RICHARLYSON - Sim, pois sou
bem tratado pela diretoria, pela
comissão técnica e pelos meus
companheiros. Hoje, eu só sairia do país para Espanha e Itália. Ucrânia, Rússia só por muito, muito dinheiro.
FOLHA - E quando parar de jogar?
RICHARLYSON - Eu tinha um projeto com meu irmão de uma
mega infra-estrutura que reunisse academia, estética e clínica de reabilitação. Só que hoje
não estou mais tão ligado nessa
idéia. Hoje eu penso em fazer
uma faculdade de música, para
estudar canto.
FOLHA - Qual tipo de música você
gostaria de cantar?
RICHARLYSON - Sou eclético.
Gosto de MPB, "tecnera", batidão, loucura total. E vai indo.
Samba pagodinho, onde tocar
eu estou. Canto bem. Gosto de
Emílio Santiago. Minha especialidade nos karaokês é "Saigon". Talvez grave um CD.
FOLHA - Acredita que se daria bem
no palco, pois gosta de aparecer.
RICHARLYSON - Não é que eu goste de aparecer. Talvez apareça
pela minha transparência. Mas
não adianta. Não vou ser quem
os outros querem que eu seja.
FOLHA - Vai a salão de beleza?
RICHARLYSON - A salão vou pouco. Faço cabelo com o Giba,
aqui no CT [da Barra Funda].
Não faço sobrancelha, tiro só o
excesso. A maioria faz aqui no
Giba. Gente, isso é até engraçado. Isso não é vaidade, isso é higiênico, já pensou ir num restaurante com as unhas sujas e
mal cortadas? É a mesma coisa
que ir a um restaurante de camiseta regata, com os pêlos à
mostra, suando.
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