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Amputada garante vaga em Pequim
Natalie Du Toit, que perdeu parte da perna esquerda em acidente, classifica-se na maratona aquática e faz história
Pela primeira vez nos Jogos atleta mutilado disputará competição que exige coordenação de todos os membros, como a natação
DA REPORTAGEM LOCAL
Natalie Du Toit deixou a piscina de Atenas com o peito repleto de medalhas. E também
com uma ponta de insatisfação.
Depois dos Jogos, a sul-africana traçou uma meta: não se
contentaria novamente com
sua "segunda opção".
Para evitar novo desgosto, a
nadadora intensificou seus
treinos nos últimos quatro
anos e se dedicou a uma empreitada. Se nas raias da piscina
o sonho parecia mais distante,
iria se aventurar no mar.
No sábado, Natalie, enfim,
atingiu sua meta. Aos 24 anos,
deve ser a primeira amputada a
disputar, na Olimpíada, prova
que exige coordenação de todos
os membros. Estará alinhada
na largada dos 10 km da maratona aquática em Pequim.
"Sempre sonhei em participar dos Jogos, e o fato de ter
perdido uma perna não mudou
meu objetivo", afirmou.
A sul-africana terminou em
quarto lugar os 10 km no Mundial de Sevilha, no sábado. Ficou, por exemplo, à frente da
brasileira Poliana Okimoto,
que terminou em sexto e assegurou vaga nos Jogos ao lado de
Ana Marcela, décima colocada.
Ao deixar o mar espanhol,
Natalie chorou pela primeira
vez após uma competição. Lágrimas de alegria e alívio após
uma jornada de quase oito
anos. Ele havia decidido que
não se contentaria em nadar na
Paraolimpíada, como fez em
Atenas, quatro anos atrás.
No classificatório para os Jogos gregos, a nadadora atingiu o
índice para os 800 m livre. Seu
país, porém, só podia levar uma
atleta por prova, e outra compatriota havia cumprido a distância em um tempo menor.
Tristeza semelhante Natalie
sentiu em 2000, quando apenas dois segundos a deixaram
fora dos Jogos de Sydney.
Naquela época, porém, a sul-africana ainda possuía as duas
pernas. O acidente que transformou sua vida e sua carreira
aconteceu no início de 2001.
Em uma manhã chuvosa na
Cidade do Cabo, após a primeira sessão de treinos do dia, Natalie seguia rumo à escola em
sua moto quando um carro invadiu sua pista e a atingiu.
A atleta só recobrou a consciência uma semana após a internação e, por causa de gangrena, teve de amputar a perna
esquerda na altura do joelho.
Natalie voltou a nadar pouco
mais de dois meses após o acidente e teve de reaprender a se
movimentar na água.
Os treinamentos passaram a
ser feitos em círculos na água
até que ela se acostumasse a
seu novo centro de gravidade.
Adaptada à nova realidade,
Natalie voltou a brilhar e acumulou feitos históricos. Foi a
primeira amputada finalista de
um evento de alto nível, nos Jogos da Comunidade Britânica,
em 2002, nos 800 m livre. Tornou-se também a primeira
atleta com esse tipo de deficiência a levar um ouro no
Campeonato Africano.
Nenhum desses feitos, no entanto, comparam-se ao que Natalie obteve no sábado.
"Nunca havia chorado depois
de uma competição, mas isso
significa muito para mim. Tenho os mesmos sonhos e as
mesmas metas das outras nadadoras, não importa se minha
aparência é diferente da delas."
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