São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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Amputada garante vaga em Pequim

Natalie Du Toit, que perdeu parte da perna esquerda em acidente, classifica-se na maratona aquática e faz história

Pela primeira vez nos Jogos atleta mutilado disputará competição que exige coordenação de todos os membros, como a natação


DA REPORTAGEM LOCAL

Natalie Du Toit deixou a piscina de Atenas com o peito repleto de medalhas. E também com uma ponta de insatisfação.
Depois dos Jogos, a sul-africana traçou uma meta: não se contentaria novamente com sua "segunda opção".
Para evitar novo desgosto, a nadadora intensificou seus treinos nos últimos quatro anos e se dedicou a uma empreitada. Se nas raias da piscina o sonho parecia mais distante, iria se aventurar no mar.
No sábado, Natalie, enfim, atingiu sua meta. Aos 24 anos, deve ser a primeira amputada a disputar, na Olimpíada, prova que exige coordenação de todos os membros. Estará alinhada na largada dos 10 km da maratona aquática em Pequim.
"Sempre sonhei em participar dos Jogos, e o fato de ter perdido uma perna não mudou meu objetivo", afirmou.
A sul-africana terminou em quarto lugar os 10 km no Mundial de Sevilha, no sábado. Ficou, por exemplo, à frente da brasileira Poliana Okimoto, que terminou em sexto e assegurou vaga nos Jogos ao lado de Ana Marcela, décima colocada.
Ao deixar o mar espanhol, Natalie chorou pela primeira vez após uma competição. Lágrimas de alegria e alívio após uma jornada de quase oito anos. Ele havia decidido que não se contentaria em nadar na Paraolimpíada, como fez em Atenas, quatro anos atrás.
No classificatório para os Jogos gregos, a nadadora atingiu o índice para os 800 m livre. Seu país, porém, só podia levar uma atleta por prova, e outra compatriota havia cumprido a distância em um tempo menor.
Tristeza semelhante Natalie sentiu em 2000, quando apenas dois segundos a deixaram fora dos Jogos de Sydney.
Naquela época, porém, a sul-africana ainda possuía as duas pernas. O acidente que transformou sua vida e sua carreira aconteceu no início de 2001.
Em uma manhã chuvosa na Cidade do Cabo, após a primeira sessão de treinos do dia, Natalie seguia rumo à escola em sua moto quando um carro invadiu sua pista e a atingiu.
A atleta só recobrou a consciência uma semana após a internação e, por causa de gangrena, teve de amputar a perna esquerda na altura do joelho.
Natalie voltou a nadar pouco mais de dois meses após o acidente e teve de reaprender a se movimentar na água.
Os treinamentos passaram a ser feitos em círculos na água até que ela se acostumasse a seu novo centro de gravidade.
Adaptada à nova realidade, Natalie voltou a brilhar e acumulou feitos históricos. Foi a primeira amputada finalista de um evento de alto nível, nos Jogos da Comunidade Britânica, em 2002, nos 800 m livre. Tornou-se também a primeira atleta com esse tipo de deficiência a levar um ouro no Campeonato Africano.
Nenhum desses feitos, no entanto, comparam-se ao que Natalie obteve no sábado.
"Nunca havia chorado depois de uma competição, mas isso significa muito para mim. Tenho os mesmos sonhos e as mesmas metas das outras nadadoras, não importa se minha aparência é diferente da delas."


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