São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O sujeito mais chato do mundo


Após uma conquista, nem pensamos que sofreremos derrotas daqui a pouco, mas a vida é uma montanha-russa

DIZEM QUE , durante os grandes desfiles, alguém era encarregado de ir ao lado do imperador romano cochichando em seu ouvido: "Memento mori, memento mori...".
Mal traduzindo, seria algo como "Lembra-te que vais morrer, lembra-te que vais morrer...". Isso serviria para que o soberano, que estava sendo aclamado pela multidão, lembrasse que era um ser falível e imperfeito, um reles mortal.
Se um chato é aquele que estraga um bom momento, o mementomorista era o sujeito mais chato do mundo, pois não deve haver instante de maior glória do que aquele em que se é aplaudido por todo um povo, por toda uma torcida.
Houvesse ainda o emprego deste chato profissional, hoje ele estaria ao lado dos campeões estaduais dizendo aos seus ouvidos: "Memento amittere, memento amittere...", ou seja, "Lembra-te que vais perder, lembra-te que vais perder...".
A verdade é que, depois de uma grande conquista, nem pensamos que sofreremos derrotas daqui a pouco. Os torcedores, os jogadores e os técnicos do time vencedor julgam-se imbatíveis. Vamos lá, confesse, ex-campeã leitora e ex-conquistador leitor, depois de seus últimos títulos, vocês pensavam que seus times eram os maiorais, que seu destino era a glória. Eu, pelo menos, pensei. E há outros exemplos.
Os são-paulinos, depois de conquistarem o bicampeonato brasileiro, estufavam o peito e julgavam que seu time era tão organizado que se tornara invencível. Mas perderam o Paulista. Os santistas, depois de vencerem o São Caetano na final do Estadual do ano passado, julgavam-se predestinados colecionadores de faixas de campeão. Mas nem chegaram ao quadrangular deste ano.
Os atleticanos mineiros nunca poderiam imaginar que, depois de golearem o Cruzeiro por 4 a 0 no primeiro jogo da final do ano passado, seriam derrotados por 5 a 0 agora.
Outros atleticanos, os paranaenses, venceram o Coritiba na final de 2005 e devem ter imaginado que vencer os coxas era sua sina. Pois em 2008 levaram o troco.
Em 2006, o Colo Colo foi campeão baiano, e seus fãs devem ter planejado fazer uma grande sala para os troféus que viriam. Mas no ano seguinte o time foi décimo, quase sendo rebaixado, e agora conseguiu um mediano sexto lugar entre 12 times.
A Chapecoense conquistou o campeonato de Santa Catarina em 2007 e deve ter imaginado que finalmente tornara-se um dos grandes clubes do Estado. Mas em 2008 acabou num modesto oitavo lugar.
Depois de um belo bicampeonato alagoano, o Coruripe dava toda pinta de que iria acabar de vez com a hegemonia dos sigláticos CSA, CRB e ASA. Mas neste ano ficou apenas em sexto lugar entre dez clubes.
A glória vem, a glória vai. A glória vai e vem. E volta. Como voltou ao Coritiba depois de quatro anos, como voltou ao CSA depois de nove anos, como voltou ao Palmeiras depois de mais de uma década.
Muitos comparam a vida com uma estrada, mas uma montanha-russa seria uma metáfora mais exata. Aliás, isso é um alento aos derrotados. Algum dia eles voltarão a vencer. Mesmo o Botafogo.
E depois voltarão a perder. Depois a vencer. Perder. Vencer. Etc...

torero@uol.com.br


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