São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2010

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JUCA KFOURI

Pode isso, presidente?


Como é que um dos líderes mais influentes do mundo se submete a receber pitos públicos de dona Fifa?


BOM DIA , presidente Lula.
Espero sinceramente, e o senhor sabe que não há nenhuma ironia nisso, que tenha passado uma noite memorável ontem, dormido muito feliz e acordado bem-disposto para enfrentar esta quinta-feira repleta de afazeres, como suponho devam ser todos os dias na vida de um trabalhador presidente da República.
Mas esta não tem o intuito de falar propriamente de futebol, do jogo.
Até porque sei que seu espírito esportivo há de prevalecer caso o resultado no Pacaembu não tenha sido o de seus, posso dizer, o dos nossos, sonhos. Afinal, o senhor mesmo nos ensinou que é possível perder uma, duas, três vezes e depois enfileirar vitórias sobre vitórias.
Antes de mais nada, quero parabenizá-lo por ter sido mais uma vez reconhecido. Depois que Obama o chamou de "o cara", para a inveja do Romário e do professor FHC, eis que a revista "Time" (não seria Timão?) o elege como um dos líderes mais importantes do mundo.
Não é para qualquer um. Eu mesmo, tempos atrás, fui citado numa lista dessas, da revista "Época", como um dos brasileiros mais importantes do país (veja bem, do país) e confesso que de tão pimpão fiquei mesmo foi constrangido.
Agora já quero pedir desculpas por tão longa introdução e por não ir direto ao ponto porque sei quão precioso é o seu tempo.
Mas, presidente, pode a Fifa passar um pito público no Brasil?
Pode o secretário-geral da entidade, o sr. Jérôme Valcke, dizer que "é incrível como o Brasil está atrasado", em referência às obras para a Copa do Mundo de 2014?
Pode ele, responsável por uma condenação à Fifa pela Justiça da Suíça por litigância de má-fé, alegar que "há coisas que eles prometeram (o "eles" aí somos nós, presidente), disseram e assinaram e precisam honrar esses compromissos"?
E pode ele ainda fazer ironias com nossa potência emergente, quem sabe amanhã ou depois do Conselho de Segurança da ONU, ao declarar que "o Brasil precisa se mexer. Este ano há eleições, para tudo"?
(Aqui, presidente, não sei se, graças à reforma ortográfica, ele quis dizer que teremos eleições para tudo ou se o Brasil para porque teremos eleições. Acho que se referiu à segunda alternativa.)
E continuou, veja só: "No ano que vem tem Carnaval, para de novo (é, é mesmo a segunda alternativa a que vale). O Brasil está mostrando que é tão difícil fazer uma Copa lá como na África do Sul".
Pode, presidente Lula? Comparar o Brasil à África do Sul?
Tudo bem, temos a maior simpatia pelos africanos, ainda mais pelo companheiro Mandela, mas espera lá, somos o Brasiiiillll, como nunca antes fomos tão Brasiiiillll.
Presidente, sem querer ser pretensioso nem enxerido, será que não dá para o senhor chamar em seu palácio o presidente da CBF, repassar para as orelhas dele o puxão que o país recebeu e nomear alguém sério para tamanha empreitada? Bem sei que ele irá chiar, espernear e é capaz até de recusar, com o que não restará outra saída a não ser desistir, antes que desistam da gente. O que seria uma vergonha nunca antes..., o senhor sabe. Força!

blogdojuca@uol.com.br


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