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FUTEBOL
Jogadores do Remo (PA) teriam sido "comprados' por R$ 12 mil em partida pela Copa do Brasil do ano passado
Fita revela novo "suborno' da Lusa
MARCELO DAMATO
ROBERTO DIAS
da Reportagem Local
Três semanas e meia antes da
operação de suborno que a Lusa
montou no Campeonato Paulista
do ano passado, o clube já havia
feito algo semelhante num jogo válido pela Copa do Brasil.
É isso o que indicam gravações
feitas em outubro do ano passado
pelo ex-diretor de futebol da Lusa
Camões Salazar.
Nessas gravações, Salazar conversou com vários diretores da Lusa, entre eles uma pessoa identificada como o diretor de futebol Manuel Machado Barril, que é subordinado ao vice Ilídio Lico.
Segundo Salazar, seu objetivo
nas gravações era provar que de fato existiu a trama do suborno no
Campeonato Paulista e que vários
dirigentes da Lusa estavam envolvidos nela. Com o ato, Salazar busca vingança para os dirigentes que
o incriminaram pelo sumiço dos
R$ 130 mil que seriam usados nessa tentativa de fraude.
O ex-diretor conseguiu gravar
uma declaração, de uma voz identificada como sendo de Barril, de
que o clube havia pago R$ 12 mil
para garantir de forma fraudulenta
a vitória sobre o Remo no jogo de
volta da fase preliminar da Copa
do Brasil.
Na partida de ida desse confronto, realizada em Belém (PA), a Lusa havia sido derrotada por 2 a 0.
Por isso, precisava de uma vitória por três gols de diferença no segundo jogo, no Canindé, para passar à segunda fase sem precisar da
disputa de pênaltis.
Nessa partida, realizada no dia 4
de fevereiro, a Lusa conseguiu os
gols necessários à classificação no
primeiro tempo. Ao final, o placar
registrou uma goleada por 5 a 0,
com um gol de pênalti. O Remo
terminou o jogo com um jogador a
menos, pois o lateral-direito Ronaldo Paraíba fora expulso.
O surgimento de mais esse suposto esquema põe sob suspeita a
lisura de todos os campeonatos de
que a Lusa participou nos últimos
anos. Entre todos os times brasileiros, a Lusa é aquela que apresentou
maior evolução de resultados nos
últimos quatro anos. Desde 1996,
por exemplo, ela chega todo ano à
semifinal do Brasileiro.
Na conversa com Salazar, a voz
identificada como sendo de Barril
diz que foram subornados jogadores do Remo, mas não especifica
quais, e revela o preço: R$ 12 mil.
São citadas duas pessoas como
portadoras do dinheiro para o intermediário do suborno. Uma é o
funcionário do departamento de
futebol Agostinho Pacheco, que
não tem parentesco com o ex-presidente Manuel Gonçalves Pacheco, afastado do cargo há pouco
mais de um ano por irregularidades administrativas.
O segundo é tratado de "Neguinho". Para Salazar, trata-se de
Ubirajara Jesus da Silva, advogado
que atua no departamento jurídico
do clube.
Segundo Salazar, o suposto suborno foi pago em duas parcelas:
R$ 5.000 adiantados e mais R$
7.000 depois da partida.
A Folha tentou localizar Silva e
Pacheco no clube, mas não conseguiu. Deixou recado no celular de
Pacheco, mas ele não ligou de volta
até o fechamento desta edição.
Barril, que continua no cargo até
hoje, não quis de início comentar o
conteúdo da fita. Ao ser procurado
por telefone, disse: "Só falo se for
pessoalmente, não quero nem saber o que tem nela".
Numa outra ligação, porém, Barril aceitou ouvir a descrição da
conversa. Negou que tenha tratado
desse assunto com Salazar e negou
que a voz fosse a dele na fita, sem
ao menos tê-la ouvido.
Mas Salazar e pessoas ouvidas
pela Folha que conhecem o diretor
afirmam que a voz é dele.
Além disso, a voz gravada possui
várias características comuns à de
Barril, como timbre, sotaque português e cacoetes de fala.
Segundo Salazar, vários trechos
das gravações que fez foram entregues ao inquérito policial que apura o esquema de suborno no Campeonato Paulista.
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