São Paulo, quinta, 6 de maio de 1999

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FUTEBOL
Jogadores do Remo (PA) teriam sido "comprados' por R$ 12 mil em partida pela Copa do Brasil do ano passado
Fita revela novo "suborno' da Lusa

MARCELO DAMATO
ROBERTO DIAS
da Reportagem Local

Três semanas e meia antes da operação de suborno que a Lusa montou no Campeonato Paulista do ano passado, o clube já havia feito algo semelhante num jogo válido pela Copa do Brasil.
É isso o que indicam gravações feitas em outubro do ano passado pelo ex-diretor de futebol da Lusa Camões Salazar.
Nessas gravações, Salazar conversou com vários diretores da Lusa, entre eles uma pessoa identificada como o diretor de futebol Manuel Machado Barril, que é subordinado ao vice Ilídio Lico.
Segundo Salazar, seu objetivo nas gravações era provar que de fato existiu a trama do suborno no Campeonato Paulista e que vários dirigentes da Lusa estavam envolvidos nela. Com o ato, Salazar busca vingança para os dirigentes que o incriminaram pelo sumiço dos R$ 130 mil que seriam usados nessa tentativa de fraude.
O ex-diretor conseguiu gravar uma declaração, de uma voz identificada como sendo de Barril, de que o clube havia pago R$ 12 mil para garantir de forma fraudulenta a vitória sobre o Remo no jogo de volta da fase preliminar da Copa do Brasil.
Na partida de ida desse confronto, realizada em Belém (PA), a Lusa havia sido derrotada por 2 a 0.
Por isso, precisava de uma vitória por três gols de diferença no segundo jogo, no Canindé, para passar à segunda fase sem precisar da disputa de pênaltis.
Nessa partida, realizada no dia 4 de fevereiro, a Lusa conseguiu os gols necessários à classificação no primeiro tempo. Ao final, o placar registrou uma goleada por 5 a 0, com um gol de pênalti. O Remo terminou o jogo com um jogador a menos, pois o lateral-direito Ronaldo Paraíba fora expulso.
O surgimento de mais esse suposto esquema põe sob suspeita a lisura de todos os campeonatos de que a Lusa participou nos últimos anos. Entre todos os times brasileiros, a Lusa é aquela que apresentou maior evolução de resultados nos últimos quatro anos. Desde 1996, por exemplo, ela chega todo ano à semifinal do Brasileiro.
Na conversa com Salazar, a voz identificada como sendo de Barril diz que foram subornados jogadores do Remo, mas não especifica quais, e revela o preço: R$ 12 mil.
São citadas duas pessoas como portadoras do dinheiro para o intermediário do suborno. Uma é o funcionário do departamento de futebol Agostinho Pacheco, que não tem parentesco com o ex-presidente Manuel Gonçalves Pacheco, afastado do cargo há pouco mais de um ano por irregularidades administrativas.
O segundo é tratado de "Neguinho". Para Salazar, trata-se de Ubirajara Jesus da Silva, advogado que atua no departamento jurídico do clube.
Segundo Salazar, o suposto suborno foi pago em duas parcelas: R$ 5.000 adiantados e mais R$ 7.000 depois da partida.
A Folha tentou localizar Silva e Pacheco no clube, mas não conseguiu. Deixou recado no celular de Pacheco, mas ele não ligou de volta até o fechamento desta edição.
Barril, que continua no cargo até hoje, não quis de início comentar o conteúdo da fita. Ao ser procurado por telefone, disse: "Só falo se for pessoalmente, não quero nem saber o que tem nela".
Numa outra ligação, porém, Barril aceitou ouvir a descrição da conversa. Negou que tenha tratado desse assunto com Salazar e negou que a voz fosse a dele na fita, sem ao menos tê-la ouvido.
Mas Salazar e pessoas ouvidas pela Folha que conhecem o diretor afirmam que a voz é dele.
Além disso, a voz gravada possui várias características comuns à de Barril, como timbre, sotaque português e cacoetes de fala.
Segundo Salazar, vários trechos das gravações que fez foram entregues ao inquérito policial que apura o esquema de suborno no Campeonato Paulista.



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