São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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Após crises, Fifa reforma arbitragem

Entidade cria comissão para investigar árbitros e estuda profissionalizá-los para combater a manipulação de jogos

Reduzido, quadro da Copa terá mais árbitros repetidos do último Mundial e com mais membros de países com tradição no futebol


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Após os escândalos de arbitragem, em países como Brasil, Alemanha e Itália, a Fifa fez mudanças no setor para a Copa do Mundo de 2006. E sinalizou que promoverá reformas mais radicais após a competição. Primeiro, a entidade priorizou juízes mais experientes e de centros mais tradicionais para o torneio deste ano. Agora, instituiu uma comissão de ética para investigá-los e deu o primeiro passo para a profissionalização deles. Ontem, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou a criação do grupo para investigar e coibir "aberrações do nosso esporte", em referência aos casos de juízes que beneficiaram clubes em troca de favores e dinheiro, em escândalos na Europa e na América do Sul. Mais: até 2007 o dirigente pretende implantar programas para que os árbitros passem a viver só do apito. No Mundial, apenas três dos juízes atuam, exclusivamente, no futebol. "Ao analisarmos os problemas que tivemos desde 2002, percebemos que a figura do juiz tem papel central. Era preciso fazer algo", justificou Blatter. De imediato, a Fifa reduziu e mudou o perfil de seu quadro para este Mundial. Eram 36 na Copa de 2002, agora são 21. E a entidade decidiu repetir mais juízes do que fazia anteriormente. Do total de árbitros, 38,1% (8) já atuaram no último Mundial, contra 19,4% (7) do último torneio. A média de idade subiu de 38 anos e seis meses para 39 anos e dois meses. Neste ano, 66,7% são juízes da América do Sul e da Europa, onde o futebol tem mais tradição. Antes, eram apenas 53%, pois a entidade incluía diversos juízes de países da Ásia, da América Central e da África. Mas a experiência não garante o fim dos problemas. Ainda mais que, entre os juízes repetidos, nenhum teve destaque no último Mundial -o colombiano Oscar Ruiz foi o que chegou mais longe ao apitar um jogo das quartas-de-final. "Com essa redução de árbitros, haverá poucas opções. Se um dos experientes errar, e for afastado, sobrarão jogos importantes para juízes de países desconhecidos", criticou o ex-juiz José Roberto Wright, que é membro de comissões da Fifa. Para ele, os juízes europeus Markus Merk e Graham Pool têm tido boas atuações nos campeonatos recentes, assim como os mexicanos Benito Archundia e Marco Rodriguez. "Mas os sul-americanos não estão em boa fase", analisou ele, que espera punição para quem não coibir a violência. Para garantir a qualidade de todos os juízes, a entidade investiu como nunca, desde fevereiro 44 árbitros vêm treinando. Houve diversos cortes, inclusive por falta de preparo físico, antes de chegar aos 21. Numa demonstração da importância dos juízes, Blatter foi visitá-los em Frankfurt. Pediu a eles que protegessem os bons jogadores da violência e até deu dicas técnicas. A Fifa pagará 33 mil (R$ 95,7 mil) por atuação de cada trio de arbitragem. O investimento crescerá após a Copa, com a comissão de ética, que terá poder próprio para estabelecer punições, sem necessidade de passar por outros órgãos da entidade. Substituirá outro órgão similar, que já existia na Fifa, mas "não funcionou 100%", segundo Blatter. Já o dinheiro para custear a profissionalização virá das confederações nacionais, segundo o dirigente. "Duvido que uma federação não tenha condições de pagar um bom salário aos árbitros", explicou. Em 2007, já começam programa para o desenvolvimento dos juízes. "Os árbitros devem nos ajudar nessa tarefa", disse Blatter. Até hoje, a CBF tem remado contra a profissionalização porque a medida resultaria em aumento de gastos. Neste ano, só investiu em cursos e vigilância dos juízes.


Colaborou RODRIGO BUENO , enviado especial a Neu-Isenburg

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