São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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As origens, segundo Tostão

Dizem que o futebol começou na China, há mais ou menos 2.000 anos. Até hoje, os chineses não aprenderam a jogar. Sabem como jogar, mas não sabem jogar. Na Idade Média, o futebol foi levado para a Europa. Os trabalhadores brincavam com a bola nos intervalos das construções das igrejas medievais.
Talvez por isso, elas tenham levado tanto tempo para ficarem prontas. Os ingleses, espalhados pela Europa, levaram o esporte para a Inglaterra. Multidões corriam atrás da bola pelas ruelas de Londres. Destruíam tudo, e o futebol foi proibido em 1814, pelo rei Eduardo 2º. De nada adiantou.
Em 1863 foi o ato oficial de fundação em Londres da Football Association, a primeira entidade a organizar o esporte. Foram confirmadas as 17 regras e os 11 jogadores, que continuam até hoje. Em 1872, conteceu o primeiro jogo internacional, entre Inglaterra e Escócia.
O placar só poderia terminar em 0 a 0. Daí, nasceu a retranca. Segundo versões oficiais, o futebol chegou ao Brasil em 1894, trazido por Charles Miller, filho de um inglês com uma brasileira. Ele trouxe duas bolas, uma agulha, dois jogos de uniformes e dois livros de regras. Charles Miller era um centroavante oportunista. Desconfio que a verdadeira história seja diferente. Contam que o Descobrimento do Brasil não foi por acaso.
Cabral estava doido para jogar uma partida e já sabia que os índios eram bons de bola. Pois o futebol teria chegado ao Brasil muito tempo antes, trazido pelos enícios.
Em 22 de abril, logo que as 12 embarcações avistaram a terra, Cabral gritou: "Bola à vista"! A tripulação desceu e combinou uma partida para depois da missa.
Pero Vaz de Caminha foi o juiz. Ele escreveu ao rei Dom Manoel 1º: "Em se treinando, bom futebol dá". Aproveitou para pedir emprego à sua família. Nascia o nepotismo. Os índios jogavam nus e, daí, nasceu a pelada. Eles ganharam a partida por 10 a 1. Em troca de brincos e outros presentes, deixaram os colonizadores fazerem um gol. No início, o futebol era apenas para os brancos e ricos. Foi um desastre.
Ficou horrível e chato. Como ninguém ia ao campo, voltaram atrás. Na década de 20, o Vasco foi o primeiro clube a contratar um negro. A miscigenação foi responsável pela arte do futebol brasileiro. Em 1933, iniciou-se a profissionalização do futebol no Brasil. Desde menino, ouço que o Brasil é o país do futuro, e que o futebol é desorganizado fora de campo.
O futuro nunca chega, e o futebol, apesar de ter se transformado em um grande negócio, continua entregue a amadores e incompetentes. Sempre me intrigou porque escolheram 11 jogadores para formar um time, e não dez ou 12. Foi uma sábia decisão.
Discordo dos que acham que hoje os times deveriam ter um jogador a menos, com a justificativa de que os atletas correm muito, que diminuíram os espaços e que o campo ficou pequeno. Fora o goleiro, escolheram um número par de jogadores.
A simetria está presente em tudo. Existe no ser humano uma obsessão inata, compulsiva, pela simetria. Mesmo os grandes artistas, que costumam transgredir e reinventar o mundo, têm atração pelo duplo.
As primeiras grandes obras de arte conhecidas já tinham essa preocupação. Imagino que a simetria seja uma expressão da dualidade humana, dividida entre o bem e o mal, entre a paixão e a razão, entre o certo e o errado, entre o princípio do prazer e o princípio da realidade.
Poderia ser ainda uma maneira de reprimir os impulsos instintivos e de conciliar os opostos. O esquema tático hoje mais utilizado é o da simetria, com dois zagueiros, dois laterais, dois volantes, dois meias e dois atacantes.
Mais ainda, os técnicos preferem um zagueiro rebatedor e outro clássico; um volante habilidoso e outro brucutu, um lateral que apoia mais e outro que marca mais; um meia organizador e outro mais agressivo; um atacante mais leve e que joga pelos lados e outro, centroavante, finalizador.
Tudo simétrico. Como não dá para ter mais de um jogador no gol, o goleiro ficou sozinho, isolado. Deve ser por isso que os goleiros são mais individualistas, exibicionistas e esquisitos. Sentem falta do outro.


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