São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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MATINAS SUZUKI JR.

Recapitulando os erros

Erro número 1: o velho Lobo Zagallo, o treinador que teve por mais tempo a seleção de futebol da Nike, digo, do Brasil em suas mãos, não aproveitou os longos quatro anos em que esteve na direção para criar uma fórmula tática e para definir quais seriam os melhores jogadores que poderiam se adaptar a ela.
O fato de o Brasil não precisar disputar as eliminatórias deveria ter sido aproveitado como uma vantagem, pois, sem a pressão dos resultados, teve mais liberdade para testar os seus conceitos.
Erro número 2: a seleção jogou demais e treinou de menos. Nesses quatro anos, a seleção não dedicou o tempo e a seriedade necessária para os treinamentos.
Esse erro é a contrapartida de um outro, muito mais grave, de ordem gerencial: não houve, para os quatro anos, um planejamento de jogos que pudesse levar a seleção a chegar às vésperas da estréia perto do ponto de bala.
Para atender às exigências do patrocinador, o Brasil estourou a cota de jogos promocionais, de pouca valia para treino efetivo.
Erro número 3: faltam sintonia e unificação do poder decisório ao primeiro escalão.
Em uma estrutura de futebol que se prepara para um torneio extremamente competitivo como é uma Copa, a falta desses atributos na cúpula gera divisões e indisciplina nas bases (o futebol tem a sua corporação baseada no potencial das individualidades -e quanto mais rica a individualidade, menos propensa ela é para o trabalho de equipe).
Erro número 4: falta de atualização e de modernização nos métodos de trabalho e nos conceitos.
Os exames clínicos e de condições atléticas feitos ainda no Brasil são considerados ou ultrapassados ou insuficientes; o sistema de trabalho de Zagallo, desatualizado taticamente e mal-informado sobre os sistemas adotados pelos concorrentes, revela estruturas fossilizadas e enferrujadas na operação da seleção.
Erro número 5: falta de criação de um ambiente de concentração psicológica e preparação emocional para atingir os resultados.
Em qualquer organização moderna, esses cinco erros levariam ao desastre. Como Deus deu talento ao brasileiro, resta fazer a mandinga para que os recursos humanos superem amplamente as carências organizacionais.



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