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José Geraldo Couto
Futebol de resultados
Os que vaiaram a
seleção eram os
mesmos que, antes, incensavam o time
COM PORTUGAL de
Felipão, caiu a última esperança dos
brasileiros nesta Copa. De
frustração em frustração,
quem sabe deixemos de
lado a fantasia e comecemos a encarar nossa triste
realidade. Somos um país
em que quase tudo está fora dos eixos. Com o futebol
não é diferente.
Há sempre a possibilidade de aprender com os
reveses. Em vez de procurar culpados (desta vez são
tantos que a acusação até
se dilui), acho que o mais
importante é observar o
fenômeno coletivo.
Um leitor por quem tenho grande apreço, Caio
Bonilha, usou uma expressão feliz -"patriotismo de resultados"- para
designar esse sentimento
ciclotímico da nossa torcida, que um dia manifesta
um ufanismo quase insuportável e no outro, após a
derrota, queima a bandeira, renega o país, quer linchar os ídolos da véspera.
A mão que afaga é a mesma que apedreja, já dizia o
poeta. Os torcedores que
vaiaram e jogaram moedas aos jogadores diante
do hotel da seleção eram
os mesmos que, nos dias
anteriores, haviam incensado esses mesmos jogadores, acotovelando-se
por um autógrafo ou por
um mísero aceno. O exagero de antes não justifica
o exagero de depois, mas
ajuda a entendê-lo.
Não é saudável canalizar
toda a nossa carência de
um país decente para um
time de futebol. Ainda que
ele seja composto por alguns dos melhores jogadores do mundo, será
sempre uma equipe, jogando contra outras equipes e sujeita a inúmeros
fatores que vão além da
perícia técnica: motivação, condições físicas, preparação tática, equilíbrio
emocional, espírito de
equipe. Ao que parece, faltou-nos tudo isso.
Confesso que estou aliviado com o silêncio angustiado que se seguiu à
eliminação do Brasil. Da
perplexidade, quem sabe,
pode nascer a reflexão. A
euforia obscurece o raciocínio. Outro consolo é ver
que o futebol, de um jeito
ou de outro, continua a
driblar o marketing (segundo o qual o campeão
seria o Brasil) e as conveniências políticas (que davam o título à Alemanha).
Viva o inesperado.
jgcouto@uol.com.br
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