São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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TOSTÃO

Lições do futebol


Renato age como se fosse jogador, quando era uma estrela. Ele e outros treinadores são coadjuvantes

ANTES DE O Fluminense perder o título, e mesmo nas suas vitórias, critiquei várias vezes Renato e a desorganização tática do time. Os brilhos foram quase sempre individuais. Não tenho certeza também se as críticas foram importantes e corretas, já que a equipe chegou à final. Temos o hábito de superdimensionar os acertos e os erros dos treinadores.
Não vi nesse período as tantas qualidades que disseram de Renato no comando do time, como o chavão de "ter o grupo nas mãos". Na minha época de atleta, se um técnico dissesse no intervalo de um jogo que faltava vergonha aos jogadores, quando os erros eram muito mais do treinador, ele perdia a minha admiração e não me teria nas mãos.
Mais do que aos erros técnicos, havia antes do jogo final uma grande repulsa ao comportamento prepotente e falastrão de Renato.
Logo que terminou a partida contra o São Paulo, Renato se ajoelhou sozinho no centro do gramado para chamar a atenção sobre si, como se fosse a estrela do espetáculo e da vitória.
Ele confunde e mistura o seu trabalho atual com o da época de jogador, quando era realmente uma das principais estrelas.
Hoje, Renato e os outros técnicos são coadjuvantes.
Assim como Narciso, ex-craques são geralmente apaixonados pelas suas imagens de ídolos.
Essa incapacidade de descolar o presente do passado é a maior dificuldade que eles têm para brilharem em outras atividades.
Espero que Renato aprenda com a perda do título. Ele é jovem, tem tudo para evoluir e ter um dia condições de ser o treinador da seleção brasileira.

A pátria é o trabalho
Cada vez mais, os torcedores pedem uma seleção com jogadores que atuam no Brasil. Como escreveu Daniel Piza, o time seria ainda pior que o de Dunga. Leão tentou fazer isso nas eliminatórias para a Copa de 2002 e se deu mal.
Não acredito também que os atletas que atuam no Brasil jogarão com mais garra. Pode ser no início, até conseguirem um bom contrato na Europa ou no Qatar. Para isso, basta treinar uma vez com a camisa da seleção.
Essas transferências acontecem por causa da diferença econômica e da má organização do futebol brasileiro.
Existe em todo o mundo, em todas as atividades, muito mais na Europa do que na América do Sul, uma diminuição progressiva do orgulho de participar de uma nação. A pátria é o trabalho. O ser humano sempre teve também a fantasia de viajar, de se perder ou de se achar pelo mundo.
O que não se pode é achar que os jogadores que atuam fora são sempre melhores e/ou mais experientes. No Mundial de 2002, Felipão escalou Kleberson e Gilberto Silva, que jogavam no Brasil e não tinham experiência na seleção.
Rogério Ceni, Thiago Silva ou Miranda, o lateral Juan e os volantes Hernanes e Martinez, que atuam no Brasil, estariam hoje entre os 22 da minha seleção principal. Sei que todos vão estranhar o nome de Martinez. Assim como todos os treinadores, sem exceção, comentaristas possuem também suas idiossincrasias.


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