|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Torcidas querem interferir em lei
Organizadas rejeitam ser responsabilizadas civilmente por danos causados pelos associados a elas
Grupos se unem com meta de pressionar Senado a vetar artigo de projeto que muda Estatuto do Torcedor e os pune quando houver delitos
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir do 1º Seminário Nacional de Torcidas Organizadas, realizado neste final de semana, criou-se um consenso
entre as entidades de torcedores: elas não querem ser punidas por delitos cometidos por
seus associados ou membros.
Em uma reunião na quadra
da Gaviões da Fiel, no sábado à
noite, líderes das principais organizadas do país decidiram redigir uma carta para pressionar
o Senado a retirar o artigo 39-B
do projeto de lei que altera o
Estatuto do Torcedor. O artigo
dispõe sobre a responsabilidade civil da torcida sobre os danos causados pelos membros
no local do evento esportivo,
em seu entorno ou no trajeto de
ida e volta para o evento.
"O Estatuto do Torcedor tem
que ter a colaboração das torcidas. Não teve isso no processo
de maturação do projeto de lei.
Vamos ver se conseguimos colaborar daqui por diante", afirmou José Maria Freire Filho,
representante da Jovem Fla e
presidente da Federação de
Torcidas do Rio (FTorj).
O promotor Paulo de Castilho, um dos autores do projeto
de lei, prontificou-se a entregar
a carta ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP), relator da
proposta no Senado, assim que
ela estiver redigida.
"Estamos em um país democrático, e eles [líderes das torcidas organizadas] têm direito de
pleitear mudanças. Cabe ao Senado avaliar a proposta deles",
afirmou Castilho, que admitiu
a possibilidade de retirada do
artigo em prol da aprovação do
projeto de lei no Congresso.
"O Estatuto do Torcedor está
sendo aperfeiçoado. A gente
não pode perder a oportunidade de reformar a lei só por causa [de uma possível mudança]
desse artigo", completou.
Para o consultor jurídico do
Ministério do Esporte, Wladimyr Camargos, a manutenção do artigo é necessária, uma
vez que, a exemplo dos dirigentes, os líderes de organizadas
também devem ser responsabilizados por danos indiretos.
"Se um torcedor que deu causa a algum dano é cadastrado
pela torcida organizada, por
que não culpar a entidade por
ter aceitado esse membro? Por
que ela, assim como já ocorre
com outras entidades vinculadas ao futebol, não deveria responder por esse dano?", questionou Camargos.
A maior parte dos líderes de
organizadas consultados pela
reportagem admitiu que há dificuldades de se ter um controle sobre todos os associados.
Dizem que podem acabar
sendo responsabilizados por
delitos cometidos por pessoas
falsamente associadas à entidade que usem camisas piratas.
"Se, por exemplo, uma pessoa estiver usando uma camisa
da Independente, comprada
em camelô, e depredar uma loja
na [avenida] Paulista, a torcida
organizada como um todo deve
ser responsabilizada? Eu acho
que não", argumentou João
Paschoa, diretor da vascaína
Força Jovem.
O consultor jurídico do ministério crê que esse tipo de minúcia deve ser tratada durante
o processo judicial, caso o projeto de lei venha a ser aprovado
na redação atual.
Algumas torcidas organizadas apresentaram contrapropostas para a exclusão do artigo
39-B. Sugeriram o autopoliciamento, com a expulsão de
membros potencialmente turbulentos, e a colaboração com a
polícia na disponibilização de
cadastros de membros.
Texto Anterior: Prancheta do PVC Próximo Texto: Torcedores de SP pedem volta de bandeiras Índice
|