São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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ENTREVISTA DA 2ª - MANO MENEZES

"Sem Ronaldo, ganhar a Copa do Brasil teria sido impossível"

Técnico do Corinthians exalta astro, defende Lula, assume ser marqueteiro e fala em dirigir o Brasil na Copa-2014

MARTÍN FERNANDEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um ano e meio no Corinthians, Luiz Antônio Venker Menezes disputou cinco competições e ganhou três títulos. O mais importante deles na semana passada, a Copa do Brasil. Antes, conquistou a Série B do Brasileiro e o Paulista. À Folha o treinador falou sobre Ronaldo, por que criticou e agora elogia Dunga e do "acordo" que tem com o presidente Lula.

FOLHA - O que esse título acrescentou à sua carreira?
MANO MENEZES -
Faltava um título nacional. Era necessário ganhar uma competição como a Copa do Brasil para que as outras pessoas considerassem o meu um trabalho de ponta.

FOLHA - Qual foi a importância do Ronaldo para a conquista?
MANO -
Ele é uma referência. Saber que com a camisa 9 do teu time está um jogador com a trajetória do Ronaldo passa muita confiança. E tem o efeito disso para o adversário. Ter que marcar o maior goleador da história das Copas não é fácil.

FOLHA - Haveria título sem ele?
MANO -
É subjetivo. Muitas equipes já foram campeãs sem o Ronaldo. Mas hoje, no estágio em que nos encontramos, sem ele seria impossível.

FOLHA - Você disse que pretende ganhar o Campeonato Brasileiro. Mas o Corinthians quer disputar jogos fora do país. Não há conflito aí?
MANO -
Estou sendo consultado. Vamos tentar escolher as datas menos prejudiciais. O futebol vive de receita. Na medida em que o clube está faturando, os compromissos são cumpridos e isso se reflete em campo.

FOLHA - Então vale a pena sacrificar o Nacional por uma excursão?
MANO -
Vale. É importante para o Corinthians e para os jogadores participar de jogos maiores, que tenham repercussão internacional.

FOLHA - Qual foi sua reação quando contrataram o Ronaldo?
MANO -
Incredulidade. Falei: "Vocês estão de brincadeira". Depois fui buscar informações sobre ele, para saber se havia chance de transformar o projeto em sucesso dentro de campo. Era a minha parte.

FOLHA - Como foi a condução da volta do Ronaldo ao gramado?
MANO -
Tem duas partes esse processo. A primeira foi que o comando do clube deixou tudo na mão da comissão técnica. Ouvi muito que a direção e o marketing iriam escalar o Ronaldo quando quisessem. Isso nunca aconteceu. A outra parte é técnica. Aí é preciso elogiar a parte médica, de fisiologia, fisioterapia, preparação fisica. Ele está muito perto do ideal.

FOLHA - No episódio de Presidente Prudente (Ronaldo foi a uma boate e chegou de manhã à concentração), o Antônio Carlos (diretor de futebol) foi demitido. Qual foi o seu papel?
MANO -
Todo mundo atribui a saída do Antônio Carlos a mim. Mas ele ocupava um cargo superior ao meu. O que houve foi um entendimento da direção do clube sobre a postura que deve ter um executivo. No futebol, um acontecimento isolado nunca é responsável pela saída de um profissional. Certamente já existiam outras coisas, que eu não sei dizer quais.

FOLHA - Você já falou com ele [Antônio Carlos] depois disso?
MANO -
Não. Não tive oportunidade. Mas, se encontrá-lo, não vou ter dificuldade para conversar com ele.

FOLHA - Andres Sanchez disse que, enquanto for presidente do Corinthians, não vai permitir a sua saída.
MANO -
Se eu fosse o presidente, com o Andres de treinador, e em cinco campeonatos o meu time tivesse chegado a quatro finais e conquistado três títulos, eu não o deixaria sair.

FOLHA - Você vai ter um aumento ao renovar o contrato?
MANO -
[hesita] Eu ganho bem. Estou feliz com minha remuneração. É normal, quando se faz uma renovação de contrato, ter uma valorização. Mas isso não é o mais importante para um técnico do meu nível.

FOLHA - Onde se vê em cinco anos?
MANO -
Não sei. O Dunga falou uma frase com a qual concordo literalmente: "O futebol não tem futuro". Me perguntam de seleção, Europa, mas eu só penso em seguir no Corinthians.

FOLHA - Você não quer dirigir a seleção na Copa de 2014?
Mano -
Ih! Esse cargo vai ser muito disputado. Vou trabalhar muito para estar entre os principais do país até lá. Dizem que eu sou melhor técnico quando jogo em casa. Então minha chance aumenta [risos].

FOLHA - Como avalia o Dunga?
MANO -
Muito bem. Embora eu tenha me manifestado contra a escolha dele, que ainda não era treinador quando assumiu a seleção. Ele foi chamado para fazer dois trabalhos: retomar o sentimento de respeito pela seleção e renovar o time. Ele fez isso e trouxe resultados.

FOLHA - Ronaldo quer o filho dele criado na Europa, para ter uma educação melhor. Você concorda?
MANO -
Felizmente, o Ronaldo tem essa opção para a educação do filho dele. Eu tive, minha filha estudou na Inglaterra. Mas respeito muito a condição do brasileiro, acho que não se pode desistir do Brasil.

FOLHA - O que você achou das brincadeiras com o Joel Santana?
MANO -
Brasileiro adora criticar o brasileiro que sai de um padrão considerado chique. O Joel [técnico da África do Sul] é uma grande personalidade. Se o inglês dele não é maravilhoso, ao menos ele tenta se comunicar. O trabalho dele é brilhante.

FOLHA - Você tem Twitter, site. Técnico tem que ser marqueteiro?
MANO -
Não acho que seja fundamental. Aceitei a sugestão da minha filha, até para valorizar determinadas situações, menosprezar outras, expor pensamentos. A resposta é boa. Tenho o cuidado de só falar ali o que já tratei com a imprensa. Não publico informação privilegiada no Twitter.

FOLHA - Como foi encontrar o Lula?
MANO -
Nunca imaginei que o encontraria. Me senti privilegiado. No futebol, isso é raro.

FOLHA - Você votou nele?
MANO -
[hesita] Votei, duas vezes. Na eleição e na reeleição.

FOLHA - Como você o avalia?
MANO -
Bom governo, que tem possibilitado a descoberta de aspectos que viviam escondidos. Todo mundo acha que a corrupção nasceu agora. Mas sempre existiu e está sendo colocada para que a sociedade analise e avalie. E ele tem conseguido dar estabilidade econômica e melhorado a condição de uma parte da população que não tinha essa possibilidade.

FOLHA - Ele já lhe deu sugestões para o Corinthians?
MANO -
Não, não, nunca.

FOLHA - Nem você a ele?
MANO -
Nunca. Talvez ele não tenha falado sobre a minha equipe para não permitir que eu fale sobre o ministério dele. Temos esse acordo implícito.


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