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ENTREVISTA DA 2ª - MANO MENEZES
"Sem Ronaldo, ganhar a Copa do Brasil teria sido impossível"
Técnico do Corinthians exalta astro, defende Lula, assume ser marqueteiro e fala em dirigir o Brasil na Copa-2014
MARTÍN FERNANDEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um ano e meio no Corinthians, Luiz Antônio
Venker Menezes disputou cinco competições e ganhou três títulos. O mais importante deles na semana
passada, a Copa do Brasil. Antes, conquistou a Série B
do Brasileiro e o Paulista. À Folha o treinador falou
sobre Ronaldo, por que criticou e agora elogia Dunga e do "acordo" que tem com o presidente Lula.
FOLHA - O que esse título acrescentou à sua carreira?
MANO MENEZES - Faltava um título nacional. Era necessário
ganhar uma competição como
a Copa do Brasil para que as outras pessoas considerassem o
meu um trabalho de ponta.
FOLHA - Qual foi a importância do
Ronaldo para a conquista?
MANO - Ele é uma referência.
Saber que com a camisa 9 do
teu time está um jogador com a
trajetória do Ronaldo passa
muita confiança. E tem o efeito
disso para o adversário. Ter que
marcar o maior goleador da
história das Copas não é fácil.
FOLHA - Haveria título sem ele?
MANO - É subjetivo. Muitas
equipes já foram campeãs sem
o Ronaldo. Mas hoje, no estágio
em que nos encontramos, sem
ele seria impossível.
FOLHA - Você disse que pretende
ganhar o Campeonato Brasileiro. Mas o Corinthians quer disputar jogos fora do país. Não há conflito aí?
MANO - Estou sendo consultado. Vamos tentar escolher as
datas menos prejudiciais. O futebol vive de receita. Na medida
em que o clube está faturando,
os compromissos são cumpridos e isso se reflete em campo.
FOLHA - Então vale a pena sacrificar o Nacional por uma excursão?
MANO - Vale. É importante para o Corinthians e para os jogadores participar de jogos maiores, que tenham repercussão
internacional.
FOLHA - Qual foi sua reação quando contrataram o Ronaldo?
MANO - Incredulidade. Falei:
"Vocês estão de brincadeira".
Depois fui buscar informações
sobre ele, para saber se havia
chance de transformar o projeto em sucesso dentro de campo.
Era a minha parte.
FOLHA - Como foi a condução da
volta do Ronaldo ao gramado?
MANO - Tem duas partes esse
processo. A primeira foi que o
comando do clube deixou tudo
na mão da comissão técnica.
Ouvi muito que a direção e o
marketing iriam escalar o Ronaldo quando quisessem. Isso
nunca aconteceu. A outra parte
é técnica. Aí é preciso elogiar a
parte médica, de fisiologia, fisioterapia, preparação fisica.
Ele está muito perto do ideal.
FOLHA - No episódio de Presidente
Prudente (Ronaldo foi a uma boate e
chegou de manhã à concentração),
o Antônio Carlos (diretor de futebol)
foi demitido. Qual foi o seu papel?
MANO - Todo mundo atribui a
saída do Antônio Carlos a mim.
Mas ele ocupava um cargo superior ao meu. O que houve foi
um entendimento da direção
do clube sobre a postura que
deve ter um executivo. No futebol, um acontecimento isolado
nunca é responsável pela saída
de um profissional. Certamente já existiam outras coisas, que
eu não sei dizer quais.
FOLHA - Você já falou com ele [Antônio Carlos] depois disso?
MANO - Não. Não tive oportunidade. Mas, se encontrá-lo,
não vou ter dificuldade para
conversar com ele.
FOLHA - Andres Sanchez disse que,
enquanto for presidente do Corinthians, não vai permitir a sua saída.
MANO - Se eu fosse o presidente, com o Andres de treinador, e
em cinco campeonatos o meu
time tivesse chegado a quatro
finais e conquistado três títulos, eu não o deixaria sair.
FOLHA - Você vai ter um aumento
ao renovar o contrato?
MANO - [hesita] Eu ganho bem.
Estou feliz com minha remuneração. É normal, quando se
faz uma renovação de contrato,
ter uma valorização. Mas isso
não é o mais importante para
um técnico do meu nível.
FOLHA - Onde se vê em cinco anos?
MANO - Não sei. O Dunga falou
uma frase com a qual concordo
literalmente: "O futebol não
tem futuro". Me perguntam de
seleção, Europa, mas eu só penso em seguir no Corinthians.
FOLHA - Você não quer dirigir a seleção na Copa de 2014?
Mano - Ih! Esse cargo vai ser
muito disputado. Vou trabalhar
muito para estar entre os principais do país até lá. Dizem que
eu sou melhor técnico quando
jogo em casa. Então minha
chance aumenta [risos].
FOLHA - Como avalia o Dunga?
MANO - Muito bem. Embora
eu tenha me manifestado contra a escolha dele, que ainda
não era treinador quando assumiu a seleção. Ele foi chamado
para fazer dois trabalhos: retomar o sentimento de respeito
pela seleção e renovar o time.
Ele fez isso e trouxe resultados.
FOLHA - Ronaldo quer o filho dele
criado na Europa, para ter uma educação melhor. Você concorda?
MANO - Felizmente, o Ronaldo
tem essa opção para a educação
do filho dele. Eu tive, minha filha estudou na Inglaterra. Mas
respeito muito a condição do
brasileiro, acho que não se pode
desistir do Brasil.
FOLHA - O que você achou das brincadeiras com o Joel Santana?
MANO - Brasileiro adora criticar o brasileiro que sai de um
padrão considerado chique. O
Joel [técnico da África do Sul] é
uma grande personalidade. Se
o inglês dele não é maravilhoso,
ao menos ele tenta se comunicar. O trabalho dele é brilhante.
FOLHA - Você tem Twitter, site.
Técnico tem que ser marqueteiro?
MANO - Não acho que seja fundamental. Aceitei a sugestão da
minha filha, até para valorizar
determinadas situações, menosprezar outras, expor pensamentos. A resposta é boa. Tenho o cuidado de só falar ali o
que já tratei com a imprensa.
Não publico informação privilegiada no Twitter.
FOLHA - Como foi encontrar o Lula?
MANO - Nunca imaginei que o
encontraria. Me senti privilegiado. No futebol, isso é raro.
FOLHA - Você votou nele?
MANO - [hesita] Votei, duas vezes. Na eleição e na reeleição.
FOLHA - Como você o avalia?
MANO - Bom governo, que tem
possibilitado a descoberta de
aspectos que viviam escondidos. Todo mundo acha que a
corrupção nasceu agora. Mas
sempre existiu e está sendo colocada para que a sociedade
analise e avalie. E ele tem conseguido dar estabilidade econômica e melhorado a condição
de uma parte da população que
não tinha essa possibilidade.
FOLHA - Ele já lhe deu sugestões
para o Corinthians?
MANO - Não, não, nunca.
FOLHA - Nem você a ele?
MANO - Nunca. Talvez ele não
tenha falado sobre a minha
equipe para não permitir que
eu fale sobre o ministério dele.
Temos esse acordo implícito.
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