São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Paraolímpíada começa à sombra da burocracia

Sistema para agrupar atletas segundo grau de deficiência é confuso e polêmico

Na véspera dos Jogos de Pequim, brasileiro que ganhou 6 ouros em Atenas "sobe" de categoria e desiste de disputar várias provas


DA REPORTAGEM LOCAL

Antes e depois de competirem, os atletas paraolímpicos, que abrem hoje, às 9h, os Jogos de Pequim, precisam passar pelo que provavelmente é a maior burocracia do esporte mundial.
Com um confuso, e nem sempre confiável, sistema para classificar os atletas por prova de acordo com o grau de deficiência de cada um, o esporte paraolímpico é o paraíso dos formulários, de calhamaços com regras e procedimentos e de prazos para quase tudo.
Um convite para casos polêmicos, como o do nadador brasileiro Clodoaldo Silva, que foi reclassificado às vésperas da Paraolimpíada chinesa.
Destaque do Brasil nos Jogos de Atenas, em 2004, com seis ouros e uma prata, o nadador disse ter perdido a motivação para competir nesta edição.
"Só vou nadar os 50 m costas porque preciso participar de uma prova individual para disputar o revezamento. Acho que não vou passar nem da fase eliminatória", afirmou o brasileiro, após o Comitê Paraolímpico Internacional confirmar seu enquadramento em uma classe em que os atletas apresentam grau de deficiência menor.
O comitê conta com um código para o sistema de classificação que tem 82 páginas. Porém ele serve somente para definir as diretrizes básicas.
Cada modalidade -serão 20 em Pequim- tem suas próprias regras para definir a alocação dos atletas por deficiência.
O "Manual de Classificação da Natação", por exemplo, tem mais 85 páginas -e o próprio comitê diz que está sob revisão.
Tantas páginas para nem tanta minúcia na classificação.
Segundo essas regras, nenhuma avaliação individual para a classificação de um atleta paraolímpico pode demorar mais de uma hora.
Tempo é preciso para preencher os vários formulários do esporte para deficientes.
São muitos. Começam pelo qual o atleta pede sua classificação. Também existe o que serve para os interessados em protestar contra a alocação de outros atletas, como aquele que foi preenchido contra o brasileiro Clodoaldo -de autoria do comitê da França.
Existe formulário até para o nadador paraolímpico abrir mão do seu próprio direito de protestar a classificação atribuída a ele pelos médicos e especialistas da área.
Quase sempre, cada formulário precisa ser reproduzido várias vezes para ser distribuído a cada parte interessada, além da exigência da assinatura de atleta, médico e chefe de delegação de cada país.
Fora o preenchimento de tantos documentos, o atleta do esporte paraolímpico ainda precisa anexar laudos médicos e vários tipos de declarações -isso sempre em inglês.
Para cada tipo de protesto, é necessário o pagamento de uma taxa, que também varia de acordo com a modalidade.
O intrincado sistema de classificação do esporte paraolímpico segue deixando de fora os deficientes mentais dos Jogos.
Em 2001, depois de suspeitas generalizadas dos resultados dos Jogos de Sydney-2000, as competições envolvendo esses atletas foram congeladas no programa paraolímpico. Sete anos depois, nenhuma solução foi adotada, e o comitê diz que a responsabilidade é da INAS-FID, entidade que cuida do esporte para deficientes mentais.

NA TV - Cerimônia de abertura
Sportv 2, ao vivo, às 9h



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