São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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No adeus diante de 43.350 torcedores, Maracanã tem estreia na arquibancada, despedida de atleta e velhos problemas e responde com "Volto já"

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

O "até logo" ao Maracanã superou a má fase do Flamengo, a ausência do atacante Neymar e ajudou a levar bom público ao estádio em sua última partida antes do fechamento para as obras de adequação visando a Copa do Mundo de 2014.
Em 15º lugar no início da rodada e 14º agora, o atual campeão nacional tinha como atrativo para o torcedor o primeiro jogo do atacante Deivid, mas muitos presentes estavam mais preocupados em fazer a estreia de seus filhos no "velho Maracanã".
Um deles foi o auxiliar administrativo Vitor Pacheco, 30, que decidiu antecipar a primeira ida de seu filho, João Vitor, 8, ao maior estádio do Rio. Ele saiu de Conceição de Macabu, a 330 km do Rio, para assistir ao jogo.
"Eu queria trazê-lo logo, para não esperar mais de dois anos para ele vir. Mas temos também que ajudar o Flamengo quando precisa", declarou Pacheco.
Outros já conheceram o estádio em versões anteriores e decidiram se despedir mais uma vez. O engenheiro Márcio Coelho Peixoto, 44, lembrou como era o estádio na final do Brasileiro de 1983, quando o Flamengo venceu o Santos por 3 a 0.
"A arquibancada nem cadeiras tinha quando vim a primeira vez. As obras melhoraram, mas acho que pode melhorar ainda mais. A diferença é que eu vim mesmo porque o estádio está fechando, porque o time [do Flamengo] de hoje não é tão parecido com aquele [de 1983]."
Ele lamentou a ausência do atacante Neymar, do Santos. Diferente do filho Vinicius, 11, aliviado com menos uma ameaça ao seu time.
Na despedida, 43.350 torcedores foram ao Maracanã, sendo 34.897 pagantes e 8.453 convidados e beneficiados por lei que dá gratuidade na entrada para crianças e pessoas mais velhas.
O Maracanã ficará fechado até fim de 2012. As obras para adaptação para a Copa-2014 estão orçadas em R$ 705,6 milhões e serão executadas por consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Delta.
Mas não é a primeira vez que os torcedores ficam sem a sua "casa". Duas obras entre 1999 e 2007 já consumiram cerca de R$ 300 milhões, mas não o deixaram pronto para um Mundial de futebol.

LAMENTO
Não só a torcida mas também os atletas sentiam ontem melancolia. O meia Petkovic, do Flamengo, que começou na reserva, lamentava a possibilidade de não poder mais atuar no estádio -com 38 anos, ele deve encerrar a carreira em 2011.
"Poderia ter mais tempo para jogar, mas infelizmente tem que fechar para a obra. Vivi muitos momentos importantes aqui. Minha estreia [no estádio, pelo Flamengo] foi em 2000 contra o Santos, e a gente ganhou", disse ele, lembrado ainda pelo gol de falta aos 43min do segundo tempo da final do Estadual do Rio-2001 que deu o tricampeonato ao Flamengo.
Já o técnico dos Santos, Dorival Júnior, pontuou o adeus com uma cobrança. "Uma pena [ver o Maracanã fechado]. Quem viu viu. Vamos aguardar pelas reformas e pelas melhorias."

FILAS E FLANELINHAS
No entorno do estádio, os torcedores não sabiam, entretanto, se davam adeus aos clássicos problemas como os cambistas, as filas nas bilheterias e os flanelinhas. Além disso, tiveram que driblar as inúmeras placas de candidatos ligados ao Flamengo.
"Confinadas" na arquibancada -as cadeiras inferiores foram retiradas da lá há três semanas-, as torcidas rubro-negra e santista cantaram muito ontem.
Torcedor do Flamengo e do Santos -o primeiro, time da família, e o segundo, adotado em São Paulo, onde viveu na década de 70-, o aposentado José Maria de Medeiros, 57, veio do Rio Grande do Norte e lamentou o fechamento do palco da final da Copa do Mundo de 1950.
"Até o final do ano poderia funcionar só a arquibancada", disse ele, que torceu pelo Flamengo ontem.
O mesmo pensa o Fluminense, que recorreu ao STJD para manter a arena aberta. A CBF alega falta de segurança para fechar logo o estádio.
Ao final da partida sem gols, o placar eletrônico do Maracanã exibiu uma imagem típica de área em obras com a inscrição: "Volto já".


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