São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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Na Espanha, seleção adota "povo" apenas no discurso

Equipe ignora festa que reuniu milhares de brasileiros diante do hotel

ROBERTO DIAS
EM BARCELONA

"A gente é do povo", disse Robinho logo no primeiro dia de treino em Barcelona.
A frase do atacante não é despretensiosa nem isolada: repetida por outros atletas, a mensagem faz parte do plano da CBF para melhorar a imagem da seleção após a era de atritos do técnico Dunga.
Pois uma coincidência deixou ontem milhares de integrantes do "povo" bem diante do hotel onde está hospedada a seleção na Espanha.
A festa pela Independência do Brasil foi marcada para o Porto Olímpico de Barcelona, com oito horas de eventos que invadiram a noite.
Mas, a despeito da insistência da organização, a seleção ignorou a festa e manteve a rotina de sair do hotel uma vez ao dia para treinar.
Saída que provocou o único encontro com a torcida, por sinal inevitável: a altura do ônibus da seleção impedia sua entrada no estacionamento do hotel, o que obrigava os atletas a cruzar a calçada e a multidão que tinha se inteirado da presença deles.
Questionado pela Folha se os atletas poderiam participar da festa pela Independência do país a 8.500 quilômetros do Rio, o técnico Mano Menezes foi direto: "Não".
Os organizadores estimavam que mais de 5.000 pessoas passaram pela festa, promovida pela TV Record, emissora que é a principal concorrente da TV Globo, detentora dos direitos de transmissão dos jogos da seleção.
A estratégia de insistir no rótulo de "seleção do povo" não é nova: foi usada antes da Copa-2002, quando a equipe vinha da maior crise de sua história, após as CPIs que investigaram a CBF.
Em Nova Jersey, onde Mano comandou pela primeira vez a equipe, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, passou esse tema aos jogadores.
"Essa seleção vai ser completamente diferenciada das que já passaram e das que vão passar. Vocês vão ser depois de 60 anos a primeira seleção a fazer a Copa dentro do Brasil", disse Teixeira. "Que vocês consigam efetivamente se transformar na seleção do povo do Brasil."
No time, o recado foi muito bem entendido, a julgar pelo que dizem os atletas nas entrevistas em Barcelona.
"Estar ao lado dos torcedores ajuda", disse o meia Carlos Eduardo. "Quando o jogador dá uma atenção especial, o torcedor fica alegre", falou o meia Fernandinho.
Mas ontem nem todos os torcedores estavam tão felizes assim na festa. "Tinha que vir, sim, eles estão aqui", disse Carlos Santana, rondoniense que vive há seis anos em Barcelona. Receoso de tumulto, um conterrâneo discordava: "Não tem condição, não", declarou Gedeon Alves, há cinco anos na cidade.
O ritmo de trabalho em Barcelona decerto não seria empecilho para dar satisfação à torcida. Os jogadores fazem só um treino diário, à tarde. Segundo os relatos dos atletas, o time passa as demais horas do dia no hotel, descansando e conversando.


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