São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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Menos badalado pentacampeão faz 12ª partida pelo Arsenal, onde surpreende com futebol vistoso e gols

Mais um dia para Gilberto

SILVIO NAVARRO
DA FOLHA ONLINE

Em mais uma jornada, Gilberto Silva, 26 amanhã, dá continuidade a sua vida nova hoje no Arsenal. O menos badalado titular da seleção do pentacampeonato está escalado para a partida do milionário time de Londres contra o Sunderland, pelo Campeonato Inglês, em seu 12º jogo desde a final da Copa do Mundo contra a Alemanha, em junho.
Ocupando a vaga deixada pelo capitão Emerson, cortado, o volante foi uma das surpresas positivas do penta, ao lado de Kleberson. E o único a manter o brilho internacional após o triunfo.
Gilberto Silva também foi o único titular da família Scolari a ter o contrato superinflacionado -os ingleses pagaram US$ 7 milhões ao Atlético-MG- e se transferir para um clube de um porte muito maior que o do seu time anterior.
Em seu primeiro jogo, conquistou a Supercopa da Inglaterra, marcando o gol do título sobre o Liverpool (1 a 0), tradicional rival.
Na Copa dos Campeões, o campeonato interclubes mais difícil do planeta, fez o gol mais rápido da história -20s07 na goleada por 4 a 0 sobre o holandês PSV. E, na última quinta-feira, decretou a vitória sobre o atual campeão francês, o Auxerre (1 a 0).
Com ele em campo, o Arsenal ainda não perdeu. Foram dez vitórias e apenas um empate. Como consequência, a equipe é líder no nacional e no intercontinental.
O próprio técnico Arsene Wenger disse não esperar desempenho tão bom de Gilberto, como é chamado o brasileiro na Europa.
Alguns de seus companheiros são astros internacionais: os franceses Robert Pires e Thierry Henry, o inglês David Seaman, o sueco Freddie Ljungberg e o nigeriano Nwankwo Kanu.
O outro brasileiro do time é o ex-corintiano Edu, seu reserva imediato, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de técnico particular, já que o volante não entende praticamente nada de inglês.
"Ele tem sido um irmão. É ele que me ajuda a entender o que o treinador quer. Mas acho que também foi bom para ele, porque o Edu agora tem com quem conversar em português", afirma.
Elogiado pela regularidade e pelo ótimo passe, Gilberto Silva credita o bom desempenho ofensivo à liberdade no meio-campo. Segundo ele, Luiz Felipe Scolari o limitava apenas ao desarme.
"Estou jogando de maneira bem parecida à que jogava no Atlético-MG. Na seleção, eu ficava mais preso porque o Felipão pedia para dar proteção à zaga."
Mas o volante defende o futebol de resultado do treinador gaúcho. "Se o Felipão não continuar, espero que quem assumir dê continuidade ao trabalho que ele estava fazendo. Afinal, deu resultado."
Gilberto Silva ainda se vê atordoado com a repentina fama.
"Em um ano, minha vida se transformou. Todo brasileiro sonha em ir para a Europa, mas nunca tem a certeza de que as coisas vão dar certo. Para mim, está dando tudo certo", constata.
A mudança começou com a contusão no ombro de Emerson, em uma brincadeira no treino de reconhecimento do estádio da estréia na Copa Coréia/Japão.
"É lógico que não queria ser só um passageiro na seleção, mas sabia que o Felipão tinha chamado grandes nomes. Todo mundo ficou triste com o corte do Emerson, que era um líder e o capitão. Infelizmente, ou felizmente para mim, o futebol é isso. A oportunidade vem em uma situação dessas. Tentei fazer o possível para ganhar a confiança do treinador e acho que fui bem."
Mas a realização do sonho também trouxe dificuldades. "Não estou totalmente adaptado. Às vezes, é bem difícil se virar."
Gilberto se refere à língua e à alimentação. "Hoje estou conseguindo entender alguma coisa, mas no início era impossível. A comida fica a desejar, não é a mineira. Tento nem lembrar, porque sei que há coisas que não vou ter aqui, feijoada e churrasco. Também tenho saudade do meu filho, que vai fazer um ano."



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