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SURFE
Filho de libaneses, Jihad Khodr, 21, precisa de um 25º lugar em duas etapas da segunda divisão para alcançar o feito
Brasileiro deve ser 1º muçulmano na elite
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS
Jihad. O nome forte impressiona e desperta curiosidade. A ligação improvável com um esporte
como o surfe também.
Mas, a partir de 2006, essa combinação deve aparecer pela primeira vez na elite do esporte. Sob
a bandeira do Brasil. Jihad Khodr,
brasileiro, 21, filho de libaneses,
está prestes a se tornar o primeiro
muçulmano a disputar o WCT,
divisão principal do surfe.
Para isso, precisa do 25º lugar
em uma das duas últimas etapas
havaianas do WQS, classificatório
do WCT, para não depender dos
resultados dos adversários. Seria
seu pior desempenho no ano.
"É um sonho realizado. Ainda
não caiu a ficha. Só tenho de agradecer muito", afirma Jihad, que
compete pela primeira vez na elite, como convidado, em Florianópolis. Ele deve disputar hoje a repescagem, em Imbituba. Ontem,
o torneio foi adiado pelo quarto
dia consecutivo.
O paranaense de Matinhos começou a surfar aos 12 anos, escondido da família, que não via com
bons olhos os surfistas. Tornou-se
profissional aos 16, com a ajuda
do conterrâneo Peterson Rosa.
A precocidade fez Jihad se aventurar cedo em ondas fora do Brasil. Aprendeu inglês, hoje fluente,
e fez amigos pelo mundo.
O fato de ser muçulmano sempre chamou atenção, mas nunca
havia lhe rendido problemas até
os atentados do 11 de Setembro.
Em 2002, Jihad, que ostentava
cabelos e barba longos, foi barrado na entrada nos EUA. Gastou
mais de seis horas para ser liberado. O visual que lhe causou problemas rendeu o apelido de Bin
Laden, dado por amigos do tour.
A brincadeira virou inspiração
para o vídeo que Jihad quer gravar com suas manobras. A idéia é
filmar o surfista nas pouco comentadas ondas de Nova York.
Se a religião não atrapalha seu
surfe, o mesmo não ocorre na
mão contrária. Por causa do estilo
de vida, Jihad não segue estritamente o islamismo. Autodefine-se como "muçulmano light" e até
consome cerveja às vezes.
Sua relação com o assunto não é
muito diferente da mantida por
seus companheiros do circuito.
O único grupo que usa o esporte
também para difundir idéias é o
dos "Surfistas de Cristo", movimento semelhante ao do futebol.
"A gente viaja muito, tem de
competir, fica complicado. Mas
todos que acreditam em alguma
coisa têm sua hora de agradecer,
de pedir proteção. Eu agradeço a
Deus todos os dias", diz Jihad.
Seu nome, que quer dizer "esforço" e tem conotação de "guerra santa". O lado do guerreiro inspirou seu batismo e sua atuação
neste ano. Mas ironicamente, o
surfista teve de aprender a batalhar para alcançar a elite.
"As pessoas dizem que eu sou
muito artista. Ficava esperando a
onda perfeita e morria sentado na
prancha. Se não surfo bem, fico
chateado, mesmo se ganho."
No WQS, o perfeccionismo de
Jihad atrapalha. Boa parte do circuito é disputado em ondas pequenas, nem sempre em boas
condições. Além disso, a quantidade de atletas é grande. Por isso,
quanto mais vezes o surfista se
apresentar, mais chances terá.
A situação é diferente da do
WCT, em que é mais fácil ter atuações de gala -as ondas são geralmente as melhores do mundo.
"Amadureci muito. Aprendi a
ser mais competitivo. Isso será
importante agora", completa.
A jornalista Mariana Lajolo viaja a convite
da Associação dos Surfistas Profissionais
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