Rebeca Gusmão é afastada preventivamente e pode fazer Brasil perder os únicos ouros da natação feminina nos Jogos

Exame acusa alto nível de testosterona, hormônio com ação anabolizante, e ameaça presença da atleta na Olimpíada de Pequim-08

Cezaro de Luca - 22.jul.2007/EFE

Rebeca Gusmão após disputar prova no Pan do Rio, em julho

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O vôo da delegação brasileira que irá disputar a etapa de Moscou da Copa do Mundo de natação no fim de semana partiu ontem do aeroporto de Guarulhos com uma poltrona vazia.
A nadadora Rebeca Gusmão, 23, cujo apelido é "Gigante", em alusão à sua musculatura avantajada, foi desligada da equipe após a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) ser notificada de que ela tivera antidoping positivo em teste fora de competição feito em 13 de julho, data de abertura do Pan. Cinco dias depois, ela obteve o primeiro ouro da natação feminina do país em Pans.
Segundo a Fina (Federação Internacional de Natação), que fez o teste, foi encontrado alto nível de testosterona, hormônio que possui efeito anabolizante na musculatura. De acordo com o documento, a droga possui origem exógena (não foi produzida pelo organismo).
Ontem, Rebeca foi à sede da CBDA, no Rio, tentando esclarecer o caso. Suspensa preventivamente desde sexta-feira, ela pedirá a realização do teste da amostra B pelo Institute Armand Frappier, do Canadá.
Rebeca pode receber dois anos de suspensão, o que a tiraria da Olimpíada de Pequim.
Além disso, ela ainda pode perder as quatro medalhas que amealhou no Pan do Rio. Isso não alteraria a posição do Brasil no quadro de medalhas. Porém a natação perderia dois ouros, uma prata e um bronze, colocando o atletismo isolado de novo na ponta como o esporte que deu mais deu pódios ao país em Pans: 137. A natação hoje possui o mesmo número.
"É muito difícil reverter esse quadro. Fico triste se perder essas medalhas, mas vou fazer o quê?", questionou Coaracy Nunes, presidente da CBDA.
Rebeca já tivera um teste, em 2006, que apontou alto nível de testosterona. Desde então, o caso vem sendo discutido pelas entidades responsáveis.
O caso desperta mais controvérsia a respeito de Rebeca. Durante o Pan, por exemplo, antes mesmo de ser questionada ela colocou o assunto em pauta logo após a primeira medalha.
"O maior doping que existe é estar apaixonada. Quando você fica assim, pode até treinar mal, mas vai bem na competição", disse, referindo-se ao casamento com Gutenberg do Amaral.
Nenhuma nadadora brasileira, porém, ganhou tanta massa muscular entre um Pan e outro. Em Santo Domingo-03, quando não passou de um bronze no 4 x 100 m livre, Rebeca tinha 66 kg distribuídos em 1,77 m. Quatro anos depois, a nadadora havia crescido um centímetro, mas seu peso subira para 82 kg.
Mesmo com um corpo musculoso, Rebeca, que é asmática, tem demonstrado fragilidade física. Ainda no Pan, sofreu crise respiratória após o 4 x 100 m.
Em setembro, depois de vencer os 50 m livre do Troféu José Finkel, a brasiliense desmaiou fora da piscina, com falta de ar.
Há duas semanas, a atleta voltou a passar mal. Dessa vez, o mal-estar ocorreu durante a disputa dos Jogos Abertos do Interior, em Praia Grande (SP).


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