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SONINHA
A "porcaria" de sempre
Todo ano o Brasileiro é
"o mais fraco dos últimos tempos". Mas até a Copa viu mais jogos ruins do que bons...
QUANDO será que foi a última
vez que gostamos do "nível
técnico" do futebol brasileiro? Entra ano, sai ano e passamos a
temporada resmungando, nostálgicos, que o Brasileiro é "fraco", por
mil motivos. Porque desde 82 os técnicos são covardes e armam retrancas pensando só em não perder, tolhendo os atletas; porque imitamos
o estilo europeu que não tem nada a
ver com o nosso; porque "jogador
brasileiro é indisciplinado taticamente". Porque a parte física se tornou preponderante, os jogos são só
correria, e os atletas parecem robôs.
Porque são times demais, e o desequilíbrio é enorme -os Estaduais
criam ilusão de eficiência e competitividade que faz com que os grandes
se acomodem. O país tem dimensões continentais, e as viagens são
cansativas; tabelas e regulamentos
são malfeitos, e os times jogam partidas em excesso, sem tempo para
treinar e recuperar os atletas -fora
a falta de férias e pré-temporada.
Porque a seleção tira dos clubes
seus melhores jogadores.
Porque os gramados são horríveis.
Porque os cartolas são incompetentes, e os times não contam com
base estável e um trabalho a médio e
longo prazo; os dirigentes fazem
contratações milionárias sem planejamento, ou invocam o princípio
do "bom e barato" para justificar a
mediocridade de suas escolhas; demitem os técnicos ao primeiro tropeço para mascarar a própria incompetência.
Porque os árbitros são muito
ruins e não coíbem a violência.
Porque não há acesso e descenso
para impelir os times a dar "tudo de
si"; porque há sempre manobra de
bastidor para virar a mesa e impedir
o naufrágio dos mais prestigiados.
Porque nossos craques não têm
qualquer identificação com os clubes e logo vão embora; porque não
surgem revelações como antigamente, e os talentos que aparecem já
vêm "com defeito" (o pragmatismo
de escolinha, em vez da criatividade
atrevida de outrora; além disso, pensam que a habilidade substitui o esforço e não aprimoram a parte técnica; estouram muito rápido e o sucesso vira a cabeça...). Porque a base dos
clubes é entregue a pessoas sem preparo, e os meninos mal aprendem os
fundamentos. Porque só se dá bem
quem tem bom padrinho. Porque
quem manda são os empresários.
Porque a mídia sempre se precipita, exaltando jogadores promissores
e os destruindo ao primeiro erro.
Etc. etc. etc.
Por isso tudo, dizíamos, é que o
São Caetano foi tão bem-sucedido
por alguns anos; que o Brasileiro teve como artilheiros o Dill e o Dimba,
que não chegam a ser craques, e um
Romário à beira da aposentadoria;
que o público diminui a cada ano.
Por isso é que nos deslumbramos
com jogadores comuns ou "apenas
muito bons" como Kaká e Diego.
Alguns argumentos perderam a
validade de forma incontestável: o
calendário melhorou e ninguém
mais joga três vezes por semana; vários grandes já foram rebaixados...
Mas a má impressão persiste, apesar de bons jogadores nos diversos
clubes e muitas partidas vibrantes,
disputadas, de ótima qualidade.
Ora, a Copa do Mundo tem jogos
ruins... O Brasileiro dos bons tempos tinha times e jogos feios. O de
hoje tem fraquezas, claro -mas
também tem qualidades.
soninha.folha@uol.com.br
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