São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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SONINHA

A "porcaria" de sempre

Todo ano o Brasileiro é "o mais fraco dos últimos tempos". Mas até a Copa viu mais jogos ruins do que bons...

QUANDO será que foi a última vez que gostamos do "nível técnico" do futebol brasileiro? Entra ano, sai ano e passamos a temporada resmungando, nostálgicos, que o Brasileiro é "fraco", por mil motivos. Porque desde 82 os técnicos são covardes e armam retrancas pensando só em não perder, tolhendo os atletas; porque imitamos o estilo europeu que não tem nada a ver com o nosso; porque "jogador brasileiro é indisciplinado taticamente". Porque a parte física se tornou preponderante, os jogos são só correria, e os atletas parecem robôs.
Porque são times demais, e o desequilíbrio é enorme -os Estaduais criam ilusão de eficiência e competitividade que faz com que os grandes se acomodem. O país tem dimensões continentais, e as viagens são cansativas; tabelas e regulamentos são malfeitos, e os times jogam partidas em excesso, sem tempo para treinar e recuperar os atletas -fora a falta de férias e pré-temporada.
Porque a seleção tira dos clubes seus melhores jogadores. Porque os gramados são horríveis.
Porque os cartolas são incompetentes, e os times não contam com base estável e um trabalho a médio e longo prazo; os dirigentes fazem contratações milionárias sem planejamento, ou invocam o princípio do "bom e barato" para justificar a mediocridade de suas escolhas; demitem os técnicos ao primeiro tropeço para mascarar a própria incompetência.
Porque os árbitros são muito ruins e não coíbem a violência.
Porque não há acesso e descenso para impelir os times a dar "tudo de si"; porque há sempre manobra de bastidor para virar a mesa e impedir o naufrágio dos mais prestigiados.
Porque nossos craques não têm qualquer identificação com os clubes e logo vão embora; porque não surgem revelações como antigamente, e os talentos que aparecem já vêm "com defeito" (o pragmatismo de escolinha, em vez da criatividade atrevida de outrora; além disso, pensam que a habilidade substitui o esforço e não aprimoram a parte técnica; estouram muito rápido e o sucesso vira a cabeça...). Porque a base dos clubes é entregue a pessoas sem preparo, e os meninos mal aprendem os fundamentos. Porque só se dá bem quem tem bom padrinho. Porque quem manda são os empresários.
Porque a mídia sempre se precipita, exaltando jogadores promissores e os destruindo ao primeiro erro. Etc. etc. etc.
Por isso tudo, dizíamos, é que o São Caetano foi tão bem-sucedido por alguns anos; que o Brasileiro teve como artilheiros o Dill e o Dimba, que não chegam a ser craques, e um Romário à beira da aposentadoria; que o público diminui a cada ano.
Por isso é que nos deslumbramos com jogadores comuns ou "apenas muito bons" como Kaká e Diego. Alguns argumentos perderam a validade de forma incontestável: o calendário melhorou e ninguém mais joga três vezes por semana; vários grandes já foram rebaixados...
Mas a má impressão persiste, apesar de bons jogadores nos diversos clubes e muitas partidas vibrantes, disputadas, de ótima qualidade.
Ora, a Copa do Mundo tem jogos ruins... O Brasileiro dos bons tempos tinha times e jogos feios. O de hoje tem fraquezas, claro -mas também tem qualidades.


soninha.folha@uol.com.br

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